Procurando por Você

Capítulo 13 - Surpresas sem fim


PROCURANDO POR VOCÊ

Capítulo XIII – Surpresas sem fim

P.O.V. Edward

Quando cheguei a casa de meus pais, minha mente foi bombardeada por lembranças da minha infância. Foi naquela casa que eu arranquei a cabeça de algumas bonecas de Alice ou queimei seus cabelos apenas para implicar com ela; foi ali que eu quebrei várias janelas jogando beisebol ou futebol americano com meu irmão mais velho e o culpando sempre que causávamos danos a qualquer coisa; também foi naquela casa que enlouqueci Rita, a cozinheira que trabalhava há anos com minha família, roubando os maravilhosos biscoitos de chocolate que ela fazia... Foi naquela casa que eu cresci e tive os melhores anos de minha vida. Sentindo meu peito se apertar de saudades e conclui que voltar foi a atitude correta a fazer. Era aqui que estavam as pessoas que mais importavam para mim.

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Rapidamente sai do carro alugado que eu usava até que o meu chegasse da Inglaterra e bati a porta. Eu praticamente corri o pequeno caminho de pedras cercado pelas flores plantadas pelas mãos de minha mãe até a porta. Eu podia ouvir vozes e risos animados do outro lado e estava ansioso para me unir a minha família. Toquei a campainha e esperei os poucos segundos até que a maçaneta foi girada.

Diante de mim surgiu a minha baixinha preferida, vestida elegantemente como sempre. Eu esperava mais um dos gritos histéricos que ela sempre dava, mas esse momento não chegou. Alice ficou parada com a mão na maçaneta, a porta aberta e a boca escancarada em um grande \"O\".

Por quase um minuto inteiro ela permaneceu parada e eu já estava começando a me preocupar. A única coisa que Alice não sabia fazer era ficar quieta, nem por questão de alguns poucos segundos, e ficar quase um minuto estática era algo realmente anormal.

Tentando arrancar alguma reação da minha hiperativa irmã paralisada, eu estalei meus dedos em frente a seu rosto de feições pequenas. Ela deu um pequeno pulo, assustada, e piscou os olhos repetidas vezes rapidamente. No segundo seguinte ela estava dando um grito alto tão agudo que eu senti meus tímpanos protestarem contra aquela agressão. Aqui estava seu gritinho registrado.

– Você continua a mesma escandalosa de sempre – reclamei enquanto tapava meus ouvidos, que agora emitiam um zumbido baixo e irritante.

– Eddie! Você voltou, maninho! – ela gritou novamente e saltou para meus braços, me fazendo cambalear, tentando evitar uma queda.

Ela me apertou fortemente com seus braços pequenos enquanto eu resmungava mentalmente contra aquele apelido idiota. Desde pequeno eu era chamado daquela forma mesmo que sempre pedisse que parassem. Parecia que era prazeroso para os demais me chamar por um apelido altamente detestável.

Depois de alguns segundo com minha irmã caçula pendurada em meu pescoço, ela voltou ao chão exibindo um sorriso maior do que eu me lembrava. Seus lábios se esticavam tanto que me perguntei por um instante de devaneio como ela não sentia as bochechas doendo. Alice pareceu se lembrar que eu ainda estava do lado de fora da casa e pegou minha mão, me puxando para dentro em um segundo.

– Entre, entre! Mamãe vai ficar louca quando te ver! Vem! – disse ela, dando um puxão ainda mais forte em meu braço.

Eu fechei a porta rapidamente com um chute e me equilibrei enquanto era arrastado até a sala de estar, agora silenciosa. Alice fez questão de entrelaçar seu braço ao meu quando chegamos a sala.

A primeira coisa que vi foram os olhos arregalados de minha mãe, que estava sentada em seu sofá ao lado de meu pai. Sua expressão ficou congelada como a de Alice, mas ao me ouvir dizer \"Surpresa!\", ela instantaneamente se recuperou do choque e saltou desajeitadamente do sofá e correu em minha direção.

Quando ela estava de frente a mim, eu vi como seus olhos verdes exatamente como os meus estavam repletos de lágrimas que caíam copiosamente e deslizavam por suas bochechas. A vontade louca de envolve-la em um forte abraço correu pelo meu corpo e a próxima coisa que eu sei é que Esme estava com o rosto enterrado no vão do meu pescoço e molhando minha camisa com suas lágrimas.

– Eu nem acredito que você está aqui, meu filho.

Sua voz melodiosa estava falha e embargada pelo choro que sacudia todo seu corpo. Eu apenas a apertei ainda mais meus braços ao seu redor e respondi dizendo que eu estava com mais saudades que ela. Esme riu e se afastou um pouco, apenas o suficiente para me olhar nos olhos, e acariciar meu rosto com o afeto e carinho que só uma mãe pode oferecer.

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Eu tenho que admitir que eu estava louco de saudades dela. Não que eu não sentisse falta de meu pai ou meus irmãos, mas eu sempre fui o filhinho da mamãe. Esme sempre foi mais do que apenas uma figura materna presente em minha vida, ela foi minha primeira melhor amiga, minha confidente. Jamais poderia imaginar minha vida sem a presença dessa mulher forte e amorosa que estava em meus braços. Ela sorriu largamente, como se soubesse exatamente o que eu pensava, e voltou a me abraçar.

A essa altura, meu pai também estava ao meu lado, sua mão pousada sobre meu ombro com um aperto confortador. Eu sabia que ele apenas mantinha essa distância para não interferir no meu momento com minha mãe. Carlisle sempre fora assim, preferindo demonstrar com gestos pequenos todo o carinho que sentia por sua família e apenas observar como o amor fluía entre nós.

Mas, ao que tudo indicava, Alice estava empolgada demais em ter sua família toda junta que não resistiu em abraçar a mim e nossa mãe ao mesmo tempo e essa foi a brecha para eu ouvir a voz daquele ogro que a maternidade insistiu em dizer que era meu irmão.

– Abraço grupal!

Levantei minha cabeça imediatamente, rolando os olhos no processo, e avistei meu irmão mais velho abraçando a todos e quase me esmagando com tal ato. Nossa mãe ria extasiada em ter todos os filhos juntos de novo e aquele sorriso imenso que estampava seu rosto parecia que não tiraria folga pelas próximas horas.

Quando nos afastamos, Alice deu um tapa em Emmett e resmungou sobre como sua roupa estava amassada e ele, apenas para levar mais um tapa indolor da baixinha, levou sua mão até a cabeça dela e bagunçou seus cabelos.

– Por que não nos avisou que viria para casa, filho? – perguntou meu pai, com a voz serena e calma que eu me recordava.

– É mesmo, bebê – concordou sua mãe, e Edward controlou o impulso de rolar os olhos perante o apelido que recebeu – Nós teríamos ido te buscar no aeroporto.

– Tem razão, mas assim minha visita não teria sido surpresa.

Minha mãe apertou ainda mais seu meio abraço que me dava, aparentemente se recusando a sair de perto de mim, e voltou a dizer o quão feliz estava de me ver novamente. Mas Esme logo teve seu momento cortado por outro grito de Alce, fazendo todos nós olharmos para o toco de gente. Ela, por sua vez, carregava um sorriso imenso nos lábios e sem explicação nenhuma para seu surto, se afastou correndo de nós.

Olhei para meu pai e minha mãe, esperando conseguir uma resposta para a atitude estranha de Alice, mas ambos encolheram os ombros com um olhar de \"não faço ideia\" no rosto. Ela sempre tinha esses ataques repentinos, mas eu acreditava que essa fase já havia passado, mas ao que tudo indica, Alice não mudou em nada desde a adolescência.

Poucos segundos depois, ela retornou ao meu lado, soltado pulinhos de animação. De mãos dadas a minha irmã estava um homem alto e louro que imediatamente reconheci das diversas fotos que Alice me mostrara há muito tempo atrás quando me dissera que estava namorando.

– Eddie, este é Jasper, meu namorado. Lembra-se que eu te falei dele quando te visitamos no Natal passado?

– Claro – estendi minha mão para um cumprimento e ele deu um aperto firme.

– Jazz, esse é meu maninho ingrato que abandonou sua família – completara ela, fazendo seu clássico biquinho.

Fechei a cara para a pintora de rodapé maníaca por compras e lhe lancei um olhar mal-humorado. Ela, toda vez que podia, fazia questão de dizer que não gostava que eu estivesse tão afastado assim. Nós éramos muito próximos desde pequenos e a distância, apesar de justificada por um bom motivo, sempre a deixou triste. Alice preferiria que continuássemos grudados um no outro até o fim de nossas vidas. Acho que, ao descobrir que não voltarei a Londres, ela grudará em mim mais do que de costume.

– Não vamos começar com isso novamente, Alice – repreendeu mamãe e Alice logo sorriu, como se esquecesse o que havia dito e voltasse à mesma euforia de antes.

– Agora é minha vez – meu irmão chamou a atenção de todos.

Olhei para ele, que tinha um sorriso de orgulho nos lábios, e vi ao seu lado uma linda loura de olhos azuis claros e vivos. Emmett envolvia seus braços na cintura da mulher em um clássico abraço possessivo e a apresentou a mim.

– Essa é minha Rose

Ela acenou com a cabeça com um sorriso deslumbrante e admiti silenciosamente que meu irmão tinha bom gosto. Emmett já me falara diversas vezes de como sua noiva era bonita, mas eu não imaginava que era tanto.

Emmett se aproximou de mim e colocou a mão em frente aos lábios como se fosse compartilhar um grande segredo comigo e eu inclinei meu rosto em sua direção automaticamente, mas sua voz alta e estrondosa foi, sem dúvida alguma, ouvida por todos na sala.

– Não te falei que ela era gostosa?

Eu quase não pude acreditar no que ouvira, mas, se tratando de Emmett, aquilo era normal. Apenas meu irmão seria capaz de fazer tal comentário de forma escandalosa com sua noiva ao seu lado e toda a sua família ouvindo. Eu sorri, mas não pude conter a gargalhada ao notar que meu irmão apanhou de Rosalie. O som do tapa reverberou por toda a sala ao mesmo tempo em que Esme o repreendia e Jasper soltava uma careta. Naquele instante eu me lembrei que Jasper e Rosalie eram irmãos e eu podia entender que ouvir esse tipo de comentário sobre sua própria irmã não era muito legal.

O mais engraçado ainda foi ver Emmett agir como uma criança, fazendo biquinho e esfregando o braço reclamando que havia doído. Rosalie apenas deu um beijo na bochecha dele, rapidamente acabando com sua reclamação, e o fazendo sorrir como se tivesse ganhado um doce antes do jantar.

Eu pude ver como eles se gostavam e fiquei feliz por meu irmão. Não estive muito presente em sua vida nos últimos tempos, mas estava satisfeito de saber que ele encontrara alguém que realmente gostasse e largasse aquela vida de mulherengo que ele vivia na adolescência. E o mesmo parecia acontecer com Alice. Nem quando tinha quinze anos e jurou amar eternamente o Brad Pitt Alice parecia tão feliz como estava ao lado de Jasper. A forma como ela falava dele pelos telefonemas, cartas, e-mails e outros meios de comunicação, era mais apaixonada e carinhosa do que eu poda descrever.

– AAAAAAAAAAAAAAAHHHH! – gritou Alice, me fazendo olhar assustado para ela, assim como todos na sala.

– Você lembra da melhor amiga do mundo que eu tanto te falei? – perguntou ela, olhando para mim intensamente, como se esperasse que eu me lembrasse da coisa mais importante do universo.

– Hei! – protestou Rosalie ao meu lado, mas eu não dei importância e respondi a pergunta que me foi feita.

– Claro. Humm... O nome dela era Isabella, certo? – questionei meio incerto.

Alice sempre falava de uma amiga que ela conhecera na faculdade e que, se não me falha a memória, dividiram um quarto, mas nunca me apeguei ao nome. Na maioria das vezes que conversávamos, Alice dedicava boa parte do seu tempo falando de Jasper, e quando começava a falar de sua amiga eu já não estava tão atento assim à conversa.

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– É, mas a Tsu atende mais por Bellinha.

A resposta confusa veio de Emmett e eu olhei para ele sem entender nada. Lembrei vagamente de uma das conversas em que Alice chamou sua amiga de Bellinha, mas Tsu? Que droga significava isso?

– Tsu? – externei meu pensamento, assim como meus pais, que pareciam igualmente confusos.

– Depois o Emmett te explica esse apelido horroroso e sem sentido – interferiu Alice, rolando os olhos assim como Rosalie – Vem que eu vou te apresentar a ela. Bellinha já é da família e você tem que conhece-la.

Dizendo isso, Alice começou a me puxar em direção a sua amiga enquanto eu ainda olhava para Emmett sem entender a origem do apelido. Não que eu entendesse tudo o que se passava na mente de meu irmão – longe disso – mas de onde saiu Tsu? Se a garota era apelidada dessa forma e tinha Alice como melhor amiga, eu só podia chegar a duas conclusões: ela era maluca ou mais forte e determinada do que eu imaginava.

Pensando nisso, eu virei na direção em que era arrastado por minha irmã e achei que estivesse cego – ou tal vez louco, afinal esse rosto me perseguia em pensamentos há quase dois dias. Então, pisquei meus olhos repetidas vezes esperando que aquela imagem se desfizesse tão rapidamente quanto surgira, mas isso não aconteceu.

Eu quase não acreditei quando a vi realmente na minha frente. Alice apenas me puxou para uma direção e eu movi meus pés sem resistência a ela, e acabo por ter tal surpresa.

Primeiramente, eu me fiquei descrente, afinal, qual era a chance da morena da boate aparecer ante meus olhos do nada? Ainda mais na casa dos meus pais? Nenhuma – ou melhor, quase nenhuma, porque ela estava ali.

Analisei seu rosto por um segundo, ainda não acreditando que aquilo fosse real, mas era. Eu a reconheceria em qualquer lugar que fosse. Não apenas porque tinha uma boa memória, mas porque não é todo o dia que você encontra uma mulher como ela numa boate querendo perder a virgindade com um completo estranho. Céus, isso parece loucura.

Fui puxado pelo braço por uma Alice eufórica e, a cada centímetro reduzido que nos distanciava, Bella ficava ainda mais pálida. Seu rosto, que em minha memória era corado e suado, estava tão branco quando uma folha de papel. Parecia que ela estava vendo um fantasma em sua frente. Ela com certeza esperava me encontrar aqui tanto quanto eu.

Quando Alice parou em frente a Bella e começou aquela baboseira de apresentações – que ao meu ver eram completamente desnecessária já que eu a conheci bastante na noite retrasada – ela olhou para mim com olhos suplicantes e eu diria até desesperados.

– Prazer em conhecer você, Edward – disse ela.

Sua voz estava tranquila e sem emoção alguma, mas seus olhos estavam intensos. Ela não queria que ninguém soubesse que nos conhecíamos e esse veredicto se confirmou no instante que eu identifiquei o leve destaque na palavra \"conhecer\" em sua voz.

Eu fiquei me perguntando o porquê de isso a incomodá-la tanto. Minha sobrancelha se ergueu em uma pergunta muda, mesmo eu sabendo que não obteria resposta alguma. Porém, no mesmo instante em que minha curiosidade foi despertada, eu cheguei a conclusão de que não importava. Se ela não queria que soubessem que nos conhecíamos, eu não diria isso a ninguém, mas isso não significava que eu iria ficar na minha.

Então, testando até que ponto eu conseguiria tortura-la, eu peguei sua mão estendida e levei aos meus lábios em um gesto inocente. Entretanto, as reações de Bella me faziam acreditar que ela estava mais do que ciente da minha presença.

A pele de todo o seu braço se arrepiou quando meus lábios a tocaram. Seu olhar, ainda preso no meu, flamejou de desejo e a cor de seu rosto retornou com uma rapidez impressionante. A pele branca corou fortemente, suas bochechas se tingindo de vários tons de vermelho quando ela captou a essência de minhas palavras.

– O prazer é todo meu.

Tenho que admitir para mim mesmo que a reação que provoquei nela fez eu me sentir particularmente presunçoso. Ela estava abalada apenas com minha presença e minhas palavras. Sorri da maneira que eu havia reparado que ela apreciara.

Os olhos castanhos ficaram um pouco vidrados em meus lábios por questão de um ou dois segundos até que se desviaram dos meus e ela olhou ao redor, enquanto puxava sua mão de forma delicada, mas rapidamente, das minhas e levava a taça de vinho aos lábios e sorvia o líquido em um só gole como se buscasse na bebida alguma força de vontade. Isso vai ser divertido, conclui enquanto observava o desconforto de Bella.

– Vou ver se Rita precisa de alguma ajuda no almoço – dissera Bella e, em um segundo, desaparecera pelo corredor em direção à cozinha com passos rápidos.

Olhei atordoado a fuga de Bella até que senti um tapa estalado em meu braço e olhei para minha irmã, que apontava o dedo para minha cara e sussurrava ameaçadoramente.

– Nem pense em seduzir minha amiga, Edward Masen Cullen!

Eu olhei de olhos arregalados para ela por sua reprimenda, me perguntando se estávamos falando da mesma pessoa. A Bella que eu conheci era aquela que seduzia e não que se deixava seduzir. Naquela boate, foi ela que me provocou com aquela dança, foi ela que me convidou para um quarto de hotel e foi ela que pediu diversas vezes para eu não parasse – fosse gemendo ou gritando. Não estou dizendo que sou inocente nessa história, mas também não sou o vilão. Eu apenas peguei o que me era ofertado sem discutir.

– Ele não tem culpa, né, Alicinha – Emmett soltou uma gargalhada alta, fazendo todos olharem para ele – Esse é o efeito que os Cullen causam nas mulheres. É inconsciente.

Eu levantei minhas mãos em rendição como se confessasse um crime, embora não me considerasse culpado por nada, e olhei para a baixinha que era minha irmã e decidi matar saudades dos velhos tempos, a provocando um pouco.

– Você está diferente, Al – falei calmamente, atraindo a atenção de todos sobre nós dois e a avaliei.

– Diferente como? – perguntou, franzindo a testa e olhando para mim como se eu falasse outro idioma.

– Não sei... – olhei novamente para ela e então perguntei na voz mais séria que pude fazer – Você não encolheu de novo, não?

Tudo o que ela fez foi me dar outro tapa no braço – tão forte que pude ver a marca de seus dedos em minha pele – e saiu batendo o pé de perto de mim, resmungando algo como \"continua o mesmo idiota de sempre\". Enquanto isso, todos na sala explodiam em risadas, principalmente Emmett, que gargalhou estrondosamente e socou seu punho em meu ombro.

Sorri tranquilo enquanto observava a todos. Eu realmente havia sentido falta disso.

P.O.V. Bella

Eu nunca imaginei que uma tarde pudesse se arrastar de forma tão lenta e torturante.

Quando aceitei a intimação de Alice para comparecer a esse almoço eu não fazia ideia do que estava por vir. Se minha mente lenta e obsoleta tivesse tido a mais leve indicação do que teria que enfrentar hoje, eu haveria sido mais sábia e desejaria outro castigo de minha melhor amiga sem nem ao menos hesitar. Uma longa tarde de compras no shopping parecia estranhamente atraente agora.

Mas, não! Agora eu estava aqui, me repreendendo mentalmente por ter negligenciado meu fraco senso de preservação, que gritou para que eu ficasse em casa hoje e eu estupidamente o ignorei, me perguntando \"o que pode dar errado?\". Eu já devia saber que essa pergunta idiota amaldiçoava quem quer que a pense. Isso sempre acontecia. Basta se imaginar em uma situação ruim que tudo piora em um simples piscar de olhos.

Isso tudo era ridículo! Quando foi que eu joguei pedra na cruz para merecer ser castigada dessa forma?

Logo depois que fomos \"apresentados\" e lutei contra o impulso de agarra-lo ali mesmo, eu fugi para a cozinha como diabo foge da cruz e rezei para que Edward mantivesse aquela linda e tentadora boca fechada.

Rita, graças ao bom Senhor, estava um pouco atolada na cozinha e, quando eu contei que o aparecimento de Edward era o motivo de tanto estardalhaço no outro cômodo, ela prontamente aceitou minha ajuda na cozinha para que pudesse dar um abraço no jovem Cullen. Fiquei uns bons vinte minutos olhando a panela de arroz que estava no fogão e o famoso assado de dona Esme no forno. Mas, como nem tudo é perfeito, meus minutos de paz e sossego acabaram quando ela retornou a cozinha – com um sorriso maior que o rosto – e praticamente me enxotou dali.

A cozinheira dos Cullen até que tentou me expulsar da cozinha, alegando que poderia cuidar de tudo e que eu deveria voltar para a sala, mas o único momento que eu saí do seu lado foi para ir até a sala de jantar e pôr mais um lugar a mesa. Nem cinco minutos depois estava ao seu lado puxando uma conversa para distrai-la do fato de que eu estava me refugiando no seu santuário.

A conversa seria leve e animada para que observava de fora, mas para mim estava sendo torturante. O retorno de Edward à casa deixou Rita tão empolgada que ela não parou de falar dele nem por um único instante. Eu até que tentei puxar uma conversa sobre suas receitas ou alguma coisa que não me deixasse mais nervosa e desconfortável do que eu já estava, mas todo e qualquer tópico voltava para o mesmo ponto.

Eu falei sobre a delícia de feijoada – um típico prato de seu país de origem – que ela preparou para nós certa vez e ela falou sobre como Edward passou semanas pedindo para ela voltar a fazer. Também comentei por alto sobre o meu bolo preferido já feito por ela – cenoura com cobertura de chocolate – e ela meditava sobre como Edward sempre comia os bolos ainda quentes e ela brigava com ele, dizendo que acabaria passando mal. O mesmo aconteceu com o purê de batata, o sorvete de pavê, a torta de abóbora, o frango grelhado com o tempero misterioso que só ela sabia como fazer... Enfim, todo e qualquer assunto que eu introduzia acabava voltando para o motivo de minha aflição, então eu simplesmente desisti e soltava \"Uh-uhm\" e \"é mesmo?\" de encorajamento por entre suas pequenas pausas.

Quando chegou a hora do almoço em si, eu lutei contra o impulso de sair correndo e me sentei o mais longe possível de Edward, mas como o azar resolveu andar de mãos dadas comigo, a distribuição dos lugares fez com que eu me sentasse a sua frente. O mundo conspira contra mim, eu tenho certeza. Aquilo só não seria pior do que eu me sentar no colo dele.

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Ficar tão próxima a ele estava mexendo com os meus sentidos. Era os movimentos dele que meus olhos captavam. Era sua voz sensual e rouca que meus ouvidos traidores escutavam. Era minha pele que se esquentava e implorava por um contato físico com a dele. Era até mesmo o meu olfato que absorvia o ar saturado com sua essência. Eu estava enlouquecendo e não conseguia me impedir de ir de encontro à loucura.

Com o corpo tenso e os olhos fixos no prato, eu passei a mais torturante das horas. O sabor da comida era indistinguível em meu paladar. Eu apenas mastigava e engolia o que estava a minha frente sem realmente sentir o gosto. A única coisa que eu realmente sentia naquele purgatório era a sensação do vinho descendo pela minha garganta e aquecendo meu corpo de uma forma minimamente reconfortante. Em situações normais, eu jamais tomaria mais do que duas taças porque sei do meu fraco para o álcool, mas estava tão inquieta que a única coisa que eu tinha coisa que parecia me ajudar era beber.

– Você está estranha. – a voz sussurrada de Alice ao meu lado me fez dar um pulo e acordar de meus devaneios – Aconteceu alguma coisa de errada?

Eu transei com seu irmão e não sei onde escondo minha cara, minha mente perversa formulou a resposta rapidamente e eu tive que morder a língua com força para não dizer aquilo em voz alta. Se eu já estava mortificada o suficiente apenas com os olhares indiscretos e maliciosos de Edward, imagina se Alice descobrisse que o gostoso da boate era simplesmente o seu irmão? A possibilidade de ela tomar conhecimento disso me fez tremer internamente.

– Impressão sua – sussurrei no mesmo tom de voz baixo e discreto que ela usara, mentindo descaradamente.

É claro que ela percebeu. Qualquer um podia notar que eu estava estranha, até mesmo Emmett, que é o mais alheio entre todos ao que acontecesse ao seu redor, percebeu que eu estava desconfortável com algo e ele não pode deixar de comentar.

– Claro que está, né, baixinha? Ela ficou caidinha pelo nosso Eddie – ele soltou uma gargalhada alta, fazendo todos olharem para ele – Estou quase me preocupando. Eu preciso pegar um babador para você, Baby B? - Baby B? De onde foi que ele tirou essa? É impressionante a capacidade de Emmett arrumar um novo apelido para mim depois de tantos anos nos conhecendo.

Meu rosto ficou subitamente quente com a afirmação inconsciente de Emmett. Ele não fazia a mais remota ideia do quão próximo da verdade ele estava. Eu olhei rapidamente ao redor da mesa vendo algumas pessoas sorrindo divertidas com a frase de Emmett, embora não suspeitassem de nada. Mas isso foi até eu encontrar um certo par de olhos verdes.

O cretino se divertia com a minha desgraça! Aquele estúpido sorriso torto que me levou ao delírio quando o vi pela primeira vez estava lá adornando seu rosto perfeito. Eu podia ver o quanto ele se esforçava para não cair no chão gargalhando da minha cara enquanto eu o fulminava com os olhos. Ele piscou um olho para mim e novamente me vi encantada, por um brevíssimo segundo.

Olhei para Emmett, ainda rindo escandalosamente, e rolei meus olhos teatralmente, soltando um bufo de ultraje. Bufar era algo bom considerando que eu não conseguiria encontrar palavras para desmenti-lo – vamos dizer que as aulas de teatro, que eu fiz durante o colegial para ajudar a me livrar de minha timidez, não ajudaram em nada na minha capacidade de enganar alguém.

Olhei para Alice e sussurrei um inaudível \"me ajude\", apenas mexendo meus lábios, e ela logo atendeu meu pedido, iniciando uma conversação descontraída apenas focada em seu irmão.

– Então, Eddie, como está Londres? – perguntou ela, animada.

– A mesma de sempre. Posso garantir que não mudou em nada desde a última vez em que você me visitou.

– Nenhuma novidade? – insistiu Alice, os olhos estreitos em fendas. Sua pergunta era quase um desafio a Edward e eu não entendi o porque da insistência.

– Não? – sua resposta foi tão incerta que mais pareceu uma pergunta do que uma resposta.

– Sério? Porque toda a vez que eu ligava para o seu apartamento essa semana eu ouvia uma mensagem de que o número não existia. Tem algo que você queria me contar?

– Tem razão, filha – concordou Esme, os olhos cintilando diante da constatação – Eu tentei te telefonar algumas vezes na semana passada, mas não conseguia completar a ligação.

Mesmo não querendo, não pude impedir a mim mesma de prestar atenção na conversa. Pela primeira vez desde que me sentara a mesa, eu levantei os olhos do meu prato e olhei atentamente o rosto de Edward, impedindo a mim mesma de suspirar como uma adolescendo boba e apaixonada pelo homem perfeito diante de mim. Ele, por sua vez, parecia um pouco tenso e contrariado, como se estivesse entrando em um assunto na qual ele não desejava abordar agora.

Edward fez uma careta, ainda olhando para sua irmã, e suspirou resignado, murmurando \"baixinha intrometida\" ou algo do gênero.

– Eu me mudei, por isso não conseguiram.

– Por que não nos contou antes? – perguntou uma baixinha enfezada, franzindo o cenho enquanto olhava desconfiado para seu irmão – Não tinha motivo para nos esconder isso nos seus telefonemas a não ser que...

Os olhos dela ficaram desfocados momentaneamente, como se ela estivesse cogitando uma nova hipótese apenas agora. Eu ainda olhava o rosto de Edward quando a baixinha perguntou, quase gritando.

– Você está indo morar com sua namorada?

Meus olhos se arregalaram e eu quase cuspi o vinho que estava bebendo. Nunca me passara realmente pela cabeça que Edward pudesse ter uma namorada e, se esse fosse o caso, eu teria dormido com um homem comprometido. Tal hipótese me pareceu aterrorizante.

Quando terminei meu namoro com Jacob, me senti traída e enganada e imaginar que eu pudesse ter feito o mesmo papel que Leah desempenhara como a \"outra\" na vida de alguém me fez estremecer internamente.

Todos na mesa olharam em expectativa para Edward a espera de uma resposta e ele apenas gargalhou da pergunta de sua irmã, como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo. Eu não via a menor graça naquilo e apenas olhei mortalmente para ele, esperando por uma negativa de sua parte, do contrário, acho que seria possível meu punho acidentalmente colidir com seu rosto perfeito em um soco bem dado.

– Não – ele ainda riu mais uma vez antes de se acalmar – Não mesmo. De onde tirou essa idéia absurda?

– Não é tão absurda assim e você sabe disso.

– Bom... – ele pigarreou desconfortavelmente e me perguntei sobre o que ambos escondiam – Talvez, mas esse não é o caso.

– Então por que você se mudou? Achei que adorasse aquele apartamento.

– Conveniência. Fui aceito para trabalhar em outro hospital e não podia continuar morando lá – respondeu ele, sorrindo brilhantemente como se escondesse um grande segredo dos demais.

Fiquei meio avoada analisando como seus lábios se esticavam e mostravam duas fileiras de dentes brancos e perfeitamente alinhados. E ali, sentada naquela mesa diante das pessoas mais importantes que conheço, eu me peguei desejando seus lábios sobre os meus novamente.

Eu tinha certeza de que meus olhos estavam expressando exatamente a luxúria que corria livremente por minhas veias. Não me importei que Edward olhasse para mim naquele mísero instante e retribuísse meu olhar, me deixando ainda mais sedenta por ele. Apenas por aquele pequeno segundo eu mandei à merda todas as minhas preocupações e encarei seus lábios com fome, lambendo os meus quando senti minha boca seca.

O movimento de minha língua pareceu atrair a atenção de Edward e ele rapidamente olhou para meus lábios. O desejo flamejando em seus olhos verdes era mais que evidente para. Eu podia ver como suas pupilas dilataram, tornando o verde de seus olhos mais intensos e o obrigando a entrecerrar os mesmos, e como sua boca repetiu meu gesto em um ato inconsciente.

– E quando você pretende voltar para lá, meu filho? – a tristeza era palpável na voz que quebrara a conexão existente entre Edward e eu naquele segundo.

A pergunta de uma Esme completamente alheia foi o suficiente para a Bella responsável e sensata existente dentro de mim recobrar o controle de meu corpo, me fazendo olhar novamente para meu prato. Meu corpo ficou tenso a espera da resposta de Edward, que não tardara em responder sua mãe.

– Eu não sei, mãe. Talvez durante minhas férias de verão eu volte para lá para visitar meus amigos, mas não tenho certeza – falou com a voz um pouco mais rouca do que o normal.

Pelo canto dos olhos vi Alice olhar para ele de forma acusadora, quase o fuzilando com o olhar, e ele apenas deu de ombros e a ignorou como se não fosse nada de importante. Eu não entendi o porquê de sua agressividade com o irmão, mas tinha quase absoluta certeza que isso se devia à forma como ele me olhara. Só acho que Alice não observara por tempo suficiente para perceber que eu quase o comi com os olhos também.

– Eu não entendo... – disse Esme, claramente confusa.

– Eu fui aceito para trabalhar no Hospital Central de Seattle e estou me mudando para a cidade. Voltar para Londres somente ocorrerá se eu entrar de férias.

Eu olhei atentamente o rosto de Edward esperando ver ali algum vestígio de humor que me dissesse que ele estava brincando, mas não. Seu rosto, assim como seus olhos, demonstravam apenas alegria e diversão enquanto analisava as reações de todos ante a iminente mudança. Quando seus olhos focaram em mim ele apenas sorriu aquele meio sorriso torto que parecia ser a senha para me deixar louca e deu uma piscada maliciosa.

Minha mente lutou para digerir a novidade e as conseqüências vindas com ela. Constrangimento, desejos, provocações e, o mais preocupante, insanidade. Eu sabia que perderia qualquer contato com a razão se ele fosse morar na cidade. Apenas pensar que eu enfrentaria o mesmo tormento que era olhar para ele todos os domingos fez o sangue fugir do meu rosto e eu buscar o meu refúgio encontrado nas últimas horas.

Sem vacilar, minha mão pegou a taça de vinho ainda pela metade e a levou aos lábios, sorvendo o líquido em poucos goles. Quando a taça estava vazia em minha mão, apenas um pensamento coerente me atingiu.

Acho que vou precisar de uma garrafa só para mim.