Por mais que eu deseje que Gale não esteja fazendo parte disso, e que ele na verdade esteja tentando me ajudar, o brilho maligno de seus olhos me fitando, dissipa qualquer breve esperança que eu possa ter criado.

— Você não se cansa de atrapalhar os meus planos? – ele grita, e bate a porta, trancando-a em seguida. Me levanto, pronto para um embate. Eu não vou cair sem lutar.

— Do que você está falando, Gale? Você está louco? – eu rebato.

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— Louco está você, achando que vai se safar disto. Achando que seus amiguinhos vão conseguir te resgatar, como fizeram com a menina.

— Você acha que eu tenho alguma coisa a ver com o fato de Prim ter escapado desta prisão? – eu digo, e percebo como ele se encolhe, ao ouvir eu pronunciar o nome de Prim.

— É claro que você está envolvido nisso... Com a brilhante ajuda dos seus amigos patéticos – ele diz, e anda de um lado pro outro, segurando uma arma em sua mão.

— Eles costumavam ser seus amigos também. Inclusive Carolynn.

— Carolynn? – ele repete seu nome cheio de desdém, e gargalha. – Bom, foi bem mais fácil do que eu imaginei, manipulá-la. Sem família, o noivo que ela tanto amava, morto. Sim, eu me aproximei dela, me aproveitei de sua carência, sua fragilidade... E sem precisar que eu pedisse, ela já estava contando todos os acontecimentos de sua vida medíocre. E lógico, que muitos ou quase todos, envolviam você. E Katniss. E a família perfeita que vocês construíram.

— Mas Gale... Esse não é você. Você costumava ser bom. O que Sunny fez com você? No que ela te transformou? – eu digo, e me próximo ainda mais dele, e seguro seu braço, fazendo ele parar de andar.

— Sunny? Ela apenas me resgatou de passar uma vida me lamentando, por aquilo que eu não poderia ter. Ela me deu a chance de lutar pelo que deveria ser meu, por direito – ele responde, e puxa seu braço de minha mão.

— Você está se referindo á Katniss? Você acha que eu a roubei, ou algo do tipo? Você mesmo me disse várias vezes, que ela me escolheu. Que ela sempre me amou.

Vejo a raiva fervilhar em Gale. Sem tempo para eu reagir, ele me dá um soco, que quase me derruba. Me forço a ficar em pé. Eu sei que ainda existe algo de bom em meio a toda essa amargura dele, e eu não vou desistir enquanto não conseguir desenterrar essa fagulha.

— Você ferrou com tudo quando apareceu em meu caminho. O padeiro bonzinho, o amante desafortunado... Tudo besteira, mentiras. No momento em que você apareceu, tudo o que eu havia feito por Katniss parecia não ter mais importância – ele grita, e está prestes a desferir outro soco, mas eu consigo me esquivar, colocando ele pressionado contra a parede.

— E como você acha que raptar meus filhos iria ajudar? Você acha que agindo assim Katniss vai te querer? Sequer te perdoar por ter construído as bombas que mataram sua irmã? – eu questiono, sabendo que soei cruel. Sabendo que toquei em sua ferida.

— Aquilo não foi minha culpa – ele murmura, apenas.

Eu vejo a dor em seus olhos, e me afasto, o libertando.

— Você ainda pode se redimir. Mas não desse jeito – eu digo.

— Não, Peeta. Dessa vez, será do meu jeito. Não importa o quanto você tente me atrapalhar.

— E qual é seu grande plano?

— Grande mesmo. Pois é infalível. E muito simples. Eu apareço com a menina, falando que a resgatei, mas que não consegui te salvar, e a devolvo para Katniss. Ela com certeza irá me perdoar. E com você ausente para sempre, aos poucos ela vai ceder a mim, seu fiel amigo que resgatou sua filha – ele revela seu plano, com um sorriso impassível no rosto.

— Isso não vai acontecer. Prim já foi resgatada.

— Mas nós iremos acha-la. Não tenha dúvidas quanto a isso. Nada vai me impedir dessa vez, Peeta. E por mim, você já estaria morto. Mas é só uma questão de tempo até Sunny se cansar de você.

— Nada disso vai acontecer Gale. Pois cedo ou tarde, você vai cair em si, e ver o quanto tudo isso é absurdo – eu digo, me sentindo enojado.

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— Veremos. Se eu fosse você, estaria morrendo de medo, pois não importa como tudo isso termine, você estará morto de qualquer forma – ele ameaça, e encosta sua arma em minha cabeça. – Que tentação.

— É difícil sentir medo, quando tudo que eu consigo é sentir pena da pessoa que você está se tornando – eu digo, enquanto escuto o barulho da arma sendo engatilhada. Passam-se vários segundos, até que ele baixa a arma, e sai do quarto, do mesmo modo que entrou, praticamente correndo.

Suspiro. Minha cabeça está a mil. Mas essa é a melhor oportunidade que eu tenho de tentar escapar, ou de ao menos averiguar o local. Então, eu saio do quarto, e me esgueiro pelos corredores, tentando passar despercebido. Por sorte, não encontro ninguém. Mas também não encontro nada que possa me ajudar. Parece que o corredor não tem fim. A maioria das portas que encontro, estão trancadas. Procuro por escadas escondidas, alçapões... Mas não encontro nada. E é com um desespero enorme, que sinto uma mão agarrando meu braço. Eu me viro de sobressalto, temendo quem possa ser, quando me deparo com Tommy, um dos guardas.

— O que você esta fazendo andando por aí? – ele sussurra, mesmo sem ter ninguém por perto.

— Vocês acharam Prim? – eu sussurro, torcendo para que ele me dê uma resposta.

Tommy olha para os lados. Ele parece extremamente nervoso.

— Eu ajudei ela fugir. E se ela seguir as instruções, chegará até a minha casa. Minha mulher vai esconder ela lá, até conseguir um modo de deixar ela a salvo com Katniss – ele diz, enquanto suor escorre por seu rosto. Demoro para processar a informação. Ele ajudou minha filha fugir? Tommy parece ler a dúvida em meus olhos.

— Eu perdi muita coisa quando vocês lideraram a revolução dos distritos. Eu tinha tudo na capital. E... um dos meus filhos, morreu quando aqueles paraquedas explodiram. Por muito tempo, eu odiei Katniss, os rebeldes... E depois houve aqueles jogos, com as crianças da capital. E meu outro filho foi sorteado. Tive que assistir Sunny o matar, e conseguir a vitória. Anos mais tarde, Sunny veio me procurar, com um pedido de perdão por ter matado meu filho e com a promessa de vingança a Katniss. Mas eu não quis me juntar a ela. Pois... Entendi que Katniss não teve culpa do que aconteceu ao meu filho. E de certa forma Sunny também não teve muita escolha ao matar meu outro filho. Então, eu descobri que ela não aceitaria não como resposta. Dias depois, minha filha, a única que me restou, foi capturada pelos fanáticos seguidores de Sunny. Eu só a teria de volta, se a ajudasse a conquistar o que ela queria. Você.

Fico boquiaberto com tal revelação. Pobre Tommy. Não imagino como ele conseguiu suportar a dor de perder os filhos. E me pergunto, quantos mais desses seguidores, guardas, estão aqui sob chantagem.

— Mas.. Tommy... Sunny já conseguiu o que queria. O que falta para ela libertar sua filha, e você?

— Oh, Peeta. Os planos dela não acabam aqui. Disso você pode ter certeza.

— O que vocês estão fazendo aqui? – Um homem nos surpreende, fazendo nós dois pularmos com o susto. Tommy imediatamente segura minhas mãos e as algema, me lançando um pedido de desculpas com o olhar.

— Achei o espertinho vagando por aí – ele diz, e começa a me puxar de volta.

— Ela quer vê-lo. Ela está furiosa – o homem diz, e estremece, antes de começar a andar e tomar um caminho diferente do nosso.

— Tommy, quase esqueço de te agradecer. Muito obrigado, por ter salvado minha filha – eu murmuro. – Não faço ideia do que Sunny poderia fazer com ela.

— Ah, eu faço ideia, por isso não suportei, e tive que tirá-la daqui. Eu sou pai também – ele sussurra, e continua me puxando algemado, em seu teatro, que convence a todos que passam por nós. A expressão dos homens deixa bem clara a falta de sucesso na caçada a Prim. Tomara que ela esteja a salvo.

— Eu sempre terei essa dívida com você. É bom saber que eu tenho um aliado, nessa luta – eu digo, e Tommy para olhando para mim. – Posso te considerar um aliado?

— Com certeza – ele responde, e sorri. Mas logo ele fica sério, e fita o quarto de Sunny que está apenas a alguns passos de nós. – Espero que você não esqueça, que eu sou seu aliado.

Me pergunto porque ele estaria dizendo isso. Mas não dá tempo de perguntar para ele, pois chegamos aos aposentos de Sunny.

— Nem se dê ao trabalho de trazê-lo aqui – ela grita, enquanto bate os pés como uma garotinha mimada. – Eu estou cansada disso. Cansada!

— Para onde o levamos? – outro guarda pergunta enquanto me segura pelo braço, junto com Tommy.

— E você ainda pergunta, idiota? Levem-no para o laboratório – ela diz, e se aproxima, me dando um beijo nos lábios, e em seguida mordendo meu lábio inferior. Quando ela se afasta, seus lábios estão com o meu sangue. Ela os lambe, assumindo uma expressão completamente insana.

Fico paralisado. Sinto o sangue escorrendo do meu lábio. Vejo a expressão de pesar no rosto de Tommy, e entendo o que ele quis dizer. Quando mais veneno entrar em minhas veias, talvez eu me esqueça de tudo. Até de quem eu sou.

— Levem-no! Agora! – Sunny grita.

Eu tento resistir. Eu grito, me contorço, mas é tudo em vão. Ainda consigo ouvir as gargalhadas de Sunny enquanto sou arrastado para o laboratório. Sei que isso será extremamente difícil, mas enquanto sou amarrado a uma maca, e sinto as agulhas adentrando minhas veias, tento juntar todas as minhas forças e focar numa única coisa: Não esquecer Katniss. Meus filhos. Meus amigos. Não esquecer quem eu sou. E então, começo a sentir o veneno.