Cinzas de uma Era

Capítulo 7 - Cuide das minhas coisas


— Por que amanhã? – pergunta Peeta – Porque não hoje? Porque não agora?

— Bem ela pode ir agora se você quiser – retrucou Dick – mas assim como ofereci a você anteriormente, ela terá que ir a pé. Os carros chamam atenção, principalmente a noite, e o que menos queremos é uma outra gangue seguindo essa idiota até aqui. Sinto dizer pombinhos, mas vão ter que passar a noite aqui.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Katniss estremeceu; se já estava apavorada com esses momentos, que dirá passar a noite inteira, sabendo que nenhum daqueles homens eram confiáveis. Ao sentir sua agonia, Peeta segurou seu braço a fazendo se desvencilhar dele para pegar sua mão firmemente.

— Sabe – continuou Dick – costumamos ser hospitaleiros, mesmo que na primeira impressão não pareça isso. Temos algumas tendas... Tem um lugar naquele lado, e outro naquele – explicou ele apontando para direções diferentes.

— Ela vai dormir comigo. – disse Peeta em um tom seguro.

— Imaginei que falaria isso. Então espero que não se importem de dormir ao ar livre. Ali tem alguns colchonetes pode pegar. Talvez também tenha alguns forros. Vocês decidem. Vocês – gritou se dirigindo aos homens de seu bando – O show acabou, voltem cada um para suas tendas, e os que estavam de guarda, continuem. Até amanhã, Mellark.

Dado um último sorrisinho, Dick se retirou, fazendo com que os outros homens se movimentassem também, e em poucos minutos, os da guarda já estava em seus postos e os outros recolhidos. Apenas Katniss e Peeta continuaram parados, observando os movimentos de cada um.

— Vem, vamos ver algo para nos deitar.

Puxando Katniss, Peeta encontrou alguns colchões e estendeu dois deles no chão, chamando-a para deitar-se.

— Não vai fazer cerimônia agora vai? Saiba que eu ainda me lembro que você dormiu comigo essa semana.

— Para de brincar Peeta! Não vê em que enrascada nos metemos!

— Vamos sair dessa, não precisa se preocupar.

— Isso tudo é culpa sua! – acusou ela – se tivesse ouvido meu aviso não estaríamos aqui!

— Tá, de que importa de quem é a culpa agora? Vamos só sair dessa, okay?

Ela não respondeu apenas deitou-se de costas para ele. Não demorou muitos minutos para que os soluços dela pudessem ser ouvidos. Ao ouvir o choro da morena, Peeta aproximou-se dela, tocou seu cabelo devagar, em um movimento que nunca tinha feito.

— Hey Kat... Vamos embora amanhã... Confia em mim. Não vai acontecer nada com você.

— Estou com medo. – confessou ela, se sentindo mais que frágil naquele ambiente hostil.

— Eu ainda estou aqui, não estou? – perguntou vendo-a assentir – Não precisa se preocupar. Vai dar tudo certo. Amanhã estaremos em casa.

Ela puxou o braço dele por cima de seu corpo e ficou segurando-o ali, como se o braço dele a protegesse, como se fosse um abrigo, uma casa ou uma fortaleza.

A noite foi conturbada: nenhum dos dois dormiu, apenas tiravam pequenos cochilos que eram interrompidos por qualquer barulho que fosse: um tinido de metal, barulhos de ratos, um cochicho entre os homens.

Quando o céu finalmente começou a abrir depois daquela longa noite, um homem gordo os veio chamar.

— Dick já está os esperando.

Em uma entrada (antes não vista), estava Dick, Troid e mais dois homens. Havia também um carro preto surrado e com as bordas das portas enferrujadas, mas aparentemente funcionando.

— Eu quero um teste. – disse Peeta assim que chegou – quero que alguém passeie com o carro por pelo menos dez minutos. Quero checar o capô e a gasolina também.

— Qual a necessidade disso, companheiro? – indagou Dick, com um palito preso aos dentes.

— Estive pensando durante a noite. Talvez vocês só nos queiram mortos. Talvez coloquem uma bomba no carro para matar a garota enquanto ela vai e assim nunca conseguir voltar. Então você diria que ela me abandonou e me mataria.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Ou você se juntaria ao bando. Sabe que não é uma má ideia, Mellark?

— Quero o teste. – insistiu o moço

— Vai Troid. Dirige o carro por dez minutos. Mostra pra esse otário que cumprimos nossos acordos. – Ordenou Dick.

Troid dirigiu o carro o tempo que lhe foi ordenado e nada aconteceu. Depois de parado, Peeta revisou tudo no capô, porta malas, e dentro do carro. Por último, checou o tanque de gasolina, que não estava cheio, mas tinha gasolina suficiente.

— Se convenceu? – perguntou o líder – sua princesa pode cumprir a missão dela nesse humilde carro?

— Quero uma garrafa de gasolina a mais. O nível está baixo e de todo modo Troid usou um pouco dela agora, e um pouco quando eu o vi saindo com este mesmo carro de madrugada, não foi Troid?

Dick olhou para Troid tão sério que o homem mais alto fez questão de desviar o olhar.

— Tá esperando o que, Troid? – disse entredentes – pega uma garrafa de gasolina. Depois nós conversaremos sobre isso, imprestável. – deu uma pausa, suspirando e virando-se para o visitante - Mais alguma coisa Mellark? Eu espero que não, porque eu prefiro jogar merda na minha própria cara do que cumprir mais uma exigência sua.

Peeta não o respondeu, apenas olhou para os dois lados, para o carro e enfim para Katniss. Esperou que colocassem a gasolina no carro, depois dirigiu-se a ela.

— Vem, menina. Agora é com você.

Katniss entrou no carro, agarrando firme ao volante, a porta ainda aberta tendo Peeta abaixado perto dela.

— Você sabe onde estão minhas armas, Katniss – sussurrou – só pegue uma e volte. Não olhe para trás, não ajude ninguém que possa aparecer e pedir. Se alguma outra gangue aparecer, não pare. Corra até despistá-los e depois se esconda por dez minutos. Não sei. Mas pelo amor de Deus faça isso no tempo. Você está me entendendo?

Katniss assentiu, os olhos firmemente fechados, lagrimas voltando a escorrer. Raiva, receio, ansiedade, medo, adrenalina. Os punhos travados no volante e um frio na espinha que não passava, como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento daquele dia.

— Não chora. Para de chorar. Você tem que ser forte. Tem fazer isso por nós dois.

— É que... eu... – gaguejou – e se eles só quiserem te matar, Peeta? Já pensou nisso? Talvez eles só queiram te matar e esperar que eu volte para ser escrava deles, como eles queriam.

— Se quisessem me matar, já teriam feito, entende isso. – disse enquanto pegava a mão dela e apertava um pouco tentando passar confiança – pelo que eu vi, eles estão precisando mais de armas que de mulheres, confie. Talvez estejam sobre ameaça, não sei.

— Vocês vão ficar de cochicho ai, ou vão executar o que tem de ser feito? – interrompeu um impaciente Dick

— Presta atenção, agora é a hora. Você vai conseguir Katniss, isso é uma bobeira para o que você já passou, lembra-se?

A morena assentiu mais uma vez, tentando agora conter o nervosismo, enxugando as lágrimas com a manga do casaco. Em um movimento ligeiro, ela levou os braços para o pescoço do loiro, abraçando-o de modo forte e concentrado.

Era a primeira vez em meses em que ambos reviviam um abraço.

— Só não morre. – sussurrou ela, soltando-o sem cerimônias depois, mas não antes de sentir Peeta enfiar algo dentro do bolso de trás da sua calça.

Peeta levantou-se ainda meio atordoado com a demonstração de afeto da mulher, e se afastou da porta, dando espaço para que ela pudesse fechá-la e partir; e foi exatamente o que ela fez. Sem olhar para trás, hesitar ou observar as outras pessoas. Do modo como foi instruída.

Peeta ficou parado por vários minutos observando se alguém a seguiria, mas não houve ninguém, então logo ele pode ouvir novamente a voz de Dick:

— Relaxa companheiro, não vamos segui-la.

O loiro apenas ouviu sem ter a intenção de resposta alguma, seguindo para perto do portão onde sentou-se no chão decidido a ficar ali até que ela voltasse. Dick não se importou, apenas seguiu para dentro enquanto ordenava que dois homens ficassem de olho nele.

Já a alguns metros dali, Katniss achou um lugar tranquilo para parar o carro, movida pela curiosidade de saber o que Peeta tinha colocado em seu bolso.

Tirou de lá um papel amassado, com certeza uma folha do bloquinho de papel que ele nunca tira do bolso, que sempre é acompanhado de um pequeno, mas utilizável lápis.

Deduzindo pela letra mal feita, Katniss soube que ele havia escrito aquilo a noite:

“Não volte. Eles nunca nos deixarão em paz. Tenho certeza que tem alguém te seguindo. Fique aí, e ainda hoje eu direi que me juntarei a eles. Prometerei pegar as armas que tenho aí para que eles se interessem em mim, mas darei um jeito de matar todos na noite de amanhã ou depois, enquanto dormem. É o mais seguro, Katniss. Preste atenção para descobrir quem está te seguindo e dê um jeito de mata-lo. Você não é burra, não me decepcione. No lado oeste dos carros há apenas um de cor verde escuro. Esconderei outro bilhete lá, em dois dias, assim que estiver pronto para agir se ainda estiver vivo. Se em seis dias eu não voltar, cuide das minhas coisas.”