Natasha estacionou na frente de casa. Vários carros da SHIELD estavam estacionados “aleatoriamente” pela rua. Saiu do carro pegando a bolsa com as compras e entrou em casa. Agentes andavam de um lado pro outro. Deixou as compras no balcão da cozinha.

— Agente Romanoff. – um jovem agente se aproximou dela. Ela logo o reconheceu.

— Agente Warley. – ela o cumprimentou.

— Se lembra de mim? – ele perguntou.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Claro. Você é o garoto que barra as pessoas na porta. – ela brincou o fazendo rir.

— É...desculpe por aquilo. – ele pediu meio encabulado.

— Uhum. – ela concordou com um quase sorriso. – Alguma novidade?

— Bom, vamos avaliar algumas amostras que coletamos. – ele falou.

— Alguma chance de me devolverem minha casa ainda hoje? – ela perguntou.

— Na verdade, já estamos de saída. – ele respondeu.

— Ótimo. – ela concordou. – Eu tenho umas provas aqui que podem ajudar. Eu espero. – ela comentou mexendo na bolsa. Retirou os pequenos potes de plástico contendo a bala e o caco de vidro que foram retirados de Arman e entregou ao agente.

— Obrigado. Vou mandar pra avaliação. – ele prometeu. Natasha concordou.

Os agentes foram saindo, e logo a casa estava vazia. Natasha suspirou olhando em volta. De fato eles não bagunçaram nada. E como poderiam, estando sob ameaça da Viúva Negra?

Caminhou pela sala fitando o chão. Viu a macha enorme de sangue no carpete atrás da poltrona. Sangue do seu cão. Do seu protetor. Fechou os olhos suspirando.

Calma. – ela resmungou pra si mesma. Então lembrou-se de algo meio importante. – Clint. – ela saiu de casa rumando pro carro. Abriu o porta malas e o encontrou encolhido ali. – Pode sair. – ela falou. Ele levantou de imediato, e teria empurrado ela se Natasha não tivesse saído do caminho.

Ele saiu do carro.

— Você está bem? – ela perguntou. Ele lhe lançou um olhar nada amigável, e se afastou entrando na casa. – Ok. – ela segurou o riso. Pegou as roupas dele dentro do porta malas e trancou ligando o alarme. Entrou em casa.

Clint estava na cozinha guardando as compras.

— Desculpa te fazer ficar no porta-malas. Mas era a única forma segura de ninguém te perceber. – Natasha pediu.

— Tudo bem. Já fiquei em lugares piores. – Clint falou em tom manso. – Mas, isso fica só entre nós, ok?

— Dou minha palavra. – Natasha ergueu as mãos. – Leva suas roupas de volta pro quarto. Vou começar a limpar as coisas aqui. – ela mandou. Clint concordou, pegou suas roupas e subiu as escadas rumo ao quarto de hóspedes.

Natasha olhou em volta. Começou a juntar os cacos de vidro perto da porta. A maioria era da estante. Mas, no canto, encontrou um porta retratos. O vidro estava trincado. Ela olhou a foto. Uma das poucas que tinha. Era ela Clint e Coulson no último dia da missão na Hungria.

Sentiu o coração disparar, e cerrou o punho involuntariamente. Viu o sangue escorrer de sua mão, e um forte incômodo. Abriu a mão e encontrou um corte na palma causado pelo vidro ainda fincado ali.

Der’mo*. – ela xingou em russo.

— Olha a língua. – Clint alertou descendo as escadas. – Seja lá o que tenha dito.

Natasha suspirou se levantando e colocando o porta retratos na estante.

— O que foi? – ele perguntou se aproximando.

— Nada. Eu só me cortei. – ela falou mostrando a mão machucada e tirando o vidro do corte.

— Melhor limpar isso. – ele comentou segurando a mão dela e avaliando o ferimento.

— Tá. – Natasha se afastou dele e rumou pras escadas. Entrou em seu quartou e foi direto pro banheiro. Sentia-se nervosa. Estava prestes a desabar.

Abriu a porta do armário, ao pegar o kit de primeiros socorros acabou esbarrando em alguns frascos de comprimidos que caíram e quebraram.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Droga! – ela xingou soltando o kit no balcão da pia. Isso tinha sido a gota d’água. – Merda! Droga! Sua estúpida! – ela começou a socar os armários danificando as portas.

— Natasha! – Clint entrou no quarto. – Hey! Que isso? Pare de quebrar os armários. – ele correu pro banheiro e a segurou e ela desabou parando de socar as coisas e começou a chorar descontroladamente. Clint a abraçou e sentou no chão com ela em seus braços chorando. – Tá tudo bem. – ele sussurrou em tom suave afagando seus cabelos.

— Não está não. – ela soluçou. – O que eles querem de mim?

Clint suspirou a abraçando forte sem saber o que fazer. Se sentia inútil. Não podia ajuda-la. Pior ainda, estava sendo mais um problema. Mais um fardo. E agora, sequer conseguia consola-la.

— Tudo bem. Faz bem chorar. – ele sussurrou. Natasha escondeu o rosto em seu ombro chorando. Se sentia um lixo. Tudo o que ela mais amava estava comprometido. Arman, seu emprego e Clint. Ela não sabia o que queriam com ela, nem quem a estava perseguindo. Mas sabiam exatamente como atingi-la. Por que conseguiram.

Clint estava assustado. Nunca tinha visto Natasha daquele jeito. Ela que sempre fora a agente mais forte, durona e corajosa que ele já conheceu, agora estava tão sensível, exposta, e magoada, que o fazia se sentir triste e desesperado. Ele realmente não sabia o que fazer pra ela se sentir melhor.

Ele correu seus dedos em seus cabelos longos, rubros e ondulados. Queria que ela se sentisse segura. Aos poucos, ela foi se acalmando.

— Isso. Tudo bem. – ele falou em tom doce e manso. Natasha respirou fundo. Clint a olhou e secou seu rosto molhado pelas lagrimas com delicadeza. Os dois se olharam por um tempo. Clint queria muito beijá-la. Mas, talvez isso fosse indelicado. Não queria que ela pensasse que ele estava se aproveitando da sensibilidade dela, e não queria que ela se arrependesse depois dizendo que foi apenas pelo momento de fraqueza. Não queria estragar tudo.

— Obrigada. – ela falou. Ele deu um pequeno sorriso.

— Venha. Agora temos duas mãos pra concertar. – ele comentou. De fato tinham. Natasha tinha as duas mãos sujas de sangue. Uma pelo corte, e a outra, pelos machucados causados pelos socos nos armários.

— Tá bem. – ela concordou. Ele a ajudou a levantar. A fez se sentar na privada e puxou um banquinho sentando de frente pra ela. Ele pegou o kit do balcão e abriu pegando gaze e água oxigenada pra limpar o sangue.

Começou a tratar primeiro do corte.

— Você não considerou a ideia de usar pá e vassoura pra juntar o vidro, né? – Clint perguntou. Natasha o olhou seriamente. – Desculpa. Perguntar não ofende. – ele encolheu os ombros.

— Dependendo da pergunta, ofende sim. – Natasha retrucou.

— É. – Clint concordou pensando. – Então, tem alguma ideia de quem esteja por trás desses ataques?

— Eu esperava que você pudesse me dizer. – ela comentou. Ele enfaixou a mão dela.

— Como eu poderia? – ele perguntou puxando a outra mão e começou a limpar os ferimentos.

— Bom, você estava lá no primeiro ataque. – ela respondeu. – Bem que poderia contar como foi. Iria ajudar muito.

— Eu sei. Eu queria ajudar. Mas eu não me lembro. – ele falou terminando de limpar, e passando o antisséptico nos ferimentos. – Eu tentei. Eu só me lembro de entrar. O que aconteceu depois... tá em branco.

— E como você chegou aqui? – ela perguntou. Ele negou com a cabeça.

— Eu acordei perto de casa. Vi a SHIELD. Então vim pra cá. Eu não sabia o que fazer. Eu estava desnorteado. Ouvi alguns agentes falando sobre o que aconteceu. – ele falou.

— E por que veio? Por que fugiu da SHIELD? Eles poderiam ajudar. – Natasha questionou.

— Eu juro que eu não sei. Era como se algo dentro de mim me dissesse que era o único lugar seguro. – ele respondeu com o olhar perdido. – Eu não sei. Eu sei que, eu tentava me manter calmo, e... isso só era possível... – seus olhares se encontraram. - ...porque eu pensava em você.

Natasha ficou sem reação. Clint reprimiu os lábios e suspirou. Voltou sua atenção ao que estava fazendo.

— Eu sei que isso não ajuda muito. Mas é tudo o que eu sei. – ele falou e começou a enfaixar a mão dela.

— Tem razão. Não ajuda. – Natasha falou. – Mas... fico feliz que você tenha sobrevivido. Ou que tenham deixado você viver, sei lá.

Clint deu um pequeno sorriso. Natasha retribuiu. Clint terminou de enfaixar.

— Vai ser bom, enquanto durar. – Clint comentou.

— Pra mim está sendo horrível. – ela retrucou.

— Mas você mudaria tudo?

— Não. – Natasha respondeu. Clint segurou o riso.

— Pronto. Já terminei com você, moça. – ele falou guardando as coisas de volta no kit, e o kit no armário. Natasha jogou as gazes usadas no lixo. Se abaixou e começou a juntar a bagunça de comprimidos e frascos quebrados pelo chão do banheiro. – Hey. – Clint chamou-lhe a atenção se abaixando ao lado dela. – Seu histórico com cacos de vidro não está nada impecável, moça. Deixa que eu limpo aqui. – ele falou.

— Tem certeza? – ela perguntou. Ele concordou.

— Vai lá pra sala, assiste um pouco de televisão. Tenta se distrair. – ele aconselhou.

— Tá. – Natasha concordou saindo do banheiro. Entrou no closet, vestiu uma roupa mais confortável, e saiu do cômodo descendo as escadas entrando na sala.

Sentou no sofá e ligou a tv. Estava passando um filme num canal qualquer. Natasha resolveu assistir. Era um filme com Owen Wilson. Um ator que geralmente fazia comédias.

A cena mostrava ele interpretando o personagem do dono de um cachorro conhecido por ser terrível. O cachorro estava numa maca, e o dono chorava. A veterinária entrou na sala, e logo iniciou-se a eutanásia no grande labrador.

— Ah! Jura? – Clint desceu as escadas. – Natasha. Tem que parar de se torturar.

Natasha não respondeu. Ele sentou no lado dela.

— Eu falei pra você se distrair e você vem assistir “Marley e Eu”? – ele perguntou pegando o controle da mão dela. – Deve ter alguma coisa que preste nos outros canais. – Clint começou a zapear os canais. A sequência de filmes foi essa “Lessie”, “Tin-Tin”, “Scooby-Doo”, “Bolt – O supercão”, “Garfield”, “Marmaduke”, “K-9”, “Sempre ao Seu Lado” e “Spot- Um Cão da Pesada”.

Natasha o olhou sem dizer nada. Clint suspirou.

— Nem uma palavra sobre isso. – Clint falou. Natasha deu ar de riso. – A gente confia em você e você faz isso com as pessoas. – Clint bufou pra TV. – Você devia encomendar uns filmes pela Netflix. – ele comentou. Natasha fungou. Ele mudou o canal. – Olha! Duro de Matar. Esse é um filme legal. Ação, Bruce Willis, esse é um filme pra se entreter. – Clint falou.

— Você quem sabe. Eu vou dormir. – Natasha se levantou rumando pras escadas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Espera. Não vai jantar? – ele perguntou.

— Não tô com fome. – ela respondeu subindo as escadas e sumindo no corredor.

Clint suspirou. Ele entendia o que ela estava sentindo. E se sentia mal por não conseguir ajudar.

— Não posso deixar o dia terminar assim. – ele bufou. Olhou em volta pensando. Teve uma ideia.

Natasha entrou em seu quarto e rumou pro banheiro. Tomou um bom banho pra relaxar. Aproveitou pra chorar um pouco. Ela não gostava de chorar. Principalmente na frente de alguém. Mas, quando sentia que estava a ponto de explodir, ela chorava no banho. Ninguém iria perceber mesmo.

Depois do banho, ela vestiu uma blusa de manga curta e um shortes de pijama. Deitou em sua cama e tentou relaxar. Era difícil. Ela se sentia estranha, em deitar em sua cama, e não encontrar um Husky deitado ao seu lado, ou em seus pés. De repente, seu quarto pareceu tão grande, e tão vazio. Frio, e triste. Quase sem vida.

Ela virou-se para o canto e abraçou o travesseiro fechando os olhos. Tentando não pensar em nada. Queria dormir a qualquer custo. Mesmo que sentisse que não conseguiria.

Ouviu a porta do quarto se abrir.

— Nat? – Clint chamou. Ela abriu os olhos, mas não moveu um músculo. – Posso entrar? – ele perguntou. Ela não respondeu. Ele se aproximou receoso. – Eu... fiz um chocolate quente pra você. Não achei marshmallow pra colocar junto, mas... ficou bom.

Ele sentou na cama ao lado dela.

— Sabe, quando eu era criança, minha mãe sempre dizia que não tem consolo melhor que um abraço de mãe, e um bom chocolate quente. Isso sempre me animava. – ele comentou. – O abraço de mãe, eu não posso oferecer, mas acho que um chocolate já ajuda. – ele falou. Ela não respondeu. – Nat... – ele aproximou a mão pra tocá-la, mas ela se virou pra ele e sentou na cama. Ele entregou a caneca com a bebida quente pra ela.

— Obrigada. – ela se limitou a dizer. Ela tomou um gole da bebida.

— Sabe, - Clint começou. – eu já tive um bichinho também.

— Aí você tomou remédio pra vermes e passou? – Natasha debochou. Ele a olhou sério. Ela riu. – Desculpa. Não podia deixar essa passar.

— É. – ele deu ar de riso. – Era uma Calopsita. Eu adorava ela. Levava pra todo canto. – ele comentou.

— Você já me contou essa história. – Natasha falou.

— Já? – Clint a olhou.

— Se chamava Pikachu, por causa das bochechas. Quando ele morreu você chorou por três dias. – ela falou.

— É. – ele suspirou. – Bom, eu sou péssimo mesmo pra consolo. – ele comentou.

— Tudo bem, Clint. Eu agradeço. Você é um bom amigo. – ela falou. – E o chocolate quente está ótimo. O marshmallow nem faz falta. – ela elogiou. Ele deu um pequeno sorriso.

— Bom...- ele se levantou. – Vou te deixar dormir. Boa noite, Nat, - ele rumou pra porta.

— Clint. – ela chamou antes de pensar no que ia dizer. Ele parou a olhando. – Fica? – ela pediu. Se surpreendeu por isso. Clint paralisou surpreso pelo pedido.

— O...como? – ele gaguejou.

— Fica comigo? Eu não consigo dormir. Arman me fazia dormir, mas... parece que agora, fiquei incapaz... de dormir sozinha. – ela se atropelou nas palavras.

— Tá. Ok. – ele falou calmo. Mas por dentro seu coração pulsava de ansiedade. – Licença. – ele pediu se aproximando da cama. Tirou os sapatos e a jaqueta e deitou na cama com ela.

Natasha pousou a caneca vazia no criado mudo e se arrumou na cama. Clint puxou a coberta cobrindo os dois. Os dois ficaram ali se encarando.

— Me sinto em desvantagem. – ele comentou.

— Em que sentido? – ela perguntou.

— Nos conhecemos à quase 12 anos. Você sabe praticamente da minha vida toda. – ele falou. – Mas... tudo o que eu sei sobre você é que é russa, linda, excelente em tudo o que faz, e incrivelmente bem conservada pra quem se infiltrou na guerra do Vietnã. – ele comentou.

— Eu já te contei porquê. Já contei como pareço ser tão nova pra minha idade. – ela retrucou.

— Tá. Mas eu não sei nada sobre como você foi parar na KGB. Não sei sobre a sua infância. Sequer sei a data do seu aniversário. – ele argumentou.

— Minha infância não foi feliz. Eu prefiro não falar sobre isso. – ela falou.

— Natasha. Meus pais morreram quando eu tinha 12 anos, eu e meu irmão crescemos num circo. Anos depois ele também morreu. Não tem vida mais miserenta e triste que essa. – ele retrucou. – Eu também tenho meus fantasmas.

Natasha olhou pro teto suspirando.

— Você não sabe nada sobre fantasmas, Clint. Não sabe o que é miséria. Não sabe o que é ter uma vida triste. – ela falou. – Não sabe o que eu vivi.

— Tem razão. Eu não sei. Por isso eu tô perguntando. – ele insistiu. Natasha suspirou pensando.

— Ok. Quer saber da minha infância? Tudo bem.