A Sereia Ruiva

Onna, é Você?


Então, isto que tenho na palma da minha mão… É o tal coração.

Quantas vezes sonhara e revivera aquele momento? Quanto tempo procurara pela única mulher que despertara algum sentimento em si, após tantas vidas distintas?

Ulquiorra recordava-se perfeitamente quando entregara a bracelete à mulher, ordenou que ela somente se podia despedir de uma pessoa. Ele a vigiou em todo o seu percurso… Até em seu discurso patético, do seu ponto de vista, a Kurosaki Ichigo. Na época lhe soara ridículo alguém sonhar com cinco vidas diferentes. Um absurdo evidente, que nem as crianças possuíam.

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No entanto, ali estava ele. Humano, numa época diferente. Estranhamente, conseguiu obter suas memórias passadas. Como? Não fazia ideia. Um dia apenas acordou com elas. Como se alguém as colocasse em sua mente. A partir desse instante, têm buscado a mulher sem parar. No entanto, nunca encontrou um rasto dela sequer. Contudo, se ele revivera, ela também deveria ter enfrentado esse processo, certo? Poderia encontrá-la… Ou pelo menos, era nisso em que queria acreditar.

Seus passos sempre marcaram sua solidão. Em Hueco Mundo, no infinito deserto, odiava encarar seu rasto deixado na areia. Sozinho. Na praia, onde actualmente se encontrava, sua reacção era a mesma. Prosseguia só, numa caminhada que não parecia acabar.

Apesar de repudiar a visão do seu trajecto marcado na areia gelada, ele sentia-se calmo naquele local apelativo, com o cheiro da maresia. O mar parecia cantar, o embalando numa ardilosa armadilha. Sempre ignorou esse facto, até que um dia pareceu escutar a ruiva o chamar. Desde esse momento, mesmo que fosse a fantasia a danificar seu raciocínio, ele simplesmente seguia a voz. Quando esta decidia manifestar-se.

- Ulquiorra-kun!

O moreno fechou fortemente as pálpebras, irritado. Suas breves alucinações frequentes o estavam irritando. Pareciam tão reais, tão próximas, que era inevitável alegrar-se ao pensar que ela estaria ao seu lado.

- É feio ignorar as pessoas, Ulquiorra-kun! Quando dormia, você parecia mais simpático…

Arregalou os olhos de repente. Dormir? Nunca ninguém o havia observado nesse momento de fragilidade… Com certo receio, encarou sob seu ombro mas não viu ninguém. Escutou um ruído de alguém o chamar, redireccionando o rosto nessa direcção. Porém, o único que encontrou foi o intenso azul dos mares, com sua espuma alva. Com algumas algas peculiares alaranjadas a flutuarem…

Algas? Laranjas?

Não pode ser…

Num momento de distracção pelo choque, caminhou involuntariamente contra as pequenas ondas, encharcando seus tornozelos. Nesse momento, uma mulher veio à superfície, subindo em seu tronco, abraçando-o pelo pescoço.

- Pensei que você não lembrava de mim Ulquiorra-kun…

- Mulher, é você?

- Não faça essa cara! Parece que viu um fantasma!

Orihime ria descontraidamente, conformada com seu apelido por parte do ex espada. Por sua vez, o Shiffer estava demasiado atordoado. Não pela extrema aproximação de ambos, na verdade, ele ainda nem notara esse facto. Apesar de sempre a procurar intensamente, nunca pensou em sua própria postura quando o conseguisse. Sentiu algo húmido bater em seus joelhos. Só nesse momento, percebeu: como ela estava a nadar no mar com aquele tempo chuvoso?

Deslizou seus olhos esmeralda até as pernas… de Orihime. Uma cauda!? Recuou de imediato três passos até à areia, e uma vez que Inoue estava presa firmemente em seus ombros, nunca o largou, antes fincou mais o abraço. Desse jeito, ambos desabaram sob os grãos de areia.

- O que raio é isso, mulher!?

- Isso? Ah! Ulquiorra-kun, sou uma sereia! Sereias são…

- Eu sei o que são, mas… Como se converteu numa?

- Como na vida passada, se converteu num hollow?

Ele pretendia responder, mas não sabia propriamente o que dizer. Ulquiorra sequer sabia o acontecimento que o conduzira ao oco em seu peito.

- Eu também não sei como isso aconteceu.

Orihime abaixou ligeiramente seu olhar, observando sua cauda da mesma tonalidade de seus cabelos. Apesar de ter disfarçado com mestria seu desanimo, este não passou despercebido ao moreno. Por um momento, enxergou o reflexo de si mesmo.

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- Há outros como você?

Ela abanou negativamente com a cabeça, cobrindo seu olhar com a sombra de sua franja.

- Sempre procurei, mas nunca encontrei ninguém como eu… É tão solitário, não ter ninguém igual a nós.

Sim, ele sabia disso. Essa fora sua maior dor enquanto hollow. Ele era diferente na época, devia ter sido algo bom... Porém, foi essa característica distinta que o isolou. Quase se auto-destruiu, mas aquela mulher conseguira apagar essa dor. Seria justo ele fazer o mesmo com ela desta vez… Apesar que ele não o fazia por uma questão de justiça.

- Seus companheiros, os encontrou?

- Sim! Todos eles! Mas…

- Não se lembravam de nada.

Novamente ela agachou a cabeça. Voltando segundos depois a levantá-la, com um pequeno sorriso.

- Depois vi você, mas sempre que eu o chamava não respondia… Pensei que também não se lembrasse.

Ele prosseguiu a encará-la. Seu olhar intenso pareceu deixá-la constrangida, como antigamente, fazendo com que esta escondesse o rosto em sua camisa. Ulquiorra estava satisfeito por reencontrá-la, era o que mais ambicionava, contudo as circunstâncias não eram propriamente as que previra, nem eram favoráveis. Ela nunca podia abandonar o oceano, e ele nunca poderia abandonar a terra firme, definitivamente. Os eternamente separados.

Sentiu a ruiva sorrir contra seu corpo, estonteante. Aparentemente, ela ainda não se apercebera desse aspecto na qual o humano se contorcia. O que faria? Visitá-la todos os dias? Isso era suficiente? Será que em todas as suas vidas, eles sempre estariam destinados a pertencer a espécies distintas e desuníveis?

- Sei no que você está pensando Ulquiorra-kun… Mesmo não podendo ficar juntos todo o tempo, eu já sou feliz por pelo menos um pouco podermos estar assim.

Sempre o surpreenderia. Isso o fez sorrir discretamente. Uma curva na qual a ruiva não viu nem sequer pressentiu.

- Mulher, você é cada vez mais estranha.

- E você é cada vez mais humano, Ulquiorra-kun.

Carinhosamente, Orihime depositou sua mão direita no local onde sentia os batimentos do coração contra o peito do moreno.

- Você agora tem um coração.

Ulquiorra não se pronunciou, mas ela sabia que ele estava surpreendido pela ligeira alteração do ritmo dos batimentos. Inesperadamente, ele conduziu também uma de suas mãos a colocando sobre a dela, as entrelaçando. A ruiva não conseguiu conter o sorriso e algumas lágrimas no canto de seus olhos. Não só não se sentia mais só, como concretizou dois dos seus sonhos: tivera mais de uma vida, completamente distinta da anterior, como também era a chuva que unia os eternamente separados.

O céu nem sempre estava ligado à terra, só quando chovia havia essa união. Assim como ela não estaria sempre conectada a Ulquiorra, todavia era o suficiente. Por enquanto, naquela vida.

Não fora nem na primeira, nem na segunda vida que ela tivera seu sonhado "felizes para sempre" com seu príncipe encantado com uma armadura de morcego…

Mas, ela tinha esperança.

Ainda faltavam mais três, para seu amor ser consumado.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.