*Lucy

Toda vez que eu ouvia, ou lia em algum lugar a expressão “aquelas palavras me machucaram mais que qualquer dor física” ou alguma coisa do tipo, eu sempre ria em deboche.

Mas isso perdeu totalmente a graça quando descobri que é realmente possível. Tudo perdeu a graça quando cheguei ao apartamento que dividia com meu noivo e no lugar dele encontrei um bilhete de despedida ao lado da sua aliança e sua gaveta no meu guarda roupa vazia.

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Mas o vazio daquela gaveta não se comparava nem um pouco ao vazio que havia se instalado dentro de mim. De repente eu observei toda a minha vida perder a cor e ficar totalmente cinza.

Não sou idiota, sempre soube que Victor e eu tínhamos nossas diferenças. Eu gostava de açúcar no meu chá, ele não. Eu preferia ler a assistir, ele não. Eu era fiel... ele não. E mesmo depois de descobrir sobre suas inúmeras traições eu o perdoei. Céus, eu fui tão estúpida a ponto de perdoa-lo! Agora quando olho para trás percebo que não o perdoei porque o amava, e sim porque tinha medo de ficar sozinha.

Humph, que ironia. Olhe para mim agora: totalmente sozinha.

Ele foi embora e eu fiquei aqui, sem rumo, sem vontade de seguir em frente.

Talvez se isso houvesse acontecido alguns anos antes eu estaria me afogando em lágrimas, ou vivendo em baladas tentando provar para o mundo que eu estou bem. Mas eu já tenho 23 anos, e já passei dessa fase a um bom tempo. Não derramei uma lágrima sequer depois que ele foi embora, e pretendia me manter assim. Mas no dia anterior, quando estava numa cafeteria encarando seu bilhete de despedida sem reação, não consegui me segurar. As lágrimas vieram com força total, uma atrás da outra.

E agora vivo meus dias no piloto automático: acordar, trabalhar, vir para casa e repetir tudo de novo.

E hoje tinha tudo para ser apenas mais um dia como esses, mas não foi.

Por causa dele.

Eu o encontrei quando sai do trabalho. Estava atravessando a rua em direção ao meu prédio quando o vi no meio da multidão. Ele parecia tão assustado, indefeso. Olhando ao redor freneticamente, como se não tivesse a menor ideia de como havia parado ali.

Eu poderia simplesmente ter seguido em frente, como todos ao meu redor. Poderia ter continuado no piloto automático, como estava fazendo há alguns dias. Mas algo sobre aquele rapaz me fez ir até ele, como um pedaço de metal estúpido atraído por um imã. Quando dei por mim, estava ao se lado, perguntando:

—Moço... Você está bem?

Ele me olhou, percebendo a minha presença e por um momento esqueci tudo o que estava acontecendo. As pessoas ao meu redor, meu ex-noivo mau caráter, tudo desapareceu quando seus olhos extremamente azuis pousaram em mim. Eles pareciam pedaços do céu, divinamente moldados. Aquele azul foi a primeira cor que eu enxerguei depois de dias vivendo uma vida totalmente cinza.

—E-eu não tenho certeza. –ele respondeu, ainda parecendo muito confuso e assustado. –Onde eu estou?

Eu poderia simplesmente ter dito o nome da rua, ido embora e tentado esquecer aquele encontro estranho. Mas alguma coisa dentro de mim me dizia que eu não podia fazer isso. Estava envolvida demais agora. E ele parecia tão indefeso que eu não pude resistir a dizer:

—Olha, você não me parece nada bem. Vem comigo, meu apartamento é logo ali. Nós podemos sentar, conversar, e você pode me contar o que aconteceu e eu posso tentar te ajudar, ok?

Ele apenas anuiu com a cabeça, ainda parecendo totalmente perdido.

Enquanto atravessávamos a rua, não pude evitar olha-lo. Se minha mãe pudesse me ver agora perguntaria se eu estava ficando maluca levando um estranho para casa, diria que ele podia ser um assassino...

E eu responderia que se todo assassino fosse tão lindo assim, eu assumiria o risco.

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