Um beijo seu

Viagem em família


As luzes n’A Toca já estavam todas apagadas e as garotas entraram em silencio para não chamarem a atenção. Hermione desejou boa noite as garotas e dirigiu-se rapidamente, mas ainda silenciosamente, para o sótão. Espantou-se ao entrar e ver Ron ainda acordado, esparramado na cama com uma cara que ela não sabia identificar. Ao ver a amiga, Ron saltou da cama tão rápido como se esta o tivesse cuspido por conta própria.

— Há, eu... Me desculpe...
— Ainda acordado? – disse ingnorando as explicações infundadas de Ron.
— É, pois é... Como foi seu dia?
— Ótimo. – disse sentando-se na cama e tirando os sapatos. – Me sinto exausta. Como foi o seu?
— Bom, legal... apenas fomos fazer coisas de... Garotos. Nada muito radical. Gina... sabe como é.
— Ah sei, ela mataria vocês.

Ron soltou um risinho, pensando no que a irmã não faria com ele, caso levasse Harry para o mal caminho.
— Se sente melhor?
— O que? – perguntou ele sem entender.
— Suas costas...
— Ah, sim... Otimo. Quase não sinto dor.
— Sabe... – começou Hermione, corando. – Pode dormir na cama, se quiser. Bom, ela é grande o suficiente pra confortar nós dois e...
— Não precisa Mione... – disse Ron, querendo dizer exatamente o contrario disso, mas apenas querendo ser gentil. – Já disse, quase nem sinto dor.

— Não tem problema Ron, sério. E eu não quero ser responsável por você ir ao casamento da sua irmã em uma cadeira de rodas. Bom, eu vou tomar banho... O lado direito é meu, já me acostumei com ele.

Hermione tomou o famoso “banho de gato”, apenas para tirar o suor e cheiro de cigarro, bebida e garotos tarados do corpo. Ao retornar ao quarto, viu Ron deitado ao lado esquerdo da cama, ocupando um espaço tão pequeno que um suspiro mais profundo de Hermione o levaria direto para o chão.

— Essa é uma forma mais delicada de me chamar de gorda, Ronald? – perguntou, fingindo-se de ofendida. Sentou-se ao lado direito da cama, passando a toalha nos cabelos umdecidos com o vapor de agua quente. – Eu não preciso de todo esse espaço.

— Eu só... não quero te incomodar.
— É a SUA casa, Ron. Não seja tonto.

Hermione levantou-se para pendurar a toalha em um roupeiro que havia próximo ao pequeno guarda-roupas e logo voltou-se para se deitar.

— Ronald. – chamou ao ver que o amigo permanecia na mesma posição.
— Só estava esperando você se acomodar.

Hermione deitou-se e cobriu-se apenas até a cintura, pois a noite estava bem abafada. Ficou olhando para o teto, mas pode ver que Ron se ajeitara um pouco, mas ainda ocupando um espaço mínimo na cama. Resolveu deixar. Suspirou e ficou uns bons minutos olhando para o teto branco como se ele fosse muito interessante.

— Tia Elinor sempre me dizia – começou Hermione tentando quebrar o silencio. – que "Se voce escolhe um lado da cama para dormir é porque espera que, algum dia, alguem ocupe o outro lado".

Ela nem ao menos soube o porque de estar dizendo aquilo para ele. Era uma historia sem fundamento contada por sua tia-avó viúva quando ela tinha apenas 15 anos.

Ron passou um tempo processando aquilo que a amiga acabara de lhe dizer e ela chegou a pensar que talvez o tedio do assunto tivesse feito o amigo dormir, mas não quis olha-lo para se certificar. Um longo suspiro de Ron fez ela perceber que ele ainda não dormia.

— Você... Pensa assim? – perguntou.
— Eu?... Bom, sabe... Não fico pensando nisso todas as vezes que me deito, seria uma atitude de mulher desequilibrada e desesperada... O que definitivamente, eu não sou... – enfatizou. – Mas... Ainda assim, continuo sendo mulher não é? É inevitável algumas vezes não se perguntar se um dia teremos alguém do outro lado.

Ron riu pelo nariz, deixando-a nervosa.

— O que eu tinha na cabeça para ficar te contando isso. Voce nunca leva nada a sério.

Ron virou-se para olha-lha pela primeira vez, desde que se deitaram.

— Não estou rindo de você. – justificou-se. – Apenas acho engraçado a forma como vocês mulheres encaram tudo. Voces são mais inteligentes, mais maduras e são melhores do que nós em 90% do que fazem. Por que sempre procuram por um cara?

— Por mais que alguém saiba viver perfeitamente bem sem ninguém por perto, ninguém é feliz sendo totalmente sozinho.

— É o que eu sempre digo. É por isso que eu sempre estou com uma companhia diferente...

Hermione virou-se bruscamente de lado, dando as costas para o amigo que percebera que ela ficara ainda mais irritada.

— Mas... – continuou ele. – Bom, claro que as vezes também pensamos esse tipo de.... Coisa.

— Quando já passaram dos 50 anos e não existem mais nenhuma mulher na terra com quem vocês já não tenham dormido? – perguntou agressiva.

— Ora, veja o Harry... Ele não tem 50 anos, e no intanto só ha uma coisa em que ele pensa ao se deitar nos últimos 10 anos.

— Gina deve ser a única mulher viva com sorte então.

— É isso que vocês tanto procuram então? Um homem que pensa 24hrs em casamento?

— Um homem que nos queira por mais de uma noite, Ronald.

Ouve uma pausa em que Ron estudava cuidadosamente o que dizer, para não ser expulso da cama a pauladas, chutes e pontapés.

— Você não é o tipo de garota que se deseja só por uma noite, Hermione.

Ela sentiu seu estomago despencar e perguntou-se se aquilo era possível, mesmo estando deitada. Os pelos de sua nuca e costas se erissaram como se ela tivesse acabado de dar uma lambida em um limão azedo e congelado.

— E o que isso quer dizer? – Perguntou ainda sem se atrever a encarar o amigo, contradizendo tudo que havia dito a si mesma mais cedo, sobre não levar em conta os constrangimentos bobos.

— Bom, há mulheres e mulheres.
— Otima explicação.
— Ah aquelas com quem não se da pra passar mais do que uma noite, e bêbado. – disse rindo, ignorando a irritação da amiga. – É como a Lilá. É o tipo de garota que se permite esse tipo de vida, elas não se afeiçoam a você. Só querem se divertir, mas grudam feito chiclete algumas vezes. E há aquelas – disse agora em um tom sério. – que por mais que a gente se divirta, sempre pensamos nelas como alguém pra passar a vida inteira.

— Voce... Pensa em alguém? – perguntou Hermione sentindo uma ansiedade repentina.

Ron ficou mais uma vez em um longo silencio que fez Hermione se perguntar se desta vez ele não tinha mesmo dormido.

— Ron?
— Voce pensa? – ele perguntou fugindo da resposta.
— Eu perguntei primeiro. – disse sem conseguir conter o riso.
Ron se calou novamente, aumentando a ansiedade de Hermione.
— Obrigada... Por me deixar dormir aqui. Acho que minhas costas não suportaria um dia mais...
— Ron?...
— Boa noite, Mione.

Ela suspirou. Talvez ele não se sentisse a vontade o suficiente para lhe dizer, ou talvez ele nem houvesse nada para contar. Ela não encontrou outra saída, a não ser aceitar o final da conversa. Mas sabia que sua curiosidade não permitiria isso por tanto tempo.

— Boa noite, Ron.

Hermione acordou na manhã seguinte sentindo a perna esquerda formigar, devido ao peso contido sobre ela. Ron jogara uma de suas pernas sobre a dela, violando totalmente o limite de espaço dele na cama. Hermione tirou sua perna debaixo da perna pesada do amigo, e começou a massagea-la e dar leves soquinhos como se quisesse faze-la voltar a vida. Ron soltou um leve resmungo e se esparramou um pouco mais na cama, fazendo Hermione rir ao se lembrar do quão acanhado ele estava na noite anterior, ao se deitar. Ela tencionou se levantar, mas era impedida por uma força maior. Sentia-se como uma tartaruguinha com casco pra baixo, esforçando-se para se levantar mas sem obter nenhum sucesso nisso. Ajustou-se então no pequeno espaço de cama que ainda lhe restara, deitando-se de frente para o amigo estudando cada centímetro de seu rosto, cada sarda que lhe era invisível a uma distancia maior. Aproximou-se um pouco mais como se quisesse conta-las e pode sentir a respiração lenta e tranquila de Ron e algo naquilo estava deixando-a completamente tonta, mas ela continuou ali, naquela curta distancia. Os olhos se fecharam por conta própria, fazendo-a se questionar porque diabo seu corpo agora agia sem a autorização de seu cérebro? Foi impedida de se responder quando o cheiro do amigo lhe invadio as narinas. Ele tinha um cheiro bom, diferente. Ela conhecia de longe o perfume de Ron, ela mesma o presenteara varias vezes com frascos de sua frangrancia favorita. Mas esse era um cheiro deferente. Era cheiro de Ron.

— ‘Dia.

Hermione arregalou os olhos se deparando com os olhos azuis de Ron, olhando para ela e, soltando um pequeno gritinho agudo que mais parecia um miado, afastou-se tão rápido de Ron que por centímetros não caiu da cama.

— Droga Ronald, você me assustou. – disse, tentando esconder o rosto corado. Ron riu.

— Acho que não obedecemos muito bem aos limites de espaço.

— Foi VOCE quem invadio o meu espaço primeiro. – disse mais agressiva do que tencionava como se a culpa fosse toda dele. – Voce praticamente rolou em cima de mim.

— Dormiu bem? – perguntou, deixando-a irritada com sua mania de mudar repentinamente de assunto.

— Voce ouviu o que eu disse?
— Por que é que você esta nervosa a essa hora da manhã, Mione?
— Porque você sempre desconversa.

— Okay. – disse tentando segurar o riso. – Vamos conversar sobre sua indisciplina de desrespeitar o meu espaço e atravessar a linha de fogo para dormir grudada em mim... O que é que você estava fazendo, afinal?

Hermione tirou o travesseiro de baixo de sua cabeça e atirou contra o amigo.

— Seu idiota. Eu estava... Eu estava dormindo, foi sem querer.
— E porque você sorri enquanto dorme? – perguntou, gostando de ve-la irritada
— Seu pateta.

Ela sentiu o rosto queimar e levantou-se rápido, sem se atrever a olha-lo.

— Eu vou descer para tomar café. Vê se não fica aí enrolando aí. Gina disse que iremos hoje a tarde para Pembrokeshire.

Saiu pisando forte no chão como uma criança birrenta, batento a porta em suas costas. Ron apenas sorriu, pegando o travesseiro que Hermione tacara nele minutos atrás, inalando o cheiro de madressilva impregnado ali.

Na tarde daquele 30 de Julho, véspera do aniversário de Harry, a família Weasley inteira, junto com Harry e Hermione, estavam a bordo de uma balsa trafegando pelo Thames River. Seria muito mais pratico e rápido uma viagem de trem ou avião, mas Gina achava que atravessar a cidade em uma balsa, tornava tudo mais emocionante. A balsa não era de todo grande, mas tinha um tamanho suficiente para Fred e Jorge perderem três ou quatro vezes seus filhos de vista, em seus milhares momentos de distração.

Para Hermione, o inicio da viagem estava sendo completamente tenso. Tentava a todo o momento manter a maior distancia possível de Ron, ora aventurando-se a ler um livro ou apenas se escondendo entre as conversas com Sra. Prewett. Por sorte, todos estavam tão empolgados com a vista que tinham de toda a cidade, que mal perceberam a tensão entre Ron e Hermione. Em um dos momentos em que conversava, ou fingia conversar, com Gina e a sra. Prewett que comentavam como era linda a vista de Southend, Hermione apenas lhes pediu licença fingindo se sentir mal com o balanço da balsa, ignorando o olhar penetrante de Norallie.

Nunca havia visto as cidades britânicas daquela percepção e aquilo era a única coisa que lhe confortava no momento. Pensava no ocorrido com Ron a horas atrás e no quase beijo de alguns dias. Nunca, em seis anos de amizade, havia estado tão próximo de beijar o seu melhor amigo, como estivera na ultima semana.

Desceu a escada lateral, rumando em direção à popa, vendo Southend se distanciando cada vez mais. Ficou ali por dez minutos apenas admirando, quando sentiu uma presença a suas costas. Ron, que até pouco tempo atrás tentava se distrair com uma partida de xadrez contra seus sobrinhos mais novos, fora atraído pelo cheiro que mais gostava. Madressilvas. Ele sentiu o corpo gelar quando Hermione virou-se para encara-lo.

— Oi. – disse Hermione em um tom quase inaldivel. Não usava maquiagem, o que fez Ron perceber que o tom avermelhado nas bochechas, era natural. O ventou lhe batia contra os cabelos, e ele não pode deixar de notar no quanto a silhueta da amiga era ressaltada com a blusa colada ao corpo. O vento estava a seu favor, pensou ele.

— Oi. – pois-se ao lado da garota, admirando a mesma paisagem que ela admirava antes de sua chegada. – É uma vista linda, não é?

— Sim, é. – queria se sentir menos envergonhada, mas aquilo lhe parecia impossível. Sentia-se nervosa, mas não pelo que poderia ter acontecido entre eles e sim pelo significado que aquilo poderia ter.

— Mione... A gente tem que conversar. – disse Ron, passando uma das mãos pelo cabelo, uma atitude que Hermione conhecia como nervosismo. – Eu não sei exatamente o que devo dizer, até porque tecnicamente não aconteceu nada. Mas... esse "nada" está nos distanciando, e eu não gosto disso.

— Eu também não gosto, Ron. – ela virou-se para olha-lo. Ele mantinha as duas mãos nos bolsos da calça e sustentava um olhar sério. Era bonito, ela sabia disso, mas ela parecia ver isso com mais clareza agora.

— Voce ia me beijar na outra noite, se Gina não tivesse chegado? – a pergunta foi tão direta, que Hermione sentiu seu estomago revirar.

— VOCÊ ia me beijar? – ela devolveu a pergunta.

Ele exitou responder por um momento.

— Sim, ia. – suspirou. – Não me pergunte porque, eu não saberia explicar, mas... Aquilo me parecia natural, no momento...
— Ron, eu não quero estragar a nossa amizade por uma confusão de ideias. – ela disse o que realmente lhe preocupava.
— Eu também não quero que isso aconteça. – ele a puxou para um abraço, apoiando o queixo no topo da cabeça da amiga. Acariciou-lhe os cabelos fazendo o odor de madressilvas lhe entorpecer. – Acha que... poderia ter mudado as coisas se tivesse me beijado?
— Eu... Eu não sei. Voce acha? – ela sentiu as pernas vacilarem e agradeceu mentalmente por Ron estar lhe segurando.
— Eu não sei. E-eu estive pensando... Talvez se nos beijássemos, p-poderiamos clarear as coisas... – ele disse sentindo-se um pouco incomodado, mas atrevendo-se a se afastar para olha-la. Hermione o encarou.

— O que? ... Quer dizer, ta falando sério? – procurou nos olhos de Ron algum indicio de deboche, mas não encontrou nenhum.

— Eu não gosto de me sentir tão distante de você assim, Hermione. Você é importante pra mim, eu não quero perder você por algo que nem aconteceu. Não somos crianças.

Hermione suspirou. Sabia que aquilo tudo era mais culpa dela do que dele. Sempre julgou Ron por ser sempre tão infantil, mas no momento a imatura era ela.

— Tem razão, mas... Tem certeza disso?

— É o único jeito de tirar as duvidas e voltarmos a ser como antes. – Ele falava muito sério. – Não gosto de sentir você tão longe de mim como voce esta. Nos não somos assim. Você é minha melhor amiga, e eu quero resgatar você antes de te perder totalmente.

— Os melhores amigos, nunca se perdem. Voce ainda vai me aguentar muito, Weasley. – ela deu um leve sorriso e ajeitou os cabelos. – Vamos acabar logo com isso.

— Agora? – Ron deu um passo para tras, corando. Não esperava que ela fosse concordar com a ideia.

— Sim, anda. Ron, temos que fingir um namoro, o casamento está chegando. Quanto mais cedo fizermos, menos confusos ficaremos, e mais facil será o fingimento.

— Okay, está bem... Se você quer. – Ron passou o braço pela cintura de Hermione, trazendo-a para mais perto dele. Sentiu todo seu corpo reagir com o que estava prestes a fazer.

— Nos dois queremos. – sua voz já se perdia com a proximidade de Ron. O vento batia, trazendo aquele cheiro de Ron direto em sua direção. Ron acariciou-lhe a bochecha que a esta altura ela imaginou ter ficado vermelho-sangue, conforme via o garoto se aproximar.

— Nós dois queremos. – repetiu em um sussurro. Beijo-lhe primeiro a ponta do nariz, antes de ir em direção aos lábios rosados que lhe lembrava cerejas. Hermione fechou os olhos, mas Ron os manteve aberto, intensificando a proximidade. Quebrou a pequena distancia grudando os lábios nos de Hermione, que estremeceram levemente com o toque. De inicio foi apenas aquilo, os lábios da garota estavam rígidos mas nenhum dos dois atreveu a se afastar. Ron tomou a liberdade de mover os lábios, como se quisesse dizer a Hermione que aquilo não tinha nada demais, e para o seu alivio, os lábios dela cederam e se tornaram macios. Ficaram em um movimento de lábios limitados por um curto tempo, assim que Ron sentiu os braços da amiga lhe envolverem o pescoço, sentiu seu corpo todo lhe implorar por mais contato. Para seu alivio, o corpo de Hermione parecia lhe pedir o mesmo e foi ela quem intensificou o beijo. Deu permição para seus dedos se perderem entre os cabelos ruivos de Ron. Sentiu seu coração falhar umas cinco batidas ao sentir o amigo envolver a língua na sua e mal pode conter um suspiro mais profundo. Xingou mentalmente por seu corpo ser tão incapaz de armazenar uma quantidade maior de ar, e foi obrigada a se separar de Ron, quando este lhe faltou.

Hermione precisou de mais alguns segundos para que seu cérebro pudesse ao menos se lembrar de seu nome, mas tudo que ele parecia lembrar eram de coisas que dissessem respeito a Ron. Cheiro de Ron, gosto de Ron, gosto de menta com Ron. Tentou dizer alguma coisa produtiva por uma ou duas vezes, mas ao abrir a boca, nenhum som saia.

— Sentiu alguma coisa? – Perguntou Ron, parecendo meio aéreo.

Hermione ainda aguardou mais alguns segundos, precisava daquilo.

— Não... Não, eu... Não senti nada. E você? – ela sabia estar totalmente corada e rezava mentalmente para que houvesse uma rajada de vento forte para aliviar a vermelhidão. Sabia que Ron ainda a olhava, mas nem sonhou em retribuir o olhar.

— Não... Também não. – Hermione temeu aquela resposta, mas o que mais a intrigou foi o fato de não conseguir identificar o tom na voz de Ron.

— Bom, então... Acho que nos preocupamos por nada... Que b-bom que.... Esclarecemos.– disse ela sem muita certeza.

— É... – disse Ron desviando o olhar dela e apoiando-se na grade para olhar a paisagem que ia se afastando, sem estar realmente prestando atenção nela. Não disse mais nada com receio de que algo lhe denunciasse. Hermione ficou ali, ao lado, sem dizer nada, apenas olhando o céu alaranjar e o sol dar lugar a lua.

Eram onze da noite quando chegaram ao casarão que Gina e Harry haviam alugado para o casamento. Havia uma casa enorme e o caminho da areia até a porta era de pequenos tijolinhos margeados por flores de todas as cores. A fachada era toda em pedra, dando um visual antigo ao local. Era como um pequeno castelo a beiramar. As crianças foram as primeiras a entrarem correndo pela enorme sala que havia na casa. O sr. Weasley carregava as malas da sra. Prewett enquanto Molly ajudava a mãe a subir até o quarto. Harry e Gina optaram por um passeio pela praia e em menos de 5 minutos após a chegada, Ron e Hermione se viram sozinhos.

— Bom, eu acho melhor levarmos as nossas coisas para o nosso quarto. – disse Ron pegando suas malas e as de Hermione, erguendo-as com dificuldade.

— Espera, NOSSO quarto?

— Voce não achou que dormiríamos separados depois de três noites “juntos” n’A Toca, não é?

Ela nada respondeu, apenas pegou o restante de suas malas que Ron não conseguia carregar, devido a grande quantidade de bagagens que este carregava debaixo dos braços, e seguiu o amigo para o quarto que mais uma vez dividiriam. Consientemente ela já esperava por aquilo, mas não pode deixar de se sentir nervosa quando seus olhos confirmaram que ali havia apenas uma cama, nada mais.

Só uma bendita cama. Nem uma poltrona, um pequeno sofá de dois lugares ou um colchão de reserva. Apenas uma grande cama de casal (que lhe deu um pouco de alivio, ao perceber que era maior que a d’A Toca) e um guarda-roupas de madeira que combinava perfeitamente com os dois criados-mudos, um a cada lado da cama, que sustentavam os abajoures.

— Quem é que dorme no chão dessa vez? – perguntou Ron em tom debochado e Hermione não conseguia acreditar como ele podia brincar com algo que para ela era tão sério. Ela permaneceu imóvel na porta do quarto. – Eu posso dormir no chão, a não ser que você queira dormir aí, grudada na porta.

— Muito engraçado. Se o sofá quase te deixou paralitico, imagina o que o chão não faria com você. – Entrou no quarto fechando a porta, colocou as malas aos pés da cama e se sentou. Olhou em volta, cada canto do quarto e por fim analisou a cama. – Já fizemos isso uma vez, não é? Podemos fazer de novo, essa cama é bem maior do que a outra. Só precisamos tomar cuidado pra... Digo, VOCE deve tomar cuidado para não rolar em cima de mim.

— Vai ser um pouco dificil se voce continuar insistindo em dormir grudada em mim. – disse para irrita-la, dando um beijo na bochecha dela, mas levando um tapa no braço em troco.

— Devia valorizar mais a vida, Ronald.

— Okay encrenca, eu já entendi o recado.

— Bom, vou... colocar a minha escova no banheiro. – disse achado aquela desculpa a coisa mais idiota que já inventara, mas saiu rápido sem dar tempo de Ron lhe questionar.

Uma vez sozinha no banheiro (lugar que já estava virando seu esconderijo), Hermione apoiou as costas na porta e abanou as bochechas que estavam quentes. Isso seria mais difícil do que ela imaginara. O beijo que dera em Ron apenas servio para revirar mais a sua cabeça e dividir a cama com ele depois disso, seria realmente o seu fim. Foi até a pia lavar o rosto com agua fria. Tinha que se recompor. Foi só um beijo, repetiu pra si mesma varias vezes.
Ficou ali pensando por vários minutos, nem ela soube dizer o quanto tempo ficara trancada no banheiro e imaginou se a essa hora, Ron já não estaria deitado. Respirou fundo três vezes como se fosse uma espécie de ritual e ao abrir a porta, senti-a colidir com algo rígido.

— AAAAAAAAAAAAU. – berrou Ron saindo detrás da porta com as duas mãos cobrindo o nariz como se tentasse evitar que ele caísse. Seus olhos estavam lacrimejantes.
— Ron.... Oh meu Deus, me desculpe. Ron, o que... Que diabo estava fazendo atrás da porta?
— Eu ia perguntar se estava tudo bem com você. Voce disse a meia hora que ia guardar a escova e nem ao menos a levou. – disse Ron indicando a escova de dente sobre a cama.
— Voce mexeu nas minhas coisas Ron?
— Hermione, você quase me alejou, da pra parar de brigar comigo? Eu não consigo pensar sentindo dor.

— Voce não conseguiria pensar nem se tivesse dois cérebros. Vem. – disse ela puxando-o em direção a cama para que ele se sentasse e tirando as mãos deles da frente do nariz. Uma pequena gotinha de sangue começava a escorrer querendo abrir passagem para as milhares que viriam depois. – Oh, me desculpe mesmo por isso. Eu vou cuidar disso.

Ela se levantou para caminhar até o banheiro para procurar por algum algodão, mas foi impedida por Ron que disse:

— Esta na bolsa.

Ela o olhou com censura por ainda não acreditar que ele mexeu em suas coisas e abriu a mala, tirando dela uma pequena bolsinha onde guardava algodões, gazes, band-aids e alguns remédios por precaução. Voltou a se sentar ao lado de Ron e lentamente aproximou o algodão da ferida. Ron fez uma careta de dor com o toque.

— Desculpa. – ela murmurou, suavizando o toque.

Ron fechou os olhos tentando relaxar.

— O que você estava fazendo trancada la dentro?
— Eu.... Fui arrumar umas coisas.
— O que? O encanamento? Porque você não levou nada la pra dentro e... AU. – resmungou quando Hermione pressionou seu nariz propositalmente. – Tá, eu não pergunto mais.

Ela tornou a suavizar a mão. Estava sentindo dificuldades de manter seus olhos fixos no nariz de Ron, já que eles insistiam em manter sua atenção nos lábios do garoto. Só se dava conta de sua distração e voltava a atenção para o machucado quando ouvia algum gemido de dor de Ron que indicava que ela estava novamente pressionando o local dolorido, mas logo os olhos teimosos voltavam sua atenção para sua parte favorita.

— Bom, já não sangra mais. Como se sente?
— Sinto como se meu nariz estivesse prestes a cair... Na verdade, eu já nem sinto meu nariz, e eu estou falando como um pato.
— Tudo bem, já estou me sentindo culpada.
— Isso não é nada, você terá que fazer todas as minhas vontades...
— Não exagera Ronald. – disse rindo.
— Exagero? Voce quase me deixou aleijado duas vezes, em menos de 4 dias.
— Isso é para você aprender a não brincar comigo. – ela riu e lenvantou-se mais uma vez, pegou uma roupa em sua mala e caminhou para o banheiro.
— Ah não, você não vai se trancar aí por mais 3 horas, né?
— Não seja bobo, eu vou me trocar.

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