Somebody that I used to know

Meu melhor amigo/Meu maior inimigo


Eu me lembro de quando a Primeira Ordem nos recrutou. Éramos centenas de crianças sem nome, e em breve sem rosto. Contudo, todos nós tínhamos ordens para seguir. Aulas de tiro, aulas de combate, treinos com armas giratórias.

Tirando o nosso número de identificação, nada era verdadeiramente nosso. Tudo o que tínhamos pertencia à Primeira Ordem. Exceto a nossa amizade. Ele era o FN-2187. Poucas vezes tínhamos visto o rosto um do outro. Não era necessário. Nós nos conhecíamos muito bem. Nossos estilos eram parecidos. Quando possível, ajudávamos um ao outro. Nos serviços da nave, escoltas e vigílias. Eu achei que duraria para sempre.

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Tudo mudou quando ele saiu em missão. Sua primeira missão. Se eu pudesse ver os seus olhos através dos nossos capacetes, diria que estariam brilhando de empolgação. Aquele, provavelmente, foi o meu primeiro engano a respeito dele. Porém, meu coração ignorou aquele instinto de que havia algo errado e preferiu acreditar que ele ainda era um de nós.

FN-2187 nunca voltou de Jakku. Assim que subiu na nossa nave, com o capacete manchado de sangue, perguntei o que tinha acontecido. 2187 nada me disse. Se escondeu em algum lugar, onde, como eu soube depois, desobedeceu às normas e removeu o capacete, recebendo uma repreensão da capitã Phasma.

Talvez eu tenha errado. Deveria ter conversando com ele. Perguntado o que havia. Mas decidi lhe dar algum espaço. Com o tempo, ele voltaria ao normal e voltaríamos a integrar tão orgulhosamente a linha de frente da Primeira Ordem. E foi quando eu me enganei novamente sobre o meu amigo.

Em uma atitude ousada, e levemente habilidosa devo reconhecer, ele libertou nosso prisioneiro, um piloto da Resistência, e fugiu com o mesmo em uma das nossas naves de caça.

Me lembro de atirar, em vão, contra o caça, na esperança de impedi-lo de partir. FN-2187 quase me atingiu enquanto disparava contra tudo o que via na tentativa de ganhar tempo para sua fuga. Me convenci de que tinha sido acidental. De que algo tinha acontecido a ele em Jakku. Alguém tinha feito alguma coisa a ele. Mas eu sabia, no fundo do meu coração, que ele fazia aquilo de acordo com a própria vontade.

E, em um rápido e sujo pensamento de traição, me perguntei porque ele tinha escolhido o piloto, aquela escória rebelde, em vez de mim.

Tive notícias de Jakku. FN-2187 já tinha mais companhia. Mais amigos. E eu estava sozinho. Sozinho e desolado. Tudo o que me restava era a lealdade à Primeira Ordem, e nesse sentimento me agarrei.

Agora, nós encontramos em Takodana. Ele não me viu, e se visse, como reconheceria? Meu amigo está morto, e estou diante de um estranho. Um estranho com um rosto que me trazia tantas sensações boas e familiares, mas, ainda assim, um estranho. E um inimigo.

Diferente do meu amigo FN-2187, esse Finn utiliza um sabre de luz azul. A cor dos Jedi, inimigos da Primeira Ordem. Meus inimigos.

– Traidor! – Eu grito. Finn se vira para mim em tempo de me ver largar o escudo e sacar a minha arma elétrica, girando-a. Eu vejo em seu olhar que ele me reconhece, mas não há palavras dele para mim, nem palavras minhas para ele. Não há nada mais a ser dito. Nossa amizade já morreu. E agora, um de nós irá junto. Para sempre.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.