Bigorna

Um dia sem Laura Marques


Acordei meio tarde, por isso tomei um banho rápido e vesti o uniforme da escola. Meu cabelo estava mais rebelde do que é normalmente, então o prendi num coque. Fui para a cozinha, e pá... Não tinha maçã! O que será de mim, Amy Wennen sem a minha fruta preferida de manhã? Fiquei bem tristinha, então peguei uma garrafa d'água na geladeira e enfiei na minha mochila.

Sai de casa, tranquei o portão e coloquei a chave no meu pescoço, junto com o colar gayzão que Laura Marques tinha me dado. Falando nela, cadê aquela peste? Bom, achei que iria me acompanhar até a escola, como ela fazia... Mas tudo bem, eu sei andar sozinha, já que Jesus-Meu-Deus havia me dado duas pernas. Caminhei em direção a escola, vendo milhares de adolescente gritando, conversando alto em meu caminho. Hoje eu estava perdida, igual os outros dias em que não tinha conhecido Laura Marques. Sem saber o que fazer, me sentei no banco perto dos corredores, um lugar vazio, né? Peguei o livro de Inglês e li as tirinhas que tinham espalhadas pelas páginas, retirei meu celular e meu fone de ouvido, o conectei no celular e ajeitei em meus ouvidos. Relaxei ouvindo Maggie Rogers, encostei as costas na parede, voltei a folear o livro de Inglês. Por mais que eu tivesse distraída, eu estava pensando em Laura Marques, eu não a vi nos corredores. Eu estava preocupada. Entrei no WhatsApp e mandei uma mensagem para a Marques.

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Amy 1h24 PM

Princesinha tá na hora de acordar, perdeu a hora foi? Tem que estudar, sabia? Senão não vai poder trabalhar quando crescer.

Fiquei uns cinco minutos olhando para o celular, esperando a mensagem ser respondida, ou pelo menos, visualizada. Respirei fundo, pois o portão já tinha se fechado, e minhas esperanças tinham acabado. Laura Marques não ia para a escola hoje. Guardei o livro e o celular, me levantei do banco e fui para a sala de aula. Somente Íris e Caroline estava na sala, engoli em seco e me sentei no meu lugar, com a mochila na mesa, encostei meu queixo na mesma, olhando diretamente para o quadro negro. O restante dos alunos foi entrando, levantei a cabeça quando vi Thiago entrar. O chamei com vários psiu, então ele se direcionou até mim.

Quié, menina? – Thiago disse, sentando do meu lado.

— A Laura... Você viu hoje? Onde ela está? Ela tá bem?– interroguei, não escondendo minha preocupação.

— Olha, eu não vi ela não. Deve estar dormindo, aquela preguiçosa.

Thiago se virou para o professor, não dizendo mais nada. Fiquei mais tranquila, mas por outro lado, ia ficar sozinha. Respirou fundo e dediquei cinquenta minutos do meu tempo para prestar atenção no professor de História. Que sinceramente, mesmo sendo um grosso, ele ensinava bem. Quase sempre o quadro negro ficava vazio, porque ele, explicava tudo usando gestos, o que prendia minha atenção completamente.

A aula se encerrou, me deixando com aspiração de aprender. Já era a segunda aula, a maioria das pessoas trocaram de lugar por ser Arte, e a professora Karina era bem legal, liberava tudo. Thiago foi para os fundos, junto com o seu grupo social. Caroline se sentou do meu lado e a Íris atrás de mim. As duas ficaram conversando, assuntos bem aleatórios mesmo. Eu olhava para o lado de cinco em cinco minutos, e sempre meu olhar acabava se cruzando com o da Caroline, porém ela mantinha a conversa com Íris.

— [...] E você, Amy? – disse Caroline.

— O que? – perguntei, virando meu corpo para o lado, deixando meu braço em cima da mesa.

— Pegaria quem daqui da sala?

Você. – pensei. – Hum... Acho que ninguém.

— Tudo bem então.

Ficar perto de Caroline me deixava confusa, ela trocava muitos olhares comigo, e eu ficava bastante tensa.

A lição de hoje era: desenhar qualquer coisa. Tipo assim, o que você quiser. Então peguei o estojo e meu caderno de arte, deixando sobre a mesa. Fiquei pensativa por três ou cinco minutos, até que decidi desenhar um animal, uma coruja né, porque corujas são lindas. Movimentei minha mão direita rapidamente, pra fazer o contorno da coruja, mas fiquei bem concentrada para fazer os detalhes, afirmando bem o lápis na folha. Consegui entregar o desenho a tempo e ganhar meus pontos, fiquei bem felizínea. A aula seguinte era literatura, tipo, era só se sentar numa cadeira e ler, bem interessante essa aula. Guardei o caderno e sai em direção a biblioteca, ela ficava no andar de baixo da escola, um lugarzinho bem silencioso e assustador. A maioria dos alunos ficaram na sala, já que era opcional. Decidi ir para a biblioteca porque era o único lugar que eu me sentia confortável, depois do corredor dos bebedouros, é claro. Íris e Caroline decidiram me seguir, eu estava na frente, descendo as escadas depressa, me virei por um segundo e observei a mão de Íris junta com a da Caroline. E naquela hora consegui perceber: iria ficar de vela por quarenta e cinco minutos. Entrei na biblioteca e me sentei num sofá perto do ar-condicionado, a sala estava repleta de livros e gibis. Também tinha uma televisão, mas acho que só era para professores. Peguei um livro que tivesse ao meu alcance, o aproximei e consegui ler o título: Circo Invisível, por Jennifer Egan. Li primeiro a sinopse, e parecia ser bem interessante. Uma garota que perdeu o pai e a irmã, sai em busca de aventura. Aventura entre aspas né, porque só quer seguir os passos da irmã falecida e ter uma explicação do porque da sua morte. O silêncio daquela sala era incrível, eu contava na mente cada suspiro que as meninas davam. Acompanhava Íris escolher um livro com o olhar, e não me surpreendi quando ela escolheu um simples gibi. Deixei de prestar atenção nas meninas e voltei a ler o Circo Invisível, e ri baixo quando Phoebe fica loucona na maconha. Mas me decepcionei com ela por ter contado mentiras para o bonitão do Kyle. Parece que estava dentro do livro, a autora Jennifer Egan virou minha preferida por ter escrito com tantos detalhes. O sinal ecoou bem baixo no corredor de baixo, guardei o livro dentro de um tijolo quebrado atrás da prateleira. Ninguém ia pegar aquele livro, ele era a minha propriedade agora. Sai da sala e subi correndo as escadas, indo para o intervalo. Fui para o refeitório e peguei o suco de maracujá, me sentei numa mesa que tinha a vista para o parquinho. Mesmo me embebedando de maracujá, eu continuava pensando em Laura Marques Hetlen, e em como ela podia me fazer tão bem. Estava com saudades. Eu a amo.

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O restante da tarde se passou lentamente, quando me dei conta já tinha se passado duas aulas. Meu caderno estava cheio de exercícios de matemática, já resolvidos. Peguei o caderno e levei para a professora bem esquisita, o sotaque dela era irritante, seu cabelo era um louro, parecendo uma manga chupada, e também... Ela explicava mal. Recebi o carimbo e voltei ao meu lugar, entortando a boca, bufando, suspirando, pensando alto. Me concentrei no relógio que ficava a cima da porta, faltava poucos minutos. Peguei meu celular junto com os fones e o ajeitei no meu ouvido, me desliguei do mundo, deixei uma música bem aleatória, e bom, caiu bem numa música que me lembrava Laura Marques: Eu me lembro. Balancei a cabeça de um lado para o outro, cantando bem baixinho a parte da Clarice Falcão. No final da música, dei um sorriso e percebi o olhar de Thiago para mim, ele gargalhou e voltou a olhar para o seu caderno que estava sob seu colo. Olhei novamente para o relógio, me levantei e guardei minhas coisas na mochila, e então a coloquei nas costas. Senti meu celular vibrando e me desesperei, com certeza era uma mensagem de Laura Marques, certeza absoluta. Entrei no WhatsApp e me decepcionei, era uma mensagem da minha mãe.

Mãezoca Super Coruja 6h32 PM

Oii, não vou poder ir pra casa hoje, desculpa. Fernando me fez uma surpresa na casa dele e vou ter que ficar aqui. Tem macarrão na geladeira, me manda notícias e tranca a casa quando for pro quarto, bjs.

Respirei fundo e guardei meu celular, o deixando no bolso da blusa enquanto ouvia minha playlist só com músicas da Banda Mais Bonita da Cidade. Sai da sala assim que ouvi o sinal tocar, não vi Laura no portão e tinha certeza que ela não veio a escola hoje. Caminhei em direção a minha casa com a mão no colar, o acariciando e sorrindo abobadamente. Destranquei o portão e o tranquei assim que entrei, deixei todas as luzes da casa acessa pois eu nunca tinha ficado sozinha, esquentei o macarrão e comi na sala de estar, assistindo o jogo de basquete. Naquele dia, eu me deitei cedo, talvez eu tenha chorado um pouquinho, porque eu sou um pouco carente e dramática demais. Deixei uma mensagem para Laura Marques antes de dormir.

Amy 10h43 PM

Você não foi a escola hoje, fiquei preocupada. Eu achei um livro bem legalzinho, mas escondi ele, então você não vai poder ler ele. Espero que esteja bem. Boa noite. Eu amo você.