Capítulo 8

Peter

Peter seguia Anna silenciosamente, sentindo os anti-derrapantes de suas meias grudarem no chão de madeira.

Era início de dezembro, mais especificamente a noite do último dia de aula antes do recesso de fim de ano. O inverno finalmente chegara e o frio era tanto que, mesmo dentro de casa com o aquecedor ligado, eles sempre estavam agasalhados. A primeira neve já havia caído, mas fora uma camada tão fina que não era o bastante nem mesmo para brincar. Porém o garotinho tinha esperança que logo nevaria novamente e ele, finalmente, poderia fazer seu tão esperado boneco de neve.

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Anna entrou em seu quarto e Peter seguiu-a, fechando a porta em seguida. Logo estava sentado sobre a cama da menina, de frente para ela.

— Eu ainda não entendi direito o que você vai fazer - disse o moreninho, entregando o telefone do pai à amiga.

Anna sorriu e sentou-se ao lado dele.

— Você vai ver - ela disse acendendo a tela do celular.

A loirinha riu com a foto que encontrou, mas não demorou muito fez uma careta.

— Você sabe a senha? - ela perguntou esperançosa.

Peter franziu as sobrancelhas.

— Bem, a senha eu não sei - disse ele - Mas destrava com o meu dedo.

Anna abriu um grande sorriso e lhe estendeu o aparelho. O menino encostou o dedo onde seu pai lhe ensinara e ouviu um "click".

— Isso - sussurrou Anna.

Peter não sabia se aquilo funcionaria, mas Anna estava tão confiante que ele se convenceu que nada custaria tentar. Afinal, se desse certo, ele teria uma mãe. E não seria qualquer uma, seria tia Annabeth. A doce e carinhosa mulher dona do melhor cafuné do mundo e de um olhar tão amoroso que o fazia sentir-se completamente seguro.

— Tem uma foto nossa - comentou Anna, desviando o moreninho de seus pensamentos.

— Ahn? - ele perguntou, inclinando-se para ver o que a menina mostrava.

Na tela do telefone de seu pai, atrás dos quadradinhos dos aplicativos, havia uma foto. Anna estava certa. Mas a imagem não tinha só eles dois, mas tia Annabeth também. Nela, os três dormiam juntos sobre a cama da loira mais velha.

— Por que ele tem essa foto? - indagou a loirinha.

Peter deu de ombros.

— Sei lá - respondeu sem ter uma explicação concreta - Deve ser porque ele gosta da gente.

Anna também balançou os ombros, como se deixando aquele assunto de lado.

— Você trouxe o caderno que eu te pedi, não é? - perguntou a pequena, mudando completamente de assunto.

Peter assentiu e entregou o que ela pedia. A menina passou as folhas rapidamente, encontrando com certa facilidade aquilo que procurava.

— Ainda bem que o telefone do tio Percy é igual o da minha mãe - ela disse enquanto clicava na opção "criar novo contato", reconhecendo-a mesmo sem precisar ler.

— Como você ia fazer se a professora não tivesse ensinado a escrever "Papai Noel" hoje? - indagou o menino verdadeiramente curioso.

Anna balançou a mão, como sempre fazia quando achava que algo não era importante.

— Era só copiar as letras do enfeite da árvore de Natal - contou ela, sem dar muita importância.

Peter levantou as sobrancelhas, surpreso. Fazia todo sentido.

— Eu ainda não entendi como a gente vai falar com ele se não tem número - disse ele.

— Como você acha que as cartas chegam pro Papai Noel se a gente não tem o endereço? - perguntou Anna, como se a resposta fosse mais do que óbvia.

Peter sorriu convencido, achando-se mais inteligente que a amiga.

— Lógico que a gente tem o endereço! - ele exclamou - É Polo Norte!

A loirinha fitou-o incrédula.

— O Polo Norte é enorme, Peter - disse ela - Como você acha que nossas cartas vão pra Fábrica do Papai Noel e não pra casa de um esquimó?

Peter murchou. Outras pessoas moravam no Polo Norte?

— Esquimó?

— É - afirmou Anna - As pessoas que moram em iglus, aquelas casas redondas feitas de gelo.

O menino pensou por um momento e conseguiu visualizar a construção de que a amiga falava. Certamente a vira em algum desenho animado.

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— O ponto é, as cartas chegam por mágica. É só escrever "Papai Noel" que elas vão direto pra ele - explicou ela - É só a gente colocar o nome dele, que vai direto pro telefone do Papai Noel.

— Papai Noel tem telefone?! - indagou Peter de olhos arregalados.

— Se ele te deu um PlayStation, é lógico que tem um telefone - respondeu a menina.

— Mas você vai ligar pra ele?

Anna bufou e tirou os olhos da tela do telefone, voltando-se para o amigo. Peter engoliu em seco, ela estava claramente irritada.

— Não, né! - negou a loirinha impaciente - Vou mandar uma mensagem.

— Mas a gente não sabe escrever direito! - rebateu o moreninho, cada vez mais preocupado com aquele plano.

Anna lançou-lhe um olhar repreendedor, fazendo com que ele se calasse.

— É por isso que vai ser um vídeo, Pete - explicou ela, chamando-lhe pelo apelido - Agora pare de fazer perguntas e confie em mim. Vai dar certo.

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Percy

Percy segurou o braço de seu filho com força e, numa ação em conjunto com Annabeth, não o deixou cair, enquanto o mesmo escorregava sobre o piso do Shopping. Anna caminhava ao lado dos três. Sua expressão era de pura diversão e ela parecia esperar ansiosamente por sua vez de brincar.

Era sábado a noite e o grande programa do moreno mais velho fora levar duas crianças ao cinema para assistir uma animação qualquer que estivesse em cartaz. Para qualquer outro rapaz de 26 anos, aquilo não chegaria nem perto de sua ideia de diversão, mas com Percy era diferente. Amava ver os olhos dos pequenos brilhando, animados para ver o filme. Os sorrisos largos estampados nos rostos, por algo tão simples, e as risadas que ecoavam na sala de exibição.

E ainda tinha ela. Aquela era uma ótima oportunidade para observar Annabeth. Podia ouvir sua risada contida sempre que algo realmente engraçado acontecia e ver um sorriso doce formar-se em seus lábios quando a mulher achava algo fofo ou bonitinho. Tudo isso enquanto abraçava as duas crianças que haviam se jogado sobre ela.

Percy não sabia exatamente o porquê, mas a loira tornara-se mais carinhosa com ele nas semanas que tinham se passado. Sempre o abraçava quando ele chegava do trabalho, mesmo que o moreno não iniciasse o gesto, e mantinha-se mais tempo em seus braços. Além de que os sorrisos da mulher estavam cada vez mais frequentes, fazendo o moreno quase suspirar sempre que a via.

— Minha vez! - exclamou Anna.

Peter suspirou e cedeu o lugar para a menina. Assim que Percy segurou a mão da loirinha, percebeu a diferença. Apesar de não terem grande disparidade no tamanho, Anna era significativamente mais leve e delicada que seu filho. O moreno mais velho as vezes tomava cuidado extra, com medo que qualquer movimento levemente mais brusco a machucasse.

Anna fora outra surpresa para o rapaz. Percy não esperava que ela fosse se apegar tão rapidamente a ele, mas quando vira a menina a beira do choro no dia em que fora viajar, soube que já era muito importante para aquela pequena.

A loirinha sempre corria para abraçar suas pernas, os cachos loiros balançando e os olhos cinzentos brilhando, recebendo-o com um belo sorriso. Percy já não conseguia resistir àquela menina. Um mínimo repuxar de lábios dela já aquecia seu coração.

Anna soltou uma pequena gargalhada, tirando o moreno mais velho de seus pensamentos. Percy voltou-se para seu filho e viu-o sorrir com a felicidade da amiga. Então olhou para a menina que, de olhos fechados, ria baixinho como lhe era de costume.

— Pronto, querida, chegamos à praça de alimentação - disse Annabeth momentos depois.

Anna se ajeitou, soltando sua mão.

— Onde a gente vai comer? - perguntou a pequena a mãe.

Aquele foi o ponta pé para um grande debate, com direito a comparação de lanchonetes e seus brindes. Por fim, o ganhador foi o tradicional McDonald's. A fila não estava grande e, enquanto as duas pessoas a sua frente eram atendidas, Percy dedicou-se a acompanhar a animada conversa de Peter e Anna sobre o brinquedo que pediriam junto do McLanche Feliz. O rapaz segurou uma risada, lembrando que seu primo Nico sempre pedia o lanche infantil, mesmo tendo passado da idade há um bom tempo.

— Eu quero o Snoopy piloto de avião! - anunciou Peter, assim que a atendente perguntou quais seriam os brindes.

— Eu também! - completou Anna logo depois.

Percy assim que viu o expressão que o rosto da caixa formou, soube que havia algo errado.

— Infelizmente só temos um Snoopy aviador - disse a mulher, sorrindo sem graça.

— Não podemos ficar com o mostruário? - indagou Annabeth, tentando resolver a situação.

— Creio que não será possível - respondeu a atendente - Não estamos autorizados a vender o mostruário.

Annabeth o fitou, mordendo o lábio inferior, então suspirou e voltou-se para as crianças.

— Anna, Peter pediu primeiro - ela disse com calma e carinhosamente - Escolha outro, meu amor.

O olhar de decepção da menina fez o coração de Percy se quebrar em pequenos pedaços. A loirinha abaixou a cabeça, escondendo os olhos marejados com os cabelos, e assentiu.

— Quero o passarinho, então - ela murmurou com a voz embargada.

Percy sabia que Annabeth tinha sido justa. Peter havia pedido primeiro, era direito dele ficar com o brinquedo, mas ver Anna tão triste ao receber o bonequinho amarelo o deixava sem chão.

Ouviu Peter suspirar e voltou-se para ele. Viu o filho olhar para o cachorro de plástico em sua mão, ainda dentro do saquinho transparente, e morder o lábio inferior, exatamente como Annabeth havia feito. Teria seu o menino pego aquela mania dela? Então o pequeno deixou mais um pouco de ar escapar e deu de ombros.

— Seu eu te der o Snoopy, você vai me deixar brincar com ele? - indagou o moreninho.

Percy controlou-se para não deixar o queixo cair. Anna levantou a cabeça, o rosto demonstrava pura surpresa, assim como os olhos arregalados. A menina, assim que registrou a proposta do amigo, assentiu freneticamente. Peter, então, sorriu e trocou de brinde com a loirinha, que sorriu abertamente e o abraçou.

Assim que as criança se soltaram, Percy bagunçou os cabelos do filho, que fitou-o sorrindo divertido, como se tudo aquilo fosse planejado. Porém o rapaz sabia que não era e nem teria como ser, seu menino só estava se tornando um bom homem muito antes do que ele esperava.

— Vão sentando - disse o moreno segundos depois - Quando o lanche chegar, eu levo.

— Tudo bem - concordou Annabeth - Vamos crianças.

Os dois pequenos logo pegaram cada um uma das mãos da loira, afastando-se junto em direção as mesas da gigantesca praça de alimentação.

Percy virou-se para para o balcão e fitou a bandeja a sua frente, ainda somente com os canudos e os guardanapos.

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— Com licença - pediu uma voz, fazendo o rapaz olhar para o lado.

Era uma mulher. Cabelos loiros na altura dos ombros, olhos castanhos e, provavelmente, beirando os quarenta anos.

— Sim - respondeu Percy.

A mulher sorriu.

— Eu estava atrás de você na fila e não pude deixar de ver o que aconteceu - contou ela - Só queria parabenizar você e sua esposa, seus filhos são muito educados.

O moreno mal conseguiu absorver a fala da loira a sua frente.

— Obrigada - ele agradeceu automaticamente, ainda tentando processar o fato que ela tinha referido-se a Annabeth como sua esposa.

— Realmente fiquei impressionada com os dois - continuou a mulher - A menina não fez pirraça quando não recebeu o brinde que queria e o garotinho foi um verdadeiro cavalheiro cedendo o brinquedo para a irmã.

Percy sorriu e assentiu. Realmente estava orgulhoso de seu filho e não cansava de admirar a boa educação de Anna, sempre discreta e contida.

— Muito obrigada - agradeceu novamente, sorrindo para a mulher a sua frente.

Viu seu lanche arrumado sobre a bandeja e segurou-a, tentando equilibrar os quatro trios. Balançou a cabeça para a mulher com quem conversara, em um aceno de despedida, e seguiu em direção a multidão de mesas.

Percy andou alguns metros, praguejando internamente por não ter combinado uma área limite para onde a mesa deles deveria estar, contudo, não demorou a acha-la. Logo avistou os três sentados em volta de uma mesa circular. Anna e Peter estavam completamente distraídos, divertindo-se com seus brinquedos novos, enquanto Annabeth dividia sua atenção entre eles, as bolsas ao seu lado e tudo a sua volta.

Percy suspirou enquanto atravessava os pequenos caminhos entre as cadeiras, tentando não esbarrar em nenhuma delas. Sentia-se um adolescente inseguro, com medo de se declarar para a mulher amada. Porém, ele entendia que não era bem assim. Sabia que Annabeth não pretendia entrar em um relacionamento e compreendia seus motivos. A grande questão era fazê-la perceber que, com ele, ela não teria nenhum daqueles problemas. O rapaz precisava calcular o momento certo para fazer a declaração, de maneira a não ser rejeitado.

O moreno notou que aquela que invadia seus pensamentos tinha-o avistado. Annabeth sorriu e levantou uma das mãos, na intenção de fazer-se enxergar em meio a multidão. Percy sorriu, lembrando-se do que a mulher no McDonald's havia dito. Ele não havia negado nada porque era verdade. Mesmo que ainda não fosse real, logo seria. Afinal, a loira de olhos cinzento era sua esposa e a pequena sua filha, elas só ainda não sabiam disso.

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Percy observou seu filho deitar-se sobre a mesa. Os braços cruzados e a cabeça apoida sobre eles. Seus olhos estavam entreabertos, mas o rapaz sabia muito bem que aquilo só significava que o sono ainda não tinha tomado o menino completamente. Anna bocejou e coçou os olhos, apoiando o rosto nas mãos, que estavam para cima, com os cotovelos firmes na superfície de metal.

— To com sono - reclamou a pequena, declarando o óbvio.

Percy chegou a ter vontade de rir, mas prendeu completamente a respiração quando a loirinha pulou para seu colo, sentando-se sobre suas pernas. Antes que o moreno pudesse registrar a situação, Anna encolheu-se contra seu troco e se aconchegou, fechando os olhos e sorrindo, deixando-se levar para os territórios de Morfeu.

O rapaz abraçou a pequena, ajeitando-a melhor e mantendo-a firme onde estava. Passou os dedos levemente pelos cabelos da menina e sorriu para si mesmo. Talvez ele estivesse errado e ela não fosse uma princesa, mas sim um anjinho.

— Acho que essa é a nossa deixa - disse Annabeth, colocando as bolsas sobre os ombros.

Percy assentiu e segurou Anna melhor, fazendo-a enroscar os braços em seu pescoço e as pernas em seu tórax. O homem levantou-se e fitou o filho.

— Consegue andar até o carro? - perguntou para o pequeno.

Peter assentiu e segurou uma das mão de Annabeth, que sorriu para o menino e mexeu em seu cabelo, fazendo o moreninho repuxar os lábios.

Percy equilibrou a pequena em seus braços e passou a caminhar vagarosamente, sentindo a respiração da loirinha contra seu pescoço. Sorriu para Annabeth ao ver que esta carregava a mochila de Peter, mas a mulher nem ao menos percebeu, já que estava concentrada em sua tarefa de fazer o moreninho andar pelos corredores do shopping sem esbarrar em ninguém.

Aos poucos Peter foi despertando e, no fim, ele e Annabeth já andavam a frente de Percy, conversando sobre algo que o moreno não conseguia ouvir. Anna revirou-se em seus braços e o rapaz a ajeitou novamente, sentindo-a aconchegar-se e resmungar entre o sono. A loirinha suspirou, como se estivesse sonhando com algo muito bom, e abriu um sorriso fofo.

— Pa.. - disse a pequena, ainda desacordada - Pap... Papa... Pap... Pai...

Percy estancou no lugar em que estava. Alguns passos a frente podia ver Annabeth e Peter apontando para a vitrine de algumas lojas. As pessoas contornavam seu corpo, parado no meio do caminho, e alguns até mesmo o olhavam estranho. As vezes confusos, as vezes bravos por estar ocupando a passagem.

Porém, nada daquilo importava naquele momento. A única coisa em que Percy conseguia se concentrar era nas balbuciações da pequena em seus braços. Papai. Fora isso que ela dissera enquanto dormia. Ela chamara pelo pai. Era óbvio que sempre havia a possibilidade de Anna estar se referindo a seu pai biológico, mas levando em conta que ela nunca o conhecera, aquilo era um pouco difícil. Pelo que o rapaz sabia, a menina nunca tivera nada parecido com uma figura paterna. Bem, nada antes dele.

O coração de Percy acelerou e ele freou as lágrimas que ameaçavam surgir em seus olhos. Apertando a menina carinhosamente contra seu corpo, o moreno sorriu. Saber que Anna o considerava como tal era, simplesmente, maravilhoso. Não conseguia descrever aquelas emoções dentro de si. A única coisa que tinha certeza naquele momento era que, muito em breve, ele teria uma família novamente.

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Annabeth

Annabeth ajeitou os cabelos de Anna pela décima vez, certificando-se de eles ficassem arrumados sob a toca e que as orelhas da filha permanecessem cobertas. A pequena nem mesmo reclamou, sabendo que aquele era um hábito imutável da mãe. Uma fina camada de neve cobria o chão e a brisa fria da manhã cortava o ar.

A verdade era que a loira estava nervosa. Estava, junto de Peter, Anna e Percy, parada à porta da casa onde o mais velho crescera. Por algum motivo, conhecer a mãe do rapaz era ao mesmo tempo bom e assustador.

Quando Percy sugerira que deixassem os pequenos aos cuidados de sua mãe, ela hesitara. Tudo que não queria era dar trabalho para alguém. Porém as crianças tinham se animado muito com a ideia e o moreno acabou dobrando-a com a desculpa de que sua mãe amaria tomar conta deles e que era só até as festas. Annabeth precisava deixar registrado que fora uma competição um tanto injusta. Não era como se ela resistisse muito bem a um par de olhos pidões, imagine três!

Então, lá estava ela, frente a porta de uma casa em um bairro residencial afastado do centro.

Colocou-se de pé, já que se abaixara para ajeitar filha, e respirou fundo, passando as mãos pelos próprios cabelos. Sentiu uma mão tocar seu braço, coberto pelo grosso tecido do casaco que usava, e olhou para lado. Percy sorria amigavelmente, transmitindo-lhe confiança.

— Não se preocupe - ele pediu.

Annabeth retribuiu o sorriso e assentiu, torcendo para que ele culpasse o frio pelo rubor em seu rosto. Estava tão explícito que ela estava nervosa que até mesmo Percy notara?

Antes que a loira pudesse pensar sobre aquilo, a porta se abriu. A mulher que surgiu usava calça preta e suéter verde-escuro. Annabeth não precisou de muito para notar as semelhanças com Percy. O formato do rosto e o sorriso doce eram facilmente reconhecíveis, mesmo que de resto o rapaz em nada parecesse com a mãe, dona de olhos castanhos e cabelos no mesmo tom, que jaziam amarrados em um rabo de cavalo.

— Percy, querido! - exclamou a mulher, abraçando o moreno - Já estava te esperando!

Percy sorriu e retribuiu o gesto. Por um momento Annabeth sentiu saudade de seus pais. Tinha um bom tempo que não recebia um abraço aconchegante de sua mãe.

— Meu netinho! - disse a mãe de Percy, dirigindo-se a Peter - Como está, querido?

Peter seguiu o exemplo do pai, sorrindo e abraçando o morena.

— To bem, vovó - respondeu o pequeno carinhosamente.

A mulher se afastou e sorriu para o menino, ajeitando seus cabelos com os dedos. Annabeth riu internamente. Pelo jeito não era só ela que fazia aquilo sempre que via o moreninho.

— Oh, você deve ser a Annabeth - disse a mãe de Percy, levantando-se - É um prazer conhecê-la, querida!

A loira surpreendeu-se quando a morena a abraçou e retribuiu o gesto desajeitadamente.

— Prazer, sou Sally Jackson - disse a mulher ao solta-la - Mas, por favor, me chame de Sally.

Annabeth sorriu. A mãe de Percy parecia tão cheia de vitalidade e energia quanto ele.

— Annabeth Chase - retribuiu a loira - Muito prazer, Sally.

— Vem, Anna! - chamou Peter.

A loira mais velha sentiu a filha agarrar-se a sua perna, escondendo-se atrás dela. Imediatamente colocou uma das mãos sobre a cabeça da menina, sabendo o quanto aquele gesto lhe trazia segurança.

— Vamos filha, se apresente - incentivou Annabeth.

— Não precisa ter vergonha, princesa - garantiu Percy.

Anna soltou-se vagarosamente das pernas da mãe e postou-se frente a Sally. Não era possível ver o rosto da menina, já que esta mantinha a cabeça baixa e assim os cabelos, mesmo sob o gorro azul claro, caiam tampando sua face.

— Oh! Percy, você tem toda razão, ela é linda! - disse a mãe do rapaz.

Annabeth viu a filha erguer um pouco a cabeça, deixando a mostra seu sorriso tímido e as bochechas avermelhadas.

— Obrigada, Sra. Jackson - agradeceu a pequena em um tom de voz somente alto o bastante para que todos a ouvissem.

— Por nada, querida - respondeu a morena - Agora, por favor, nada de senhora. Chame-me de vovó Sally, assim como Peter, tudo bem?

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Annabeth não pode não se surpreender quando a filha olhou para cima, com um belo sorriso nos lábios e os olhos azuis, coloração que perduraria até o fim do inverno, brilhando.

— Posso mesmo? - indagou ela, dessa vez confiante.

— É claro - reforçou Sally.

Anna só não pulou porque aquilo não era de seu feitio, mas Annabeth sabia que a garotinha teria feito se fosse. A expressão de felicidade no rosto da menina era, simplesmente, sem igual.

— Quer dizer que... Agora eu tenho duas avós - Anna concluiu seus pensamentos em alto e bom som - Assim como todos os meus coleguinhas da escola.

A pequena finalizou sua fala abraçando Sally. Annabeth sentiu-se culpada. Os pais de Luke nunca tinham gostado dela, então nem mesmo haviam conhecido a neta. A loira sempre achara que fora melhor daquela maneira, pois não teria que lidar com eles. Porém, ao ver o quanto uma segunda avó era importante para sua filha, arrependeu-se amargamente. Com um pouco mais de esforço, poderia ter sanado aquela necessidade da menina há muito tempo.

Sally logo os mandou entrar. A casa não era muito grande, na verdade Annabeth a descreveria como do tamanho certo. O revestimento de madeira escura trazia ao ambiente uma sensação de aconchego maravilhosa. Os sofás eram grandes e extremamente confortáveis, afundando com o peso sobre eles. E o cheiro. Sim, aquele típico cheiro de casa da vovó. Algo como biscoito caseiro e roupa lavada.

— Percy, ajude as criança a levar as coisas lá para cima, sim? - pediu Sally, vendo o filho assentir e subir as escadas na companhia dos pequenos.

A morena, que havia sentando ao lado de Annabeth, virou-se para ela e segurou suas mãos.

— Muito obrigada, Annabeth - ela disse, surpreendendo a loira extremamente - Por mais que não admitisse, meu filho estava muito sozinho, precisando de alguém. E mesmo que eu tente suprir todo o carinho que Peter precisa, ele necessitava de uma mãe.

Annabeth corou e desviou os olhos. Tinha certeza que Percy não dissera a mãe que eles estavam juntos, então a mulher havia suposto aquilo por si mesmo, o que só deixava a loira duas vezes mais constrangida pela situação.

— Nós não... - tentou explicar.

— Eu sei que ainda não estão juntos, ao menos oficialmente - revelou Sally, deixando Annabeth confusa - No entanto, eu conheço meu filho. Ele já não consegue esconder o que sente por você e, só de olhar seus olhos brilhando, sei que é recíproco. Isso tudo sem falar de Peter, que tem como assunto principal você e Anna desde que se conheceram.

Annabeth corou ainda mais, mas dessa vez sustentou o olhar de Sally. Estaria mesmo Percy apaixonado por ela?

— Pode ainda não ser realidade, mas eu não consigo ver nada mais que uma família ao observar os quatro juntos - compartilhou Sally - Muito obrigada por dar a Percy a oportunidade de ter isso novamente.

Annabeth sorriu e, antes que pudesse responder qualquer coisa, os três ausentes voltaram a sala. Percy logo adiantou-se, dizendo que precisavam ir ou se atrasariam para o trabalho. A loira mais velha fitou a filha e se aproximou dela. Anna mantinha o mesmo sorriso no rosto e, já de meias e sem a touca e o casaco, parecia só esperar o momento para começar a brincar.

— Comporte-se e obedeça Sally, ok? - mandou a mãe, abaixando-se para ficar na altura de filha - Você sabe meu telefone de cabeça?

Anna assentiu.

— Sim, mamãe.

— Ótimo. Qualquer coisa me ligue. Se esquecer o número, tem um papel com ele anotado na sua mochila - avisou Annabeth - Venho te buscar depois do trabalho.

A pequena balançou a cabeça em afirmação e abraçou a mãe, que retribuiu, alisando os cabelos loiros da filha.

— Tchau, tia Annie! - Peter jogou-se sobre ela assim que Anna se afastou.

Annabeth riu e bagunçou os cabelos do menino em seus braços.

— Você também, comporte-se, ouviu bem? - disse a mulher com falsa seriedade.

O moreninho se afastou e bateu continência, sem deixar o sorriso nos lábios. Annabeth balançou a cabeça e se levantou. Caminhou até Sally e a abraçou rapidamente.

— Muito obrigada, Sally - disse soltando da mãe de Percy - Qualquer coisa me avise.

A morena sorriu.

— Não se preocupe - pediu ela - Agora vão, antes que se atrasem!

Um minuto depois Annabeth e Percy já caminhavam para seus respectivos carros. A loira não conseguia tirar a conversa que tivera com Sally da cabeça. Seu coração dava pequenos pulinhos sempre que repassava as palavras da mulher. Queria tanto que ela estivesse certa...

— Você já comprou o presente de natal de Anna? - perguntou o rapaz subitamente.

— Não, ainda não - respondeu a loira, parando em frente ao seu veículo.

Percy coçou a parte de trás da cabeça.

— Eu nem mesmo achei a carta de Peter - ele disse, parecendo preocupado - Esse ano ele não me pediu ajuda. Pensei que... Talvez... Tivesse pedido a você...

Annabeth sorriu e negou. Já sabia o que estava acontecendo. Percy estava na mesmo situação em que ela se encontrava até a noite anterior. Lembrou-se das palavras de sua filha e corou, desviando os olhos. Por que tudo parecia conspirar para aquilo?

— Depois olhe a caixa de mensagens de seu telefone e procure algo enviado para o contato "Papai Noel" - falou ela, tentando disfarçar o rubor em suas bochechas - Provavelmente Peter e Anna compartilharam da mesma ideia.

Percy franziu as sobrancelhas.

— Só faça - disse Annabeth, rindo da expressão do rapaz.

— Ok - ele respondeu dando de ombros.

A loira sorriu novamente e se aproximou para despedir-se. Em um movimento completamente impensado, abraçou-o. Quando notou o que estava fazendo, tentou se afastar, afinal, estavam no meio da rua. Porém, antes que conseguisse, dois braços envolveram seu corpo e Annabeth sentiu seu corpo ser pressionado contra o de Percy. Seu coração estava a mil e seu respiração completamente descompassada. O cheiro do moreno invadia suas narinas, anuviando seus pensamentos.

Por fim, relaxou. Deixou-se ser abraçada e aproveitou o momento. Permitiu-se desfrutar do quanto era quente e confortável ali. Pensou, de repente, na possibilidade de uma outra mulher também ser envolvida daquela maneira pelos braços do rapaz. Imediatamente um desespero a tomou e somente se esvaiu quando se concentrou na ideia de que era ela quem estava ali, e não outra.

Sentiu o Jackson abaixar a cabeça e a respiração quente dele bater em seu pescoço. Suspirou levemente e fechou os olhos. Sua mãe estava certa, Sally estava certa e até a pequena Anna estava certa. Ainda não sabia o que faria, mas uma coisa era certa, por mais que tentasse, inutilmente, negar. Percy já era seu e de mais ninguém.