Arborescente

Capítulo dezessete


― Então você está dizendo que ele é culpado pelo assassinato de Alicia Frank? ― perguntou Trudie, olhando fixamente em meus olhos ― Responda!

― Não sou eu quem estou dizendo, são as evidências ― respondi, impassível.

― As evidências colocam o réu no local do crime, mas não provam que ele apertou o gatilho. Ele sequer tem posse da arma...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

― Armas são propriedade quase que exclusiva dos membros da Audácia, coisa que seu cliente é.

Era. Ele escolheu mudar-se para a Franqueza. Portanto, não há como estar mentindo.

― Ele sequer completou o treinamento ainda. Até o dia da Revelação Completa, é impossível afirmar que alguém esteja sendo verdadeiramente honesto. Além do mais, ele não nasceu aqui, não está em seus costumes ser honesto.

― A senhorita também não nasceu aqui, isso significa que pode não estar sendo honesta também.

― A diferença é que nasci na Amizade, eu jamais me meteria em uma briga para proteger alguém que não seja verdadeiramente inocente.

― Quem busca a paz, dirá qualquer coisa para manter as águas calmas.

Sabia que aquela era frase que todos da Franqueza diziam em relação à Amizade, mas não me afetei, era verdade.

― Pense mais rápido em seus argumentos, Aeryn ― disse Trudie, tomando fôlego ― Quanto tempo, Karen?

― 5 minutos ― ela disse, parecendo surpresa, e dando um sorriso feliz para mim.

― Excelente, Aeryn! ― nossa instrutora me parabenizou ― Se daria bem como promotora.

― Ou advogada ― Karen deu de ombros.

― Venha, Todd! É a sua vez! ― chamou Trudie.

Agir com pressão e pensar em argumentos com rapidez. Eram os objetivos do exercício que ocupou toda a nossa manhã. Trudie trouxe casos antigos e ficcionais, apresentando as provas e nos dando os papéis que deveríamos ter, como na atuação de uma peça de teatro.

Ora, um tinha que defender o réu, enquanto Trudie acusava. Em outros casos, invertia, como aconteceu comigo. Com certeza, não foi mera coincidência eu ter que acusá-lo. Provavelmente, Trudie pensava que eu ia melhor com isso. Mas eu sentia que me daria bem, tanto defendendo quanto acusando.

Observamos como os outros iam, Karen sempre cronometrando o tempo que a discussão durava. Tive a pequena sensação de que aquilo contaria pontos para o final, um exercício perfeito de resistência. Eu ainda sentia meu sangue ferver, a adrenalina correndo por minhas veias, doida para voltar a discutir.

― Ei, se acalme! ― brincou Karen ― Vá tomar um copo d’água ou algo assim.

― Estou ótima! ― sorri.

― E é nocaute! ― brincou Nolan, assim que Todd saiu, derrotado, após 3 minutos de discussão.

― Precisa treinar, Todd ― alertou Trudie ― Karen, venha!

― Segure aqui! ― Karen pediu para mim, mostrando como eu fazia para reiniciar o contador e parar. Depois disso, saiu correndo para perto dela.

Fiz como ela instruiu. É claro, Karen alcançou o maior tempo de todos nós: 7 minutos. Trudie não poderia estar mais orgulhosa de nós.

― Excelente! Excelente! ― exclamou, os olhos brilhando ― Agora, peguemos mais alguns casos que trouxe. Vamos em pares...

― Pro... Trudie ― Pacey corrigiu-se, apressadamente ― Somos número ímpar agora...

― Oh! Verdade ― Trudie parou um pouco decepcionada, ao lembrar-se disso ― Bem, façamos um teste de pressão seguido. Mischa será a advogada, os outros serão promotores.

Nos entreolhamos, confusos, mas ela continuou, esclarecendo nossas dúvidas:

― Cada um de vocês terá um caso em mente. Farão perguntas diferentes, concentrando-se em pontos que outros não fizeram. Podem se unir para discutir, Mischa não poderá escutar, estando despreparada nos argumentos, assim como fizeram comigo. Quando ela ganhar o argumento, a pessoa sairá, e outra tomará seu lugar. Assim que todos forem, outra pessoa tomará o lugar de Mischa, com outro caso.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Trudie estava realmente inspirada naquela semana... Se estávamos atrasadis antes, pelas pausas, agora estávamos até adiantados.

― Acho que não podemos ter a esperança de uma noite de folga ― murmurou Mischa, dando um sorriso afetado.

― Já sinto falta de Petal ― disse Reilly, mordendo o lábio.

― Oh! Vamos! Não faz tanto tempo que a visitamos ― disse Karen, dando de ombros.

― Duas semanas ― protestou Reilly.

― Não chega a tudo isso ― me meti.

― Você não tem muita noção do tempo ― disse Reilly, antes de se afastar.

― Eu disse algo de errado? ― perguntei, confusa.

― Ignora ― disse Mischa.

― Pega sua pasta e vai! ― expulsou-a Karen ― Temos que ver como vamos acabar com você.

― Boa sorte com isso ― Mischa desdenhou, antes de sentar-se na cadeira do centro da sala.

― Ela vai ver só... ― resmungou Karen, abrindo a pasta ― Não fale comigo!

Levantei os braços, como se me rendendo, e me afastei dela, juntando-me com os meninos.

― Ela sempre coloca caso de assassinato ― comentou Todd, negando com a cabeça ― Como se isso fosse realmente acontecer...

― Pode até ser, mas é mais emocionante ― disse Steven ― De qualquer forma, se fosse por isso, não teríamos de trabalhar a simulação de tribunal.

― Ela disse quando será? ― perguntei, sentando-me ao seu lado.

― Que loira mais linda veio ao meu lado ― Steven brincou, colocando o braço em cima de meus ombros, puxando-me para mais perto.

Revirei os olhos, ignorando a cantada. Com o tempo, comecei a me acostumar com o jeito safado dos meninos, mas foi difícil nas primeiras semanas.

― E então...? ― insisti.

― Ela vai fazer de surpresa, como se a gente conseguisse se prepara para algo assim ― disse Todd, revirando os olhos ― Quero dizer, é só uma simulação. Para vermos como será... Se fosse prático, como estamos fazendo aqui, seria completamente diferente.

― Vocês têm dez minutos! ― Trudie exclamou, vendo que não estávamos concentrados.

Olhei para a distância onde Mischa estava, que não era muita, mas deixei de me preocupar com o tom de voz, assim que Trudie aproximou-se dela, começando a conversar.

O exercício não foi tão diferente do que passamos com Trudie, exceto que os casos se confundiam em nossa cabeça, com a rapidez que trocávamos. O exercício, que eu mais gostei, aconteceu depois do almoço.

― É difícil arrumar argumentos, sabendo apenas o que disseram ― disse Trudie ― A Audácia cuida da segurança, a Erudição tem os melhores cientistas... Mas somos os principais envolvidos, somos os que julgamos quem será o culpado. Vejamos o quão observadores vocês podem ser...

Estávamos novamente na sala onde houve a última simulação. Pensei que seria o dia da observação do tribunal, mas estava enganada. Todos estávamos em uma simulação conjunta, mas não como meros observadores, nós participaríamos daquilo.

Uma sala pequena, as paredes com respingos de sangue, e um corpo jogado. Aproximei-me e senti minhas pernas ficarem bambas.

Era Evan.