Capítulo I

Todos os dias, quando acordo, olho através da janela. Tudo sempre é o mesmo. A árvore que chega ao segundo andar nunca sai do lugar, nem mesmo perde uma folha. Tão superficial. O quarto sempre impecável, com a mesma organização todos os dias. O chão de madeira, o tapete felpudo, o criado-mudo com um porta-retratos e a cama de casal estão sempre na mesmice. Mas hoje é um novo dia.

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Na sala se encontram meu pai, irmão e mãe, sentados à mesa. Alyssa, minha mãe, fez algo diferente hoje para o café, acho que por ser o primeiro dia do ano letivo. Nícolas brinca com a comida, esperando ansioso que papai diga que ele pode pegar a mochila para irmos ao colégio.

Ano passado, a escola na qual eu estudava foi fechada, aparentemente a vigilância sanitária não gostou nem um pouco da cozinha e dos banheiros. Por isso, eu e o Nico fomos transferidos para Sweet Amoris. Mas ainda assim mantenho contato com minhas duas melhores amigas.

Para uma menina de quatorze anos, normalmente mudar de escola é algo extremamente aterrorizante; um ambiente novo, professores e amigos novos. Não vou mentir, estou um pouco nervosa, mas acho que dá para superar. Não é como se nunca tivesse acontecido antes.

- Lana, apresse o passo. Você vai se atrasar, querida.

De uma forma incrivelmente alegre, ela me chama, com o meu lanche na mão, pronta para me desejar um bom dia especial.

Minha mãe é uma pessoa incrível. Todo o dia está de bom humor, pronta para nos ajudar, às vezes penso se ela não se cansa de estar disponível a todo o momento.

- Bom dia, mãe – deposito um beijo em seu rosto – Bom dia, pimpolho.

- Eu já disse que não é para me chamar disso, La.

Emburrado, enquanto mexo em seus cachos, Nico me responde.

Nícolas é uma criança esperta e questiona muita coisa. Mas normalmente se deixa levar pelos sentimentos, tais como a tristeza. Mamãe tem receio de que ele possa desenvolver depressão, por isso sempre pergunta como ele está se sentindo e o que acontece na escola. Houve uma vez que um coleguinha dele perdeu o brinquedo e foi pedir ajuda a Nico, mas ele estava muito agoniado já que era seu carrinho favorito. Essa agonia era tão forte que meu irmão ficou triste e só melhorou depois que os dois o encontraram atrás da caixa de lego.

- De novo com o jornal, pai? Sabia que excesso de conhecimento pode ser um problema? – vou até a poltrona a qual ele está sentado e beijo sua testa.

- E você sabia que a falta dele pode ser bem maior? – sorria convencido.

- Okay, talvez você esteja certo.

- Acho que ganhei - E aquele sorriso se alargou ainda mais.

O meu pai tem uma alegria contagiante, a forma que passa o que sente é completa, literalmente. Ele consegue mostrar com todos os músculos presentes no seu rosto.

- Hum, acho que alguém está feliz hoje. Panquecas?

- Sim, panquecas. Inclusive, comprei algo que você adora comer com elas – Alyssa vai até o armário e pega a calda de chocolate de lá, a balançando para mostrar o que tem em mãos.

- Não acredito. Sabia que eu te amo?

Sua risada baixa acompanha um tom de convencimento.

- Marcos, querido, está na hora de levar as crianças à escola.

Apenas vejo um furacão negro descendo da cadeira e ir às pressas atrás da bolsa.