Ondas de uma vida roubada

Quando a justiça perdura


— Que voz doce é esta que me envolve, profunda como o reluzente canto das sereias no fundo azul do Oceano? Que calor angelical é este que me enche o coração enraivecido? Que lamento demoníaco é este que brota agonizante dos meus olhos? – Pensava Bruce Banner confuso, sentindo o monstro verde esvair-se na penumbra solitária da sua sábia mente, segurando ternamente Diana nos seus braços. – O que fiz eu? – Questionou-se, observando a frágil figura da morena ferida e inconsciente tombando no seu peito. – Não tinhas o direito de magoar alguém tão puro e inocente, não tinhas! – Recriminou-se em tom angustiado, pousando a jovem cuidadosamente no terreno empedrado, examinando os seus ferimentos. – Não são graves, deves ter um anjo da sorte contigo miúda. – Constatou, dando ligeiras palmadinhas no coberto rosto da Vingadora. – Vamos, acorda! – Pediu em voz baixa.

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— Senhor Bruce! O senhor está bem? – Perguntou a morena debilmente, abrindo com dificuldade os vastos mares da sua alma.

— A pergunta não é essa. Tu estás bem? – Interrogou o cientista preocupado, ajudando Diana a sentar-se.

— Sim, isto vai passar rapidinho. Já estive bem pior, acredite em mim. – Respondeu a adolescente honestamente, aqueles ferimentos comparados com os que o Dentes de Sabre lhe infligira eram uma brincadeira de crianças. – O senhor tem que sair daqui, os Vingadores já devem ter sido informados do sucedido, já devem estar a caminho, e atente nas minhas palavras, eles não serão tão tolerantes e benevolentes como eu fui. – Preveniu horrorizada, não queria que Banner fosse capturado ou até mesmo preso, sabia que Tony Stark não lhe daria tempo para se explicar. – Não fique a olhar para mim, vá-se embora, por favor! – Insistiu, vendo o ar ausente estampado no rosto sofredor do herói.

— Eu não posso ir, desculpa, agradeço o que fizeste por mim, porém eu tenho que pagar pelos meus erros, desta vez não existe saída possível para mim. – Afirmou Bruce consciente dos seus grotescos erros

Diana vislumbrou pensativa o largo oceano azul que se estendia em toda a sua plenitude misturando-se na perfeição com o firmamento misterioso, buscando soluções para aquele delicado problema, Bruce tinha noção da gravidade da sua involuntária fúria, tinha noção das mortes que causara, tinha noção da destruição que perpetuara, ela também tinha consciência de todos esses factos, todavia acreditava que alguém não deve ser punido quando não tem controlo sobre as suas atitudes, queria salvá-lo da desaprovação e censura generalizada, queria que ele fosse livre.

— Não deixe que o meu esforço tenha sido em vão, por favor. Ainda existe esperança para si, acredite em mim. Vá embora por favor. – Pediu a jovem desesperada, vendo o tempo passar cruelmente pelo cais marítimo. – Não abandone dessa forma imprudente a sua vida, lute por ela, lute para que ela seja melhor, tenha coragem. – Incentivou esperançada sorrindo docemente.

— É muito gentil da tua parte, nunca antes me cruzei com alguém que possuísse um coração tão puro e tão digno, obrigado por esta oportunidade, não a irei desperdiçar, prometo, adeus Vingadora cuida desses ferimentos. – Despediu-se o sábio homem sorrindo tristemente, saindo dali a tremenda velocidade, não iria desiludi-la.

— Adeus senhor Bruce, viva a sua vida tranquilamente. – Disse a Sereia aliviada, missão cumprida.

A sonhadora Sereia estendeu-se no chão, sentia cada osso do seu esguio corpo latejar como a lava de um vulcão, contudo o seu coração estava leve como uma bela pluma celestial. Cobriu o rosto com as mãos trémulas, observou timidamente a figura arrogante de Tony Stark espelhar-se na vidraça transparente da sua alma, ele condenaria a sua atitude, julgaria o seu comportamento, não compreenderia o seu conceito de justiça.

— Onde estás tu Steve? – Pensava com amargura, revendo aquele doce sorriso que iluminava os seus sonhos mais coloridos, à medida que escutava o som inconfundível de algo a quebrar fortemente a atmosfera, como previra o blindado Homem de Ferro estava a chegar.

Anthony aterrou ruidosamente nas imediações empedradas que conduziam ao paraíso azul e profundo, olhou em volta, procurando com os seus olhos aguçados alguma evidência de violência ou destruição.

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— Diana! Oh meu santo Deus! – Exclamou o milionário surpreendido, reparando na silhueta imóvel da Vingadora. – Tu estás viva graças a Deus! – Disse, abraçando a morena, esta gritou de dor.

— Graças a Deus o caraças, graças a mim. Tem calma contigo, estás a magoar-me! – Reclamou a Vingadora em voz fraca, tentando inutilmente separar-se de Stark. – Eu estou ótima, só tenho uns arranhões aqui e ali, talvez algumas costelas partidas nada de preocupante. – Tranquilizou-o rapidamente.

— Onde está aquele monstro maníaco? Vou dar cabo dele num piscar de olhos! – Perguntou Stark colérico, percorrendo com os olhos o espaço em seu redor.

— Ele já não está aqui, fugiu pouco antes de eu desmaiar. – Mentiu a Sereia melancolicamente, detestava recorrer à mentira para justificar as suas atitudes, contudo desta vez os meios justificam os fins, fê-lo por uma causa justa, ou assim achava.

— Se ele pensa que me escapa está enganado, vou detetá-lo facilmente e depois irei colocá-lo no lugar onde criaturas abomináveis como ele merecem estar, nos confins sombrios da prisão. – Ameaçou Tony em tom sanguinário, ativando alguns comandos da sua preciosa armadura.

— Bolas Tony! Eu conto, pára com esse truque ridículo da deteção de pessoas. – Censurou a Sereia indignada, colocando-se de pé. – A culpa é minha. – Afirmou segura, não iria deixar que Bruce fosse vítima dos seus erros.

— O que é que tu fizeste desta vez? – Perguntou o Homem de Ferro desconfiado. – Falamos na Mansão, vamos cuidar desses ferimentos. – Disse de mau humor. – Segura. – Ordenou, estendendo uma mão metálica que Diana segurou.

Juntos adentraram pesadamente pela sala de estar dos Heróis mais Poderosos da Terra, Stark encarava-a com cara de poucos amigos, sentindo a fúria percorrer-lhe o espírito, a morena por seu turno, preparava-se para uma discussão daquelas.

— Vou chamar um médico para ver esses ferimentos, fica aqui sentada, não te atrevas a desaparecer, estou a avisar-te. – Disse Tony em voz áspera, dirigindo-se ao seu gabinete em passada apressada.

— Só me faltava mais esta! – Murmurou a Vingadora aborrecida, sentando-se num sofá junto de Thor.

— Ainda bem que estás viva, se eu coloco as minhas mãos naquele desgraçado juro que o atiro em Hel sem reflectir duas vezes. – Proferiu o Deus do trovão com rancor, nunca gostara de Hulk, contudo aquele ataque explodira com os seus poucos sentimentos positivos.

— Thor não te atrevas a fazer uma coisa dessas! – Afirmou Diana em voz arrogante, toldada pela frieza espumosa do oceano que involuntariamente a abençoara.

— Ele é um louco sedento de sangue, não iria suportar que ele roubasse a luz desse lindo sorriso, ele não pode continuar por aí a semear indiscriminadamente o seu terror. – Defendeu-se o louro indignado, olhando a jovem com surpresa.

— Sabes que mais, não quero escutar mais uma única palavra do que tens para dizer, julgas-te muito perfeito, mas na realidade és igual a todos os outros, cruel, injusto e preconceituoso, devias ter vergonha do teu absurdo comportamento, não esperava uma coisa destas de um homem que provem de uma linhagem tão digna. És uma enorme desilusão para mim! – Gritou Diana, sentindo a injustiça do universo atingi-la com a feroz brutalidade de um canhão.

— Diana! Espera, o que é que eu disse de errado? – Inquiriu o Deus incrédulo, olhando a sua amiga que desaparecia para o exterior.

— Dá-lhe tempo, ela é muita sensível no que diz respeito a questões de injustiça social, não foi a forma mais inteligente de abordares este assunto. – Explicou Clint em voz calma, passando por Thor rumo ao armário dos produtos de limpeza.

— E o que sabes tu sobre ela para afirmares categoricamente esses factos? – Interrogou o Deus irritado, não suportava que o Arqueiro conhecesse a morena melhor do que ele.

— Ela é muito transparente. – Afirmou o Gavião sem dar grande importância ao diálogo do nórdico. – Dá-lhe espaço, é apenas um conselho. – Disse, voltando costas, já com o que precisava na mão. Queria ir falar com a Sereia, queria saber como ela estava, queria dizer-lhe que compreendia a sua revolta, todavia sabia que não era a altura oportuna, quando seria afinal?

— Insolente manipulador de setas. – Murmurou o Deus do trovão com desprezo, saindo em direção ao elevador.

A Sereia vagueava sozinha pelo vasto jardim relvado, sentindo o cheiro fumegante da noite perfurar-lhe dolorosamente as narinas, olhou tristemente o céu onde a lua se escondia atrás das nuvens, baixou os olhos marinhos para a grande piscina tranquila, sentia mais do que nunca a falta de Steve, sabia que ele compreenderia a sua atitude, sabia que ele estaria a seu lado, sabia que ele lhe daria aquele abraço que tanto precisava.

— Steve onde estás tu afinal? – Murmurou taciturna, sentando-se na beira molhada da piscina apoiando pesadamente a cabeça nos braços.

— Bem longe daqui. – Respondeu uma voz cortante, esbofeteando o silêncio escuro. – Pensei que tinhas ido embora. – Comentou, aproximando-se calmamente da jovem.

— Tony sabes bem que não sou mulher de virar as costas aos meus problemas. – Retorquiu Diana irritada, não suportava que a acusassem de cobardia, Steve jamais faria uma coisa dessas. – O que queres afinal de contas? – Perguntou de forma arrogante.

— Chamei um médico, porém graças ao ataque do Hulk estão todos demasiado ocupados a socorrer as centenas de vítimas que ele cruelmente fez. – Explicou o Homem de Ferro, agachando-se ao lado da Vingadora.

— Se me queres culpabilizar fá-lo diretamente, não é necessário estares com rodeios. – Retaliou a Sereia aborrecida com aquela situação. – Diz o que tens a dizer, estou cansada, quero ir para casa. – Pediu.

— Detesto pessoas que não assumem os seus erros por mais que eles surjam garrafais diante dos olhos. – Comentou Stark, vislumbrando a atmosfera noturna.

— Não existe nenhum erro para assumir, eu não fiz nada de errado, mas eu não espero que entendas, és demasiado casmurro para tal. – Defendeu-se a morena sem se alongar, estava farta daquela discussão sem fundamento, na sua opinião.

— Tenho a certeza que agiste de boa-fé, contudo a tua justiça infantil podia ter-te custado a vida, por favor eu não quero discutir contigo…

— Claro que não queres, tu nunca queres, porém acabas sempre por me cair em cima. O que se passa de errado comigo para tu não suportares nenhum dos meus recentes comportamentos? – Interrompeu a Sereia em voz alta, estava a perder a paciência.

— Eu só quero que tenhas um futuro, no entanto se continuas a desperdiçar a tua vida desta maneira duvido sinceramente que o consigas alcançar, tenta compreender a minha preocupação por favor. E aliás a tua visão da ética está errada, completamente condenável aos olhos da maioria dos seres humanos, tu ajudaste um criminoso a fugir, que raio de ética é essa, tu és uma Vingadora, não és uma delatora do crime. – Censurou Tony em voz doce, contrastando na perfeição com a dureza injusta das suas palavras.

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— Não quero saber desse tal futuro, não me interessa o que as pessoas pensam da minha visão da ética, e não quero saber se te preocupas comigo, nunca te pedi nada, nem sei sequer porque o fazes. Só lamento que sejas um falso orgulhoso que apenas pensa em implantar a sua própria justiça, sabes meu amigo ela está longe de ser a mais certa! – Exclamou a jovem furiosa, erguendo-se de um salto.

— Ele é um monstro, e tu és uma idiota por ires na sua conversa! – Exclamou Stark completamente colérico, erguendo-se num impulso elétrico.

— Finalmente que dizes o que pensas realmente sobre mim, já não era sem tempo, assim sei o que posso esperar, e já agora ele não é um monstro, é somente uma pessoa com pouca sorte tal como eu. Não me voltes a dirigir a palavra, eu farei o mesmo, Adeus! – Proferiu a Sereia em voz estridente, começando a caminhar desorientada, sentindo a raiva queimar-lhe a alma indignada.

— O teu grande problema é que gostas demais dela, estás a deixar a emoção prenunciar-se mais alto do que a razão, ela não é apenas uma miúda frágil, ela é uma Vingadora, mete isso na tua cabeça dura, estás a perdê-la! – Pensava Tony melancolicamente, passeando-se pelas sombras negras do seu espírito.

O Gavião Arqueiro seguia a Sereia de perto, olhando-a com preocupação e nostalgia, tinha profundas saudades daquele sorriso arrogante que sempre o maravilhara seja em que circunstância fosse, segui-a enquanto esta se precipitava furibunda para o exterior traiçoeiro de Nova Iorque, cuidaria dela á distância, tinha que garantir que a sua Ariel chegaria segura a casa.

— Queres boleia? – Questionou em voz ternurenta, compreendendo que Diana não possuía o seu fantástico Audi, cá para nós ele sempre desejara dar uma aceleradela naquela bomba de velocidade e estilo.

— Não, obrigada. – Respondeu a adolescente em voz sumida, não reparando quem estava á sua beira.

— Não posso deixar que vás sozinha até casa, eu insisto, vem comigo, juro que não abro a boca durante o caminho. – Prometeu o Arqueiro em voz doce, colocando uma das mãos no ombro da morena, tateando aquele guloso cabelo de chocolate tocado pela leve brisa noturna.

— Clint, eu prefiro caminhar sozinha, preciso de refletir. – Disse Diana educadamente, olhando aqueles olhos místicos cor do mar e dos seus sonhos mais íntimos.

— Vem comigo, tu estás muito cansada, não tens que caminhar a pé, anda cá princesa linda! – Afirmou Clint ternamente tomando a Sereia nos seus braços, andava ansioso por sentir aquele corpo elegante e delicado no seu.

— Clint eu não cometi erro nenhum. – Chorou a morena afogada na mais profunda e sombria tristeza, derramando milhares de gotas salgadas no coração palpitante do mestre das setas.

— Não vamos falar sobre isso agora, fica tranquila, vou levar-te a casa. – Prenunciou o Gavião em voz baixa, conduzindo a morena até ao seu carro velho.

O louro conduziu durante cerca de vinte minutos, mergulhando o seu carro no mais puro e triste silêncio, compreendia a atitude de Diana, adorava aquele coração puro e genuíno, porém também percebia a reprovação de Stark, se ao menos o Cap estivesse ali, ele saberia como solucionar aquele problema.

— Já cá estamos princesa, ficas bem? – Anunciou Clint em voz serena, reparando que Diana estava demasiado absorvida nos seus problemas para se aperceber do lugar onde estava.

— Obrigada, eu fico ótima. – Respondeu a Vingadora, limpando o rosto molhado com a mão.

— Ficas mesmo bem? – Insistiu o Arqueiro, acariciando-lhe a mão pousada sobre os joelhos.

— Fico, não te preocupes. – Disse a Vingadora, tentando aparentar confiança nas suas palavras. – Adeus. – Despediu-se, precipitando-se para o exterior noturno.

— Espera! – Pediu o Gavião, segurando-a pelo braço frágil, olhando-a no fundo da alma destroçada, beijando-a num rompante de loucura e culpa, sabia que grande parte dos seus problemas tinham o seu nome escrito.

— Não devias ter feito isso. – Ripostou a Sereia aborrecida, gostara imenso do beijo, porém não era a melhor altura para tal envolvimento.

— Desculpa. – Disse Clint, condenando a sua impulsiva atitude, aqueles lábios cor de cereja eram a sua grande tentação.

Já no interior da sua pequena habitação, a jovem enrolava-se teimosamente nos seus cobertores, tentando alcançar aquele abraço de carinho e conforto que tanta desejava, queria adormecer rapidamente, queria imobilizar os seus pensamentos impedindo-os de circular abundantemente pela sua cansada mente. Por fim, uma imagem sorridente de Steve veio ao encontro do seu desgastado coração, esticando aqueles fortes braços de coragem, segurando docemente a sua vontade, os seus problemas, os seus desejos, tornando-a leve como uma pétala que flutua ao sabor do vento, pousando suavemente no berço do colorido sono merecido.

Numa qualquer floresta, entre a vegetação verde e esvoaçante, debruçado sobre um cristalino e silencioso riacho, Bruce Banner sentia a atmosfera calma voando nas copas altas das árvores paradas, observando com pesar o espelho negro e partido da sua alma. Desejava com todas as suas forças absorver toda aquela maravilhosa e doce tranquilidade, queria afundar-se na calmaria verdejante do pequeno curso de água, queria que aquela magnífica floresta dilacerasse a envenenada fúria que se esconde habilmente no seu interior, transformando-a em harmonia espiritual.