Cinzas de uma Era

Capítulo 25 - Conversa


— Acha que sou mentirosa? — perguntou ela, virando-se visivelmente irritada. — Responde, Peeta, você acha que sou mentirosa?

— E-Eu... — gaguejou, sentando-se na cama de forma ereta

— Acha que eu menti quando disse te amava? Acha que me sacrifiquei ao inimigo por você porque eu tive pena? Você é muito estúpido se acha isso!

— Katniss, eu não...

— Não! Não fala nada agora, eu que vou falar! — Ele por fim rendeu-se, e ela continuou. — Acha mesmo que eu iria embora e deixaria você aqui? Sozinho de novo? Depois de tudo que a gente passou? Depois de tanto perrengue que a gente teve que passar?

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— Katniss, eu só quero que você saiba que tem a opção de ir, se quiser. É só isso! Não quero que você se sinta presa a mim!

— Eu estou presa a você, idiota! Já estou presa involuntariamente e voluntariamente também. Não tem mais volta, você entende?

— Kat, se a gente tivesse vizinhos, todos já estariam ouvindo. Acho que você deve estar assustando garoto na sala.

— Dane-se!

— Vem, eu já entendi. — Estendeu os braços para ela. — Não precisa dizer mais nada.

— Não estou muito certa de que você entendeu. — Ele a puxou e a deixou em pé entre suas pernas enquanto ele sentado, erguia o rosto para olhar para ela. Ela abaixou seu tom ao continuar. — Não posso mais estar em um lugar onde você não esteja, você entende?

— Eu sei, eu sei. Me desculpe.

— Então foi por isso que você ficou daquele jeito? — perguntou ela. — Por isso que estava tão pensativo? Por causa de Gale?

— Ele quer voltar com você, você sabe, não é?

— O quê? — Ela riu. — De onde você tirou isso?

— Vem me dizer que não percebeu? O Olhar dele. Confia em mim, eu sei sobre essas coisas. Ele está mesmo querendo reatar.

Katniss gargalhou alto enquanto o via reclamar.

— Você ‘tá adorando, não é? Acho que você até ia ficar feliz com uma luta entre ele e eu. Porque você é meio maldosa às vezes, você sabe, não preciso dizer.

— Eu, maldosa? — continuava a rir. — Mellark, Mellark...

— Acho atraente, se quer saber. — Ele sorriu de lado, apertando com ambas as mãos a cintura dela.

— Nem vem desviando do assunto. Temos que tratar essa sua insegurança. E esse seu ciúme também.

— Ciúme? Quem falou que estou com ciúme? Não conheço nem essa palavra, para sua informação.

— Ah, conhece, não? — desdenhou ela. — E aquela cara feia, era o que?

— Um incômodo com a situação. Só isso.

— Ah é?

— É.

— Vou fingir que acredito — encerrou ela com um sorriso. Depois tornou a ficar séria, voltando a falar-lhe. — Não quero que fique inseguro. Eu te amo, Peeta. Encontrar meus conhecidos não vai mudar isso. Além disso – deu uma pausa, pegando a mão dele para observar a aliança que nunca saíra dali –, somos casados.

Ela tentou sorrir, mas em vez disso sentiu os olhos se encherem. Lily estava tão presente naquele anel quanto estava no dia em que celebrou a cerimônia fictícia.

— Por falar nisso — Peeta levantou-se e foi até a cômoda — que tipo de mulher casada não usa um anel? — Voltou com o anel da pedrinha de Rubi que ele resgatara do corpo carbonizado, deslizando sobre o anelar dela. – Isso ajudará na missão anti-Gale.

Katniss enxugou a lágrima fina que caiu para rir novamente. Sentou-se no colo dele, sentindo sua respiração em seu pescoço.

— Esse cheiro... Senti falta.

Peeta traçou um caminho vagaroso com sua mão para dentro de sua blusa, enquanto beijava-lhe várias vezes o pescoço.

— Peeta, para... O menino está na sala. É o primeiro dia dele aqui, não estraga.

— Arghhh! — Jogou-se na cama com Katniss ainda sentada em sua perna. — Todo mundo tem direito a uma lua de mel quando se casa, menos eu. Devo ter nascido para sofrer mesmo.

— Dramático...

— Dramático? — Levantou-se. — Experimenta dormir todos os dias com alguém bonita como você e não... bem, e apenas dormir.

Katniss riu e ele aproveitou que ela se encurvava pra trás para rir, para voltar ao pescoço dela.

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— Mellark...

— Hum...

— Mas você não tem jeito mesmo! — Levantou-se. — vou ver Otto.

— Otto para lá, Otto para cá... Esse garoto já está trazendo problemas.

— Que tipo de problema? Sentar e ler uma revista?

— Não. Ficar tomando a atenção da minha mulher toda hora.

Ela sorriu e repetiu baixinho “minha mulher” antes de calçar as sandálias para sair do quarto.

— Katniss?

— O quê?

— Te amo.

Ela sorriu e saiu, fechando a porta e gritando do lado de fora:

— Também te amo, Mellark.

~~~~ ~~~~~

— Você parece cansado, Otto. Não quer dormir?

— Na verdade sim — respondeu sorrindo.

— Se sente tranquilo aqui?

— Sim, bem tranquilo. Está tudo bem entre você e Peeta?

— Ah aquilo. — Riu Katniss referindo-se à discussão. — Peeta só é um garoto mimado. Nada demais.

— Tudo bem, então.

A morena pegou alguns lençóis e começou a forrar no sofá. O sofá de Lily. Sorriu quando se lembrou da fala da menina sobre “uma mocinha ter sempre de dormir na sua própria cama e não na dos pais”.

— Ela dormia aqui, não era? — Katniss virou para Otto, esperando que ele continuasse. — A menininha.

— Sim. Você estava aqui quando ela foi morta, Otto?

— Estava no carro. Eles me pegaram para dirigir. Peeta quase me acertou com uma faca.

— Sério?

— Sim, ele é bom no arremesso delas. Não fiquei bravo, se é isso que você imaginou. Eu também tentaria matar qualquer um se tivesse visto uma garotinha morrer.

— Ela era como uma filha para ele.

— Eu sinto muito.

— Sei que sente, Otto. Não precisa ficar mal. Agora vem, pode se deitar, amanhã será um longo dia para mim e para vocês dois que vão me levar.

— Você já falou com ele? — perguntou o garoto, já deitado. — Falou sobre mim?

— Sim, falei há pouco.

— Posso mesmo ficar?

— É claro, Otto. Ele também é grato a você por ter me ajudado.

Ele assentiu e fechou os olhos, deixando evidente seu cansaço. Em poucos instantes, dormia.

Katniss voltou ao quarto e encontrou Peeta outra vez deitado, com os olhos fechados, talvez dormindo. Ela deu a volta na cama e ajeitou sobre seu corpo o lençol e observou que ele não tinha comido nada.

— Nem venha me tapear, senhora Mellark — falou ainda com os olhos fechados, porém um sorriso aberto. — O garoto já dormiu. Você me deve algo?

—Devo? — perguntou ela, subindo na cama e logo após sentando-se no abdômen dele. Peeta gemeu de dor e ela riu. — Quebrado como você está, querido, a única coisa que te devo é silêncio para que possa dormir.

Saiu de cima dele e ele grunhiu outra vez, um pouco pela dor e um pouco pela reclamação.

— Hoje passa. Só o tempo de me recuperar dessas pancadas leves.

— Leves? — Riu ela. — São tudo, querido, menos leves. Olha o tamanho desses hematomas – averiguou ela, levantando a camisa fina cor renda. — ‘tá feio, hein?

— ‘Tá vendo? Você que provoca! — acusou.

Ela riu, colocando a roupa no lugar e o cobrindo novamente. Peeta voltou a fechar os olhos e sussurrou:

— Me lembre de não cair desajeitado na cama quando estiver todo ferrado.

Katniss deitou-se ao lado dele, sentindo suas mãos em sua cintura. Peeta continuava de olhos fechados, mas a respiração dele entregava que ainda não dormia. Sabendo do cansaço em que ele se encontrava, havia apenas uma razão para não ter dormido ainda. Algo ainda o incomodava.

— Por que está tão tenso, amor? O que te perturba?

O loiro abriu os olhos, olhando diretamente nos dela, porém não falou nada.

— Ainda é a coisa toda com Gale e o pessoal? Eu já te falei...

Ela o viu negar apenas mexendo a cabeça, então nem continuou com o discurso. Minutos depois, achou uma outra hipótese possível.

— Tem a ver com todo aquele sangue de Troid em você, não é, Peeta? — Ele fechou os olhos novamente. — O que aconteceu lá?

Por um longo tempo houve silêncio. Quando enfim tomou coragem, Peeta foi sucinto:

— Eu nunca tinha matado alguém daquela forma. É perturbador.

— Eu percebi que foi de uma forma bem sangrenta.

Ele sabia que ela não tinha perguntado como foi, mas estava esperando saber. O olhar dela, curioso, interessado, dizia tudo.

— Eu furei sua jugular. Furei com meus dentes, Katniss.

Em um primeiro impacto, a morena sentou-se na cama, se afastando um pouco dele. Peeta sorriu triste.

— Bem monstruoso, não é? Eu sei.

Katniss ainda tentava absorver o impacto que aquela informação teve em sua mente. Não parava de imaginar Peeta arrancando a pele do pescoço de Troid com os dentes, para matá-lo rasgando uma artéria principal.

Ao voltar os olhos para ele, viu que a olhava tristemente reparando em como ela se afastara, possivelmente imaginando que o condenaria por isso. Sentiu-se mal por fazê-lo se sentir assim. Se ele tinha chegado àquela situação, tinha sido por causa dela, o que menos queria era que ele pensasse que o afastaria por isso.

Voltou a deitar-se ao lado dele, agora sobre seu peito. Entrelaçou sua mão à dele antes de afirmar:

— Todos temos um lado monstro.

Ele pareceu respirar aliviado. Beijou-a na testa e nos cabelos, em um agradecimento silencioso. Depois sorriu antes de voltar a provocá-la:

— Espero que o tal Gale seja bom de briga, porque eu vou duelar pela minha dama.

— De novo essa história, Peeta?! Vê se cresce!