– Deixe de ser boba, Lola. Nossa filha está muito cansada de tanto estudar. Veja, o ano já está acabando, não dizem que as últimas provas são as mais difíceis?

– Ora, Leon… Nossa menina não sai do quarto! Eu tenho certeza absoluta de que–

– Chega, Lola! Minha filha não está deprimida!

Rin suspirou, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. Seus olhos estavam fechados, alguns remédios estavam espalhados pela cômoda. Ela deveria guardá-los antes que seus pais tivessem a ideia errada, mas aquele não parecia ser o momento; estava quase dormindo, finalmente.

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Estava ficando cada vez mais difícil pegar no sono. Quando se dorme o dia inteiro, não é tão fácil, então ela precisava da ajuda de algumas pílulas.

Escola? Não tinha tempo para ela. Seus amigos estavam preocupados; ela dormia na aula também. Kaito sempre tinha de acordá-la. Sempre agitadas, IA e Gumi gostavam de zombar dela e desenhar coisas nas suas bochechas e testa. Davam trabalho á Gakupo e Yuuma, que, desesperados, tentavam conter as duas meninas.

Rin era uma garota de sorte; tinha tudo. Seus pais a amavam. Não eram ricos, mas ela tinha tudo que queria. Era uma menina doce e gentil, capaz de conquistar a todos com seu olhar, sorriso e constante bom humor. IA, Gumi, Kaito, Gakupo e Yuuma eram os melhores amigos que alguém podia querer. Seu grupinho não era popular na escola, mas eles eram tão unidos que não tinham necessidade de qualquer fama.

Era uma vida simples, monótona, a de Rin; porém felicíssima. Nada impedia a menina de sorrir.

Isso até a noite em que ela se viu fisgada por um sonho.

Estava parada em um corredor vazio. Todas as portas estavam fechadas e pareciam trancadas. Ela não contou, mas eram muitas. Estava presa naquele corredor. Algo a impedia de olhar para trás, ver por onde entrara, e, se olhasse para frente, seus olhos encontrariam os de um homem pintado em um quadro, este tão velho que, mesmo com esforço, era impossível distinguir o nariz e a boca do senhor.

Ela ouviu risadas tímidas. Tentou aproximar-se. Conforme andava, parava. Em algumas portas, podia quase reconhecer as vozes de seus preciosos amigos; e, então, uma completamente estranha.

Ela olhou para a frente novamente. Um menino estava parado, sorrindo. Seus pés estavam perfeitamente paralelos no chão, de dar inveja á professora de balé da Rin. Usava jeans surrados e um casaco vermelho, cujo capuz deitava-se sobre suas costas. Seus olhos eram desafiadores, convidativos. Eles chamavam por Rin. Seu sorriso era debochado, não mostrava dentes; apenas lábios perfeitos colados um no outro.

Mas nada disso chamou tanto a atenção de Rin. Dizem que não é possível sonhar com alguém que você nunca viu. Depois de acordada e extremamente intrigada pela visão, Rin vasculhou por aquele menino em sua memória, nem que fosse alguém aleatório que ela viu no shopping. Por fim, descobriu, atordoada, de onde o conhecia: ele era estranhamente parecido com ela.

Seus cabelos dourados deviam ter o mesmo comprimento dos dela, mas estavam presos em um rabo-de-cavalo pequeno. Seus olhos eram do mesmo azul brilhante dos de Rin. Talvez não fosse possível dizer a semelhança entre os dois, pois o olhar do garoto era diferente do dela.

Rin sempre parecia cansada, e era branca demais. Aquele menino parecia estar se divertindo, e olhava fixamente para Rin, congelando seu par de olhos idênticos.

Naquele dia, Rin se achou narcisista por ter estado atraída por um menino tão idêntico a si; na verdade, ela nunca sequer se apaixonara. Mas esse garoto… havia algo nele que era impossível, para Rin, explicar. Rin se viu apaixonada. Ela se viu xingando mentalmente o despertador que a acordou, cortando a fala do menino, que já abria a boca para lhe sussurrar palavras quando o sonho terminou. Estava frustrada, queria saber qual era aquele recado.

Por isso, Rin dormiu. Queria ouvir mais sobre ele.

– Quem é você? - Ela lhe perguntou, seu sorriso branco se expandindo com seu sucesso em revê-lo naquela noite.

– Eu sou um mostro, Rin.

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O sorriso da garota se desfez subitamente, resumindo-se a uma pequena curvatura apenas educada.

– Um monstro?

– Eu sou o seu monstro.

Os olhos de Rin se arregalaram. O que a tornava tão atraída por aquele que se dizia o "seu" monstro?

– O que você quer comigo?

– Rin, você já tem quatorze anos. Está na hora de se apaixonar, não?

As risadas puderam ser ouvidas com mais clareza através das portas. Ela agora podia ter certeza de que aqueles eram seus amigos. Alguns começaram a chorar, outros se calaram, havia quem ainda risse; mas estavam lá.

– Eu acredito em você, Rin. – Aquele que se dissera um "monstro" prosseguiu com seu discurso. – Acredito que você é capaz de desvendar a forma do amor.

– A "forma"?

– Soa muito abstrato? – Ele deu uma risadinha. – Seu coração é virgem de paixões, e, com isso, ele é puro de mágoas. Eu quero ser o primeiro a invadí-lo, devastá-lo. Rin, eu quero te amar.

"Eu sou um resto de vida miserável, humildemente alojado no seu subconsciente. Eu sou aquele que aguentou toda a sua dor; seu verdadeiro herói. Eu nunca te deixei chorar ou sofrer de verdade. Todos nós temos um monstro dentro de nós; um pedaço de nossas almas que é alimentado por toda a nossa mágoa. Mas quem diria, Rin, que eu me apaixonaria por você, não é?"

Seu sorriso, antes desafiador, tornou-se triste, sem nunca desaparecer.

– Eu sei tudo sobre esse mundo. Eu sei tudo sobre a tristeza, a alegria, o ódio, a luxúria; mas isso não lhe diz respeito. – Ele respirou fundo. – Rin, eu quero te ensinar o que é o amor. Não falo das definições dos dicionários, nem mesmo das dos filmes e livros: a verdadeira forma, apenas. Se você quiser dizer sim a essa chance, eu juro, eu prometo, nunca vou te decepcionar. E, quando você entender de vez todos os riscos e ganhos do amor, eu quero que você me dê uma chance de viver ao seu lado para sempre.

Cheios de lágrimas, os olhos de Rin se arregalavam em confusão.

– Eu…

– Então, adeus.

Tocou o despertador.