Olhei para Apolo e me lembrei de todas as brigas que já tivemos. Ciúmes, sexo, medo e decepção. A única vez em que ele pediu pra “dar um tempo”, e dois dias depois estava na minha cama reclamando que eu o deixava louco, mas que não conseguia ficar sem mim. E de todas as noites dormindo de conchinha no meu quarto do dormitório, e acordar sozinha por que ele tinha que dirigir a maldita carruagem solar. De todos os amassos e o “vamos parar por aqui”. E do primeiro “eu te amo” dito.

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Apolo estava com os olhos cheios de lágrimas.

— Ah, fala sério! – zombei. – Se você começar a chorar agora eu mudo de ideia e termino com você!

Ele franziu a testa sem entender e eu caminhei até ele. Acariciei seu lindo rosto e rocei meus lábios nos dele. Apolo deu um sorriso trêmulo de quem vai começar a chorar e engoliu em seco.

— Eu amo você. – falei. – Eu só precisava ter essa certeza.

Ele soltou o ar que eu nem sabia que estava prendendo e me abraçou apertado.

— Nunca mais me assuste desse jeito. Eu pensei que você fosse me deixar...

— Pensou errado. – acariciei seu cabelo. – Eu estou bem aqui.

Ele suspirou baixinho e continuamos abraçados, ele com o queixo no meu ombro, os braços em volta da minha cintura, e eu acariciando o cabelo dele... Droga, agora meus olhos também estavam cheios de lágrimas. Pisquei para afasta-las bem na hora em que Ártemis entrou na tenda. Apolo se virou pra ela, entrelaçando os dedos nos meus.

— Irmãzinha! – disse ele, mudando rapidamente de humor. – Não acredito que você deu aquele cartão pra Tracy!

— Eu dei uma escolha a ela.

— Ela já fez uma escolha. Eu.

Ártemis deu de ombros e olhou entediada para o irmão.

— Está na hora de você levar a minha ex-caçadora ao Acampamento Meio-Sangue.

— Só mais cinco minutos com a Tracy e eu já vou.

Ártemis suspirou.

— Cinco minutos. cinco minutos.

Ela saiu da tenda e Apolo se virou pra mim, já levando uma mão ao meu cabelo e os lábios aos meus. Ele me beijou, cheio de paixão, e me apertou contra seu corpo.

— Tenho uma coisa pra você.

— O que? – falei, enquanto mordia seu lábio. – Outro colar?

— Não – ele sorriu, enfiando as mãos pela minha blusa. – Outra coisa. Tá no seu carro.

— Uma surpresa? – perguntei, enquanto ele acariciava meus seios e beijava meu pescoço.

— Uma surpresa. – repetiu.

Apolo começou a sugar minha pele e eu inclinei o pescoço de lado, mordendo o lábio de prazer.

— Pronto – disse depois de um tempo, se afastando e olhando o resultado. – Isso deve manter aquele filho de Ares longe.

Apolo! — o empurrei, embora sorrindo.

— Acha que eu não sei que ele dá em cima de você? – sorriu. – Eu vejo tudo, Tracy.

— Até quando estou tomando banho?

— Talvez. – ele deu de ombros. – Quem sabe?

Eu ri e cruzei os braços.

— Eu também vi o que você fez com aquele carinha do posto de gasolina.

Minhas bochechas coraram.

— Eu não fiz nada.

— Não? Só apertou a virilha dele, nada demais...

Bufei e me aproximei dele, correndo a ponta do nariz pelo seu pescoço e depositando um beijo atrás da orelha.

— Eu jamais trairia você.

— Assim espero. Por que eu estou andando na linha, exatamente como você queria...

— Continue assim.

— Por você, Raio de Sol? Qualquer coisa.

— Apolo? – Ártemis voltou. – Já deu cinco minutos.

— Só mais um beijo.

Ele se inclinou, me beijando na frente da irmã.

— Isso é uma falta de respeito! Já não basta eu ter deixado vocês se... envolverem na minha tenda? Tem que fazer isso na minha frente também?!

— Olha só – ele a encarou. - Eu não sei quanto tempo vou ficar sem ver o amor da minha vida, então perdoe-me se eu faltar com respeito na sua presença, mas você não precisa ver isso.

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Ele sorriu e voltou a me beijar, por fim depositando um beijinho na ponta do meu nariz e me soltando.

— Qualquer dia desses eu te sequestro no meio da sua missão.

— Vou esperar ansiosamente.

Ártemis fingiu vomitar e Apolo piscou pra mim, sorrindo.

— Ah, espera – falei, segurando a gola de sua camisa. – Não vá dar em cima daquela caçadora. Eu vou saber se você tiver feito isso.

— Não confia em mim, amor?

— Não mesmo.

Ele fingiu-se de ofendido e me roubou mais um beijo antes de sair da tenda.

— Hã... Tracy? – disse Ártemis. – Tem uma marca obscena no seu pescoço.

— Obrigada! – falei já soltando o cabelo e penteando-o com os dedos. – Eu já estava esquecendo.

Ela deu um sorriso forçado e começou a sair da tenda também.

— Ártemis – fui atrás dela. – Desculpe se faltei com respeito a você. É que...

— Eu entendo. Também já estive apaixonada, Tracy.

Engoli em seco. Eu conhecia a história muito bem. Órion era um caçador, e Ártemis estava tão apaixonada por ele que até se entregaria, perdendo a virgindade. Apolo, enciumado, enganou a irmã dizendo “Duvido você acertar uma flecha naquela mancha negra lá na água”. Ártemis aceitou o desafio, ofendida, e acertou Órion que estava se banhando no rio. Ele morreu e virou uma constelação.

— Mas se vocês tivessem passado de beijos...

— Não. – interrompi. – Não fazemos sexo.

— Por que não?

— Por que os deuses não tem uma camisinha divina, e eu não quero engravidar aos dezessete.

Ela me olhou quase admirada, mas balançou a cabeça e mudou pra como se me achasse estúpida.

— Até quando acha que ele vai aguentar? – perguntou, enquanto caminhávamos. – Estão juntos a o que, dois meses?

— Um ano. E se ele não puder mais aguentar, terminaremos. Já deixei isso bem claro pra ele.

— Você não vai terminar com ele, Tracy. O ama demais pra deixa-lo ir. E tenho de admitir, nunca vi Apolo desse jeito. Acho que ele nunca amou ninguém da forma como ama você.

— Obrigada, eu acho.

— Não agradeça. Ele acabará com o coração partido e você morta.

Engoli em seco. Caminhamos em silêncio até a carruagem de Apolo, onde Juliet, Trent e Lindy já estavam.

— Senhora Ártemis! – Mandy correu até nós. – A pele do Leão de Neméia não quer se transformar!

— É claro que não, ela só vai se transformar nas mãos do herói que o matou.

Mandy franziu a testa para mim e estendeu um monte de pele na minha direção. Assim que a toquei, a pele se transformou num cumprido casaco guarda-pó marrom-dourado.

— Bizarro...

— Bizarro? – repetiu Mandy. – Nada pode atingir o casaco. É como um colete a prova de balas divino.

— É meu?

— Você matou o leão, não matou?

Fuzilei-a com o olhar e caminhei até Lindy, que estava com os olhos vermelhos de tanto chorar. Apolo estava apoiado no carro, os braços cruzados, observando tudo com um ar de divertimento.

— Quero te dar de presente. Use.

— Mas...

— Pega logo.

— Não, eu...

— Se você não quiser, vou dar em sacrifício a Hera.

Lindy pegou o casaco e o vestiu. Por que todos, menos Ártemis e Apolo, estão me olhando como se eu estivesse pirada?

— Está na hora – disse Apolo. – Não podemos mais esperar, ou isso vai atrasar o fuso horário e vai dar uma confusão do caramba pro meu lado.

Lindy me abraçou, depois abraçou Ártemis e entrou na carruagem. Apolo mandou um beijo no ar e piscou pra mim. Eu lutei para evitar o sorriso que queria se formar em meus lábios de volta e ele entrou no carro, enquanto Ártemis revirava os olhos.

— Tchau, mana!

— Não me chame de mana!

— Chamo sim!

— Não ch...

Ela parou, por que o carro já tinha saído voando. Bufou irritada e se virou pra nós.

— Então... O que vocês vão fazer agora?

— Procurar por outra amante. – respondi, já que meus amigos não paravam de franzir a testa pra mim. – E ver se não foi ela que roubou os pomos.

— Desejo-lhes boa sorte.

Nisso, eles pareceram acordar do transe e fizeram uma reverencia a Ártemis, copiada por mim. Caminhamos até o carro, e eles começaram o falatório.

— Você pirou? – Juliet começou. – Dar o casaco pra ela? Ela já está protegida pelo Acampamento!

— Proteção nunca é demais.

Juliet balançou a cabeça, incrédula.

— Juliet tem razão, Tracy. – Trent concordou. – E o que você ficou fazendo esse tempo todo com Ártemis?

— Conversando, oras!

— Sabe... – Juliet me cutucou. – Você viu Apolo piscando e jogando beijo pra mim?

— Hum... vi. O que você achou dele?

— Quente, sexy e tudo de bom... Tipo, deuses, ele é gostoso pra caralho – ela mordeu o lábio. – Eu pegaria.

— Tá maluca? – disse Trent. – Ele é o Apolo.

— E daí?

Trent suspirou e balançou a cabeça.

— Você não vai querer ficar com ele, Juliet. – falei. – Ártemis me contou que ele tem herpes.

— É sério?

Seríssimo.

— Nossa, não sabia que deuses podiam ter doenças...

— É uma herpes divina, sabe?

Alcancei o carro e abri a porta. No banco do motorista havia uma caixa de papelão cheia de Tic Tac, com um bilhetinho amarelo escrito:

Você esteve nos meus braços há alguns minutos e eu já estou pensando no quanto sentirei sua falta daqui pra frente. Aliás, você não conseguiu deixar seu cheiro na minha camisa dessa vez. O que farei agora?

P.S.: Faça o favor de prender seus belos cabelos lilases pro imbecil no banco de trás ver o seu chupão.

Te amo.