Ondas de uma vida roubada

A orquestra triste das letras


— Eu juntei os Vingadores, construi a nossa união na base da confiança, amizade e espírito de equipa, tornei-nos um grupo admirado e idolatrado pelas massas, odiado pelos nossos inimigos e pelos inimigos da paz mundial e ainda ignorados pelos mais cépticos, aqueles que não vão na nossa conversa, todavia no momento da verdade, quando a morte ou o perigo lhes barra o caminho no fundo até precisam de nós. - Reflectia Tony Stark de forma deprimida, observando as milhares de páginas que desfilavam teimosamente pela sua inteligente mente. - Agora, olhando em redor compreendo que os pilares que demoraram tantos anos a erguer tombaram numa única fracção de segundo, uma maldita fracção de segundo. Esta vida está repleta de paralelismos, paralelismos ignorantes e hipócritas que somente servem para disfarçar os fracassos iminentes da humanidade, que somente servem para disfarçar os meus fracassos. - Pensou tristemente, olhando de soslaio para a jovem Sereia sentada na outra extremidade da sala. - A felicidade e o dinheiro, a fama e o amor, a inteligência e cumplicidade viajam em dois mundos paralelos, separados por uma grossa parede de vapor e tristeza, por isso compreendo que jamais terei o melhor dos dois lados, assim perco-me entre um e o outro, não sabendo ao certo a qual dos dois pertence o meu coração. - Cismava nostálgico, mexendo distraidamente os dedos como se tecendo o destino de alguém que apenas os seus olhos têm a capacidade de vislumbrar. - Então concluo que o que construímos com extrema dificuldade, alguém destrói com demasiada facilidade...

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— Tony, estás bem? - Inquiriu Diana em tom calmo e baixo, caminhando lentamente até ao destruído Homem de Ferro.

— Parece que entrei num autêntico pesadelo, um pesadelo do qual não alcanço o fim, e é se esse fim existir. - Balbuciou o milionário em tom angustiado, segurando na mão de Diana como se buscasse naquele simples gesto a salvação da reputação dos heróis mais poderosos da terra.

— Tony a vida não é um mar de rosas, possui altos e baixos, obstáculos e caminhos macios, espinhos e pétalas de flores, porém eu acredito que quanto mais se bate no fundo mais nos elevamos depois.

— Tu não estás a compreender o que está aqui a acontecer, és demasiado jovem para perceber e ainda bem que assim é, sofres menos...

— Posso ser jovem e imatura mas sei dar valor à vida, sei aceitar as coisas boas e más que ela gentilmente me oferece, porque eu não nasci em berço de ouro, sempre tive que lutar pelo que desejava, coisas tão simples como amor e carinho, por isso não desvalorizes o que tu tens, levanta os olhos para o futuro e vê como ele pode ser brilhante. - Afirmou a Sereia convicta das suas palavras, segurando Tony pelo queixo, sentindo nas pontas dos seus dedos a fina barba que começava a romper, olhando bem no fundo daqueles olhos arrogantes e bondosos, aqueles olhos que lhe diziam mais do que ela conseguia ler. - Tu ainda tens um punhado de sonhos na palma da tua mão, vais desperdiçá-los por causa de meia dúzia de letras medrosas?

— Não sei se serei capaz de recomeçar tudo aquilo que levou anos a conquistar, não sei se vou conseguir recuperar a confiança mundial. - Confessou Stark em voz triste e insegura, fitando com dificuldade os rostos ansiosos dos seus companheiros.

— Sozinho duvido honestamente que sejas capaz, porém ainda tens amigos que te podem ajudar. - Disse Steve de forma honrada e fiel, erguendo os valores até aos corações dos restantes heróis derrotados e humilhados pelos fantasmas famintos das letras.

— Juntos conseguimos recuperar a confiança e o carinho do público. - Disse Scott em tom encorajador, sentindo a sua grande e derradeira oportunidade sumir cruelmente na penumbra colorida dos jornais.

— Um verdadeiro guerreiro não tomba perante injúrias do destino, e nós somos verdadeiros guerreiros, não tombamos perante nada! - Gritou Thor em tom digno e respeitoso, conduzindo as gotas do seu nobre sangue Asgardiano pelas entranhas das suas palavras até à destruída vontade de lutar dos astros da coragem.

— A nossa união tem suportado o mundo durante anos, as pessoas não se vão esquecer disso. - Comentou Clint em voz sonhadora e nostálgica, recordando as imensas e infindáveis situações em que trocaram a segurança das suas vidas pelas vidas alheias e desconhecidas, essas proezas ficaram escritas na história, ninguém possui a capacidade ou o poder para as apagar, serão imortais.

— Nós vamos tornar a nossa luta na flor que alimenta o mundo. - Exclamou Janet em tom entusiasmado, encontrara uma família, um porto de abrigo no ceio dos Vingadores não iria permitir que tudo isso caísse num mar de esquecimento e desconfiança.

— Talvez tenham razão, eu sou um estúpido e um mimado por deitar fora todas as coisas boas que a vida me deu, vamos lutar contra as forças do mal, vamos construir um novo futuro, vamos reconstruir os nossos sonhos, vamos recuperar a confiança da rainha da paz! - Exclamou o milionário em voz esperançada, lançando na atmosfera triste o brilho contagiante do horizonte. - Tenho consciência que será uma tarefa árdua e bastante complexa, sei que demorará mais tempo do que pretendíamos certamente, porém esses obstáculos nunca foram impedimento para os heróis mais poderosos da terra!

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— Certo Tony, então qual é o plano? - Inquiriu a jovem Sereia sorridente, avistando um fraco lampejo de esperança nas praias escuras da vida.

— Talvez o Tony possa falar durante horas para a multidão de desconfiados e assim eles voltem a gostar de nós se te fizermos calar! - Sugeriu Clint em tom divertido, lançando um sorriso traquina na direcção do Homem de Ferro.

— Tens muita graça Gavião, mesmo muita graça! - Ripostou Stark de mau humor, atirando um jornal amachucado directamente na cara do mestre das setas. - Infelizmente as palavras desta vez não nos servirão de muito, a nossa credibilidade mergulhou nas sargetas, temos que mostrar de outras formas eu ainda não sei bem quais, que o mundo pode continuar a confiar nos Vingadores.

— Desculpa Tony, mas eu acredito que a palavra é, e sempre será, a melhor arma de qualquer combatente. - Discordou Steve em tom sereno, recordando com algum pesar todas as circunstâncias históricas em que o uso glorioso e necessário da palavra poderia ter poupado milhares de vidas inocentes, porém foram estupidamente trocadas por armas mortíferas que feriram para sempre a alma da humanidade, eles não poderiam cometer tais irremediáveis erros.

— Eu proponho irmos atrás desses malditos vilões e darmos-lhes a provar a força da nossa união, assim a humanidade verá que permanecemos fortes como sempre fomos! - Bramiu Thor em tom orgulhoso, erguendo sem hesitar o seu lendário martelo Mjolnir, trazendo até ao seu nobre coração a honra e a dignidade do povo Asgardiano.

— Achas que a melhor solução para resolver esta crise é sairmos por aí como se fossemos alguns bárbaros sedentos de sangue e de vingança, sinceramente não me parece a melhor das opções, apesar de tudo o que está a acontecer devemos preservar a racionalidade! - Censurou Rogers em tom desiludido, fitando o deus do trovão com cara de poucos amigos. - Primeiro devemos definir uma estratégia coesa e eficaz e só depois de tudo devidamente organizado é que devemos colocar os pés no terreno.

— Concordo contigo Cap, não vale a pena fazermos nada de cabeça quente isso só vai inflamar ainda mais a péssima opinião que as pessoas têm neste momento sobre nós. - Disse Diana em tom baixo e tranquilo, caminhando rapidamente até ao seu enorme cão de algodão que desfazia um tapete com pura satisfação. - Larga isso seu cão maluco!

— Certo Steve vamos seguir o teu plano, o que sugeres que se faça primeiramente. - Perguntou Stark em voz aborrecida, detestava dar o braço a torcer, no entanto perante aquela situação mais do que catastrófica era necessário engolir o seu orgulho de ferro.

— Sugiro que escrevas um comunicado a explicar toda a situação decorrida durante o confronto sem omitir qualquer detalhe que seja. - Proferiu Rogers em tom pensativo, apoiando o queixo na palma da mão, observando com profunda atenção os contornos escuros e bizarros daquela noite, somente fustigados por uma pequena luz azul água.

— Nenhum jornal vai querer publicar a nossa versão dos factos, acho que estão demasiado ocupados a cozinhar a nossa desgraça. - Murmurou o Arqueiro em tom furioso, desenrolando o jornal que minutos antes Stark lhe lançara à cara.

— Por isso é que vamos usar a nossa grande influência junto da S.H.I.E.L.D. - Retorquiu o Capitão em tom sábio, esfregando as mãos para reprimir um formigueiro que lhe percorria as pontas dos dedos.

— Certo então vamos a isso....

— Senhor Stark tenho uma chamada muito urgente na linha nove, é da parte do governo. - Anunciou o dedicado Jarvis em tom apressado, entrando de rompante na sala de estar.

— Vamos lá ver o que eles querem. - Resmungou Tony em tom apreensivo, observando as caras de espanto dos restantes Vingadores.

— Stark que tal levantares o teu rabo desse sofá e pores mãos à obra, olha para isto! - Grunhiu a voz rouca e arrogante de Nick Fury, confortavelmente instalado no gabinete do presidente dos estados Unidos. -

— Neste voo devem viajar mais de cinco centenas de passageiros, aquele tipo só pode ser lunático, vamos lá Vingadores. - Gritou Tony impressionado, fitando boquiaberto as imagens de um avião de passageiros ser controlado por um homem armado.

— Já lá deviam estar! - Ripostou Fury de forma recriminadora, dando um valente murro na secretária polida do poder americano. - Olhem que nem a S.H.I.E.L.D. faz milagres, não contem com isso.

— Espera Diana, eu tinha combinado com o Tony que ele ia avaliar as tuas capacidades, depois de tantos meses afastada da acção é de esperar que o teu corpo precise de treinar um pouco, e além disso esta missão pode ser resolvida por mim pelo Thor e pela Vespa, Clint tu vens só para o caso de precisarmos de um par de mãos extra. - Informou Steve num tom pouco usual, colocando uma das mãos nos ombros finos da Vingadora.

— Não ,me lembro de ter combinado nada a esse respeito. - Sibilou o Homem de Ferro entre dentes, olhando Steve com ar inquisidor, baloiçando o capacete da sua armadura nas pontas dos seus dedos.

— Claro que combinámos, não tenho culpa de não te lembrares. - Ripostou Rogers em tom baixo, fazendo uma careta ao seu companheiro. - Fica com ela. - Murmurou entre dentes, percebendo que Diana não os podia escutar.

— Claro que sim, bolas esta memória anda a pregar-me partidas! - Exclamou o milionário ainda bastante confuso com a decisão do Super-soldado, porém ele certamente teria um bom motivo. - Então Diana vamos até ao meu gabinete para afalarmos uns minutinhos.

— Se soubesses o quanto eu me arrependo. - Pensou Steve tristemente, à medida que a adrenalina provocada pela missão subira bruscamente na sua corrente sanguínea, enfeitiçada pelos gritos azuis e espumosos de um passado bastante presente.

— Não ligues ele apenas está preocupado contigo. - Disse Tony em tom doce e amoroso, reparando no triste sorriso que rapidamente de apagava do rosto da bela Sereia.

— Sim, talvez tenhas razão. - Concordou Diana em tom sumido, puxando uma cadeira, sentando-se muito direita na frente do seu amigo, vendo num horizonte distante e oprimido as luzes escuras do mar.

O destino é tão implacável como uma espada embainhada pelo guerreiro do tempo, os ventos gelados do futuro ardem perante as luzes sombrias e trovejantes de uma aurora encantada pela flauta do amor, as flores verdes e macias refrescam os sonhos e os mais profundos desejos dos céus com o veneno perfumado e belo da nostalgia, as ondas de prata e fogo amaldiçoam e inundam os confins primordiais da felicidade com as lâminas incandescentes de um dia que jamais chegará, as bocas do mundo amordaçam silenciosamente as estrelas da esperança e da sorte num covil de algodão e espinhos, onde os pés dos anjos deflagram rios de sangue e saudade. Ao longe, recortada contra a neblina crepitante do entardecer paira uma criatura disforme e negra trazendo o cataclismo nas pontas douradas das suas esguias asas.

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