Ondas de uma vida roubada

Espada folha e sangue


O jovem Asgardiano paralisou, aterrorizado, receoso, atónito, preso num vasto rio de gelo, escuridão e silêncio, refugiando-se num suspiro de hesitação e assombro, vendo uma das preciosas folhas da Árvore da Vida, uma das joias que sustentavam a pacífica leveza da graciosa Asgard, uma das estrelas que florira contra todas as adversidades naquele jardim inóspito e frio, uma safira que nascera nas asas da gelada brisa do Norte, cintilando inocentemente na negra manápula de Grimir.

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— Não! – Gritou Thor assombrado, fitando aquela catástrofe nunca antes presenciada, o seu desabafo fora aniquilado pelos uivos dos tenebrosos ventos dos sinos que flutuavam sobre o cruel espírito do feiticeiro.

— Tarde de mais para lamentos. – Vociferou o demente homem orgulhoso do seu feito, palpando a solitária folha entre os dedos. – O relógio já está a contar, somente falta um elemento.

— Não o atingirás! – Garantiu o deus furioso, preparando o seu nobre martelo Mjolnir, colocando na sua ponta cravejada de coragem a sua indomável vontade de vencer, colocando na sua ponta a força que o tornara um Vingador, colocando na sua ponta a nobreza que o fizera príncipe de Asgard.

— Não prometas o que não tens a capacidade de cumprir, jovem Thor, Ódin nunca te incutiu este princípio? – Zumbou Grimir em tom escarninho, vagueando nas sombras da sua incontrolável maldade. – Diz-me Thor, soube que tu e o teu querido pai nunca se deram muito bem, sempre tiveram discordâncias, discussões e problemas, não me vais dizer que não te gostavas de vingar de todas essas humilhações?

— Os dilemas que surgem entre mim e o meu pai não te dizem respeito, não servirão como armas que te levarão à conquista! – Exclamou o príncipe irritado com aquelas insinuações puramente verdadeiras, contudo desrespeitosas. – Onde está o segundo elemento, mostra-mo seu cobarde!

— Está aqui. – Declarou Grimir lentamente, erguendo algo reluzente que matava aquela escuridão demoníaca.

— Não pode ser, não pode ser! – Murmurou Thor incrédulo, vislumbrando com profundo terror a espada que o feiticeiro segurava firmemente na sua mão. – Essa é a espada do Heimdall!

— Sempre perspicaz. – Elogiou falsamente o negro Titã, baloiçando perigosamente a arma lendária. – Esta espada forjará o futuro.

— Enganas-te! – Berrou o louro alarmado, era pleno conhecedor do fatal poder da espada do sábio e observador guardião, não devia ter caído em mãos erradas.

A pérfida brisa deslizava numa periferia indefinida e difusa de muralhas ardentes de gelo atroz e cortante, transportando no seu ventre o pútrido cheiro da perda, do desespero e da morte silenciosa, marchando sobre as chamas infernais dos glaciares inflamados, trazendo nas suas vestes de linho a esperança, a força e a coragem que brilhariam num amanhecer promissor, abençoado por um arco-íris branco repleto de gotas de orvalho madrugador e fresco, o esbelto príncipe, apoiando-se na fortaleza trovejante do seu ser, ergueu o seu magnífico Mjolnir, guiando-o na direcção inequívoca da luz do fogo da fénix, estava pronto para o combate, nada o iria deter, porém as ondas negras do desconhecido derramavam ódio à sua dramática passagem, teria a luz dos trovões vontade sobre as trevas?

— Prepara-te! Conhecerás a morte! Tombarás perante mim, Thor, o filho de Ódin! – Proferiu o Deus em tom de desafio, atirando o seu sagrado martelo sobre as hostes Titânicas.

— Não será assim tão fácil, acredita nas minhas palavras. – Avisou Grimir, esboçando um sorriso fortalecido pelo cinismo e pela arrogância, levantando o seu maquiavélico ceptro, transformando sem remorsos o mortífero Mjolnir em gelo.

— Não é possível. – Sussurrou Thor amedrontado, vendo o seu leal martelo voar para si preso por uma alma de gelo e maldade. – Isto não me deterá, este gelo não simboliza adversário para mim.

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Evocando as suas mais puras e fiéis forças, escondidas nas profundezas divinas do seu espírito intemporal, o jovem Deus pousou as suas mãos justiceiras sobre o seu pesado legado, Mjolnir, filtrando para as suas entranhas nórdicas a sua vontade inquebrável, flamejante, raiosa, purificando o seu ferro lendário daquele demoníaco gelo agreste e criminoso, devolvendo-lhe a vida soberana sobre as planícies do gracioso reino.

— Nada mau, nada mau! – Aplaudiu Grimir ligeiramente impressionado com o sucedido.

— Devolve-me a folha e a espada, tu nunca serás digno delas, nunca! – Exigiu o louro, louco de raiva e ressentimento, avançando a grande velocidade contra o feiticeiro, tinha que pôr fim aquele repentino massacre, tinha que descobrir onde estava encarcerado o seu povo, tinha que salvar o seu conturbado pai, não tinha outra opção. – Pagarás pela tua ousadia!

— Não te fica bem o papel de cobrador Thor. – Comentou o Titã divertido, bramindo a poderosa espada de Heimdall, bloqueando o corajoso avanço do príncipe, um estridente tinir inundou a atmosfera negra, quando o martelo e a arma afiada se cruzaram num misto de luz, relâmpagos e omnisciência.

— Como te atreves a atacar-me com a espada de Heimdall? – Perguntou Thor indignado, tentando esmurraçar Grimir, contudo este impulsionou novamente a espada, raspando-a dramaticamente no punho do louro, porém a sua fatal lâmina somente encontrou a luva do deus. – Não sairás impune deste confronto, juro!

— Assim veremos. – Afirmou o feiticeiro na defensiva, olhando Thor com desprezo e desdém, segurando-o pela lapela da cota de malha. – O teu sangue será meu, meu! – Gritou, soltando no ar as finas cordas do seu riso gélido, encostando a lâmina fria ao pescoço do príncipe.

— Mjolnir a mim! – Ordenou o Asgardiano em voz sufocante, esticando uma das mãos, pois com o embate o martelo caíra sobre o manto de trevas e silêncio.

— Não vale a pena adiar o que é inadiável, resume-te á tua insignificância e realiza o teu propósito, a queda de Asgard e de Midgard.- Cuspiu Grimir deliciado, exercendo pressão contra o pescoço do louro.

— Jamais! – Gritou Thor enraivecido, batendo com o lendário martelo contra o peito protegido do feiticeiro, no entanto apenas o som metálico invadiu o infinito negro.

— Não me subestimes, a minha armadura nasceu nas margens do rio de Uru que floresce nos confins misteriosos de Asgard, é tão forte como teu martelo. – Explicou o Titã orgulhoso da sua criação forçada, dando um pontapé que jogou o Deus pelos ares. – Eu sou paciente, se desejas lutar, então lutaremos!

— Desiste, eu não cederei! – Impôs Thor em voz audível, levantando-se do terreno fertilizado pelas aguçadas raízes do desespero, agarrando-se ao seu poderoso orgulho de combatente do tempo. – O meu sangue não servirá para chacinar Asgard e Midgard. – Garantiu, transpondo a enorme distância que o separava de Grimir, empunhando com bravura e honra o seu Mjolnir, contudo algo arrepiante lhe barrou o caminho, cinco fantasmas tecidos pelo gelo. – Meus, meus…

— Aí os tens. – Anunciou o feiticeiro de forma impiedosa e cortante, vislumbrando a cena caótica e inimaginável que crescia vinda da ponta afiada da sua negra vontade.

Os relâmpagos antevêem a tempestade, a escuridão silenciosa trás o desalento e a desolação, o vento transporta o mal e a intolerância, o silêncio guia o caos e a maldade, o gelo aguçado esconde o mistério e o desconhecido, os sinos guardam os maus presságios, os companheiros difundem a esperança, a coragem, a força e a paz.

Quem barrou a entrada da ponte que conduzirá á vitória?