Dangerous

Stuck on the puzzle


O trajeto de volta fora silencioso. Percy queria aproveitar mais o tempo em sua cidade natal, mas sua mãe parecia apressá–lo para fora de casa, como se ele fosse algum produto tóxico prestes a explodir. Estávamos eu e Percy no banco de trás, enquanto sua mãe dirigia o carro e sua irmã caçula, Leila, estava no banco do carona. Leila tentou várias vezes puxar assunto conosco, mas todas as tentativas foram falhas. Ela parecia ter seus catorze ou quinze anos, mas não me incomodei para perguntar.

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Depois de um não tão longo trajeto de volta ao internato, Percy despediu–se de sua mãe amistosamente. Havia algo muito estranho na relação mãe–filho dos dois, parecia quase que... cuidadosa. Como se eles não pudessem ser calorosos um com o outro e nem se apegar. Isso acontecia comigo e com minha mãe, porém era algo natural, mas já ente Percy e Sally parecia ser um tanto forçado à distância entre os dois, como se fosse algo proibido...

... E eu não era a única que percebia isto. Leila os encarava com um certo desgosto no olhar, como quem sabia que algo estava errada mas não podia fazer nada para ajuda–los.

Depois da despedida, entramos na escola e fomos para nossas respectivas mansões de dormitórios, sem trocar nem sequer uma palavra sobre o que houve na noite anterior.

*

RACHEL ELIZABETH DARE.

Ouvi o barulho da chave sendo girada na fechadura para abrir a porta. Saí do closet rapidamente para testemunhar a chegada de minha ilustre colega de quarto.

—Você está bem? –perguntei preocupada, enquanto a mesma levou um susto da minha aparição repentina.

—Por que eu não estaria? –ela ironizou. Era engraçado como Annabeth buscava ser irônica apenas para tentar disfarçar e arranjar uma resposta para uma pergunta na qual ela já sabia qual era.

—Você saiu ontem de noite enfurecida, humilhou Drew e não voltou para o dormitório de noite... E nem de manhã. –Vi a expressão confusa dela ao ouvir–me falar sobre Drew. –Todo mundo da escola já sabe, Annabeth. Você fez um grande estrago com aquela garota ridícula.

—De nada. –ela disse apenas.

Annabeth era uma pessoa extremamente difícil de lidar. Ela não falava nada sobre sua vida, não demonstrava sentimentos e nem dava explicações para nada do que fazia. Eu poderia colocar a culpa no signo, afinal, aquarianos são seres difíceis, mas colocar toda a culpa de Annabeth ser do jeito que é apenas no signo... Bom, seria uma ofensa aos aquarianos. Continuei a encarar ela, esperando puxar mais alguma informação da mesma.

—O que foi? –ela falou, aumentando o tom e gesticulando. –Eu estava com Percy. Pronto. Só isso que você precisa saber.

—Hm. –eu disse. –Mas disso todo mundo sabe, também.

—Vá cuidar da sua própria vida, Rachel, e deixe–me fazer merda com a minha em paz, por favor. –ela disse, entrando no banheiro e batendo a porta.

Dei de ombros e joguei–me na cama, debloqueando meu celular. Fiquei alguns minutos mexendo em meu Tinder, mas logo já estava de saco cheio. Annabeth ainda estava no banho. Ouvi duas batidas baixas na porta.

A preguiça de levantar era tão grande que eu quase gritei para a pessoa entrar, mas então percebi que eles iam achar que havia uma plantação de cannabis no quarto, de tão forte que era o cheiro da droga ali dentro. Levantei–me e abri a porta levemente, surpreendendo–me.

—Oi. –a garota disse, timidamente.

—Você não deveria estar aqui. –eu disse, sem expressão alguma.

—Eu sei, mas... –ela disse, dando um passo a frente para adentrar o ambiente. Eu dei um passo para o lado, bloqueando o caminho dela. –Desculpe e... eu realmente sinto sua falta.

—Não. –eu disse. –Você não tem o direito de sentir minha falta. Você nunca ligou. Você foi embora do nada e Tcharam! Aparece na minha escola sendo nada mais nada menos que a namorada de Jason Grace.

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—Me escute, por favor... –Piper disse, enrolando freneticamente algumas mechas de cabelo em seu dedo indicador.

—Não tem nada que você possa dizer que explique o fato de que você me enganou, sumiu e ainda por cima namora um homem. –eu disse.

—Eu não aguento mais! –ela gritou, me assustando. –Jason é o meu namorado, ele é o melhor para mim, toda a minha família sabe disso. Todos tem orgulho de mim por ter achado um bom sujeito para namorar, para casar! E eu não aguentava mais, eu precisava ficar longe de tudo isso, então tirei as férias para ficar longe dele, para ficar longe de tudo isso. Disse que precisava de um tempo para mim e fui embora.

—Nada justifica. –eu disse.

—Apenas me escute! –ela disse, e eu calei–me. –Tudo estava indo como planejado, eu estava aproveitando para beijar outros caras, até mesmo transei com outras pessoas, pois Jason havia sido o único. Tudo estava indo como planejado, até que você entrou na cena. Você não estava nos meus planos anteriores mas, por alguma razão, eu não consigo me concentrar nos meus planos de agora, meus planos para o futuro com Jason, eu apenas não consigo me concentrar em nada quando te vejo andando pelos corredores desta escola. Eu consigo planejar nada sabendo que você foi o maior “talvez” da minha vida. Então, por favor, me dê outra chance?

Eu a encarei no fundo de seus olhos caleidoscópios. Muitos podem achar olhos azuis, verdes e cor de mel bonitos, mas eles nunca olharam intensamente nos olhos de Piper Mclean. Era como enxergar a Via Láctea, com todas as cores possíveis. Era hipnotizante. E eu podia deduzir que ela estava sendo verdadeira apenas por averiguar o brilho em seus olhos.

Mas... Apesar de tudo o que ela havia acabado de dizer, ela ainda havia me enganado.

—Você... –eu disse, e ela arregalou os olhos, ansiosa pela resposta. –Você nunca ligou.

Dito isto, fechei a porta com força na cara dela. Encostei me na porta, suspirando profundamente. Eu tentava enganar–me ao completo, enganando a mim mesma ao deduzir que meu coração não batia mais forte quando eu a via pelos corredores.

Mas era uma mentira, pois meu coração se derretia quando ela estava no mesmo ambiente que eu. E isto era uma merda.

Ouvi meu celular vibrar na cama, e fui até o mesmo ver o que era.

Incoming Call

Unknown number

Fiquei confusa, e recusei a ligação. Eu nunca aceitava ligações de estranhos. O celular vibrou de novo, o mesmo número desconhecido. Desta vez resolvi atender.

Is it too late now to say sorry? –Ouvi a voz de Piper do outro lado da linha.

—Sim. –eu disse enquanto ia em direção a porta e a abria. –É tarde demais para pedir desculpas, sabe porquê? –falei enquanto a encarava na frente da minha porta, no mesmo lugar onde eu havia a deixado, e desliguei o telefone. –Porquê eu já passei dessa fase, Piper. Eu já passei por essas coisas de meninas que nunca haviam sequer ficado com outras meninas e de repente me beijam e viram lésbicas. Só que elas não viram, elas nunca viram, e eu já cansei de passar por isso todas as vezes que alguma menina diferente entra na minha vida. Eu não tenho paciência pra aguentar sua fase bi–curiosa e te deixar me fazer de gato e sapato apenas para você perceber que ama o Jason e voltar com ele... E me deixar sozinha, de novo.

—Uou. –ela disse. –Alguém realmente feriu seu coração, não? –ela sorriu e passou uma mão em minha bochecha. –O que eu posso fazer para que você acredite que não é uma fase?

—Você pode terminar com o otário do seu namorado que acha que você está perdidamente apaixonada por ele, contar para ele todas as merdas que você fez e ter certeza de que isso é o que você realmente quer. –Vi algo no rosto dela vacilar. –Isso é o que você realmente quer, não é?

—Eu... –ela hesitou. –É...

—Eu sabia. –disse, batendo a porta em sua cara novamente.

Tentei segurar as lágrimas. Eu sempre fui muito chorona com filmes, séries, livros e vídeos fofinhos e tristes, mas quando se tratava da minha vida eu parecia que tinha uma pedra no lugar do coração...

E era exatamente por isso que eu não poderia derramar uma lágrima sequer por causa de Piper Mclean.

Ouvi a porta do banheiro sendo destrancada, e Annabeth saiu hesitante lá de dentro, enrolada em uma toalha vermelha e fumando um cigarro.

—Isso foi duro. –ela disse, enquanto tirava a toalha e ia até o closet achar uma roupa para vestir.

Ela parecia não se importar com alguém vendo seu corpo nú, não importa quem fosse.

—Você ouviu? –perguntei.

—Tudinho. –ela disse com o cigarro entre os dentes enquanto tentava colocar uma camiseta de manga comprida vermelha.

—Deixa que eu te ajudo. –eu disse, puxando sua camiseta para baixo. –O quão ruim foi?

—Bem ruim. –Ela disse enquanto tragava seu cigarro e colocava uma calça jeans. –Não sabia que você e Piper tinham ficado. Digo, não sabia que ela ficava com meninas.

—Ela não fica. –eu disse. –ela apenas ficou comigo.

—Quando o mel é bom, a abelha sempre volta. –ela disse e riu, e eu a acompanhei. –Mas agora sério, Jason ficará devastado ao saber disso tudo.

—Ele não vai saber de nada, ela não vai contar. –eu disse.

—Por que você acha isso? –Annabeth me perguntou. –Você não conhece Piper tão bem assim.

—E você conhece? –perguntei, e ela deu de ombros.

—Tudo o que eu estou falando é para você não subestimar Piper, ela nunca faz o que todo mundo espera que ela faça.

—Ela está muito bem do jeito que está. –respondi. –Tem um namorado, possível marido, que é lindo, amoroso, legal, rico e bem dotado. O que mais ela poderia querer?

—Ela não me parecia bem do jeito que está. Não enquanto falava todas aquelas coisas para você. –Annabeth disse. –E, aparentemente, ela quer você. Agora só basta você querer ela também.

Dito isto, ela pegou seu casaco do cabide, seu maço de cigarros e saiu porta a fora, me deixando sozinha com a hipótese de que eu estou, como sempre, dificultando tudo.