Zugzwang

Capítulo 9


— Ele não tentou esconder a vítima. Parece que está em exibição. – JJ se agachou para analisar os saltos que Taylor usava. Dessa vez, a vítima estava vestida, ainda com os olhos e boca costurados, porém usava uma maquiagem bem exagerada. Cílios postiços em apenas um dos olhos e batom vermelho por cima da linha branca.

Ela estava amarrada em uma árvore, dessa vez perfeitamente, com o tronco reto e os braços colocados ao lado de ser corpo também perfeitamente.

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Os cabelos dela também eram de náilon. Reid pegou uma luva e tirou a peruca, pedindo licença para um policial.

- Oh, JJ, olhe isso. - ele apontou o mindinho para o coro cabeludo danificado. - Está queimado e parece que os cabelos foram arrancados de forma extremamente agressiva.

Ela fez uma cara de desconforto e, já sem as luvas, bagunçou o cabelo de Spencer.

- Já imaginou ficar sem esses, Spence? - brincou e ele franziu as sobrancelhas, fazendo a loira sorrir antes de pegar o celular que começou a tocar. - Está no viva-voz, Morgan.

- Achamos que as vítimas foram com ele por vontade própria. - ele disse.

- Como? - Spencer se aproximou do celular e tirou as luvas.

- A mãe de Taylor disse que ela estava procurando carros para comprar.

- Então ela fez um teste drive? - JJ franziu as sobrancelhas e disse em tom irônico: - Original.

~*~

Reid guardou o celular quando Morgan chegou à sala onde ele estava com Rossi e Hotch.

— As câmeras de segurança foram desligadas antes de as vítimas desaparecerem e entrarem no carro.

— Ele não se importou em correr o risco de ser pego. – Hotch disse. – É um bairro movimentado... Precisava da vítima e valia o risco.

— Outra vítima foi achada. – Rossi informou depois de verificar o celular. – Reid e Hotch?

Eles assentiram e pegaram o endereço.

O cabelo da vítima era preto naturalmente e o suspeito não arrancou os cabelos antes de colocar as perucas. Não havia lesões no pescoço e perceberam que o assassino estava ficando com cada vez mais pressa. O corpo estava preso a uma árvore.

— Como ele morreu? – perguntou o detetive da cidade.

— Continua sendo afogamento. – disse o mais velho.

— Ou sofreu uma queda. – Reid supôs e olhou para as mãos do rapaz no tronco, estavam perfuradas, como se estivessem pregadas. – Perfurou-as e seguiu até o punho. Os pés estão da mesma maneira.

~*~

— O suspeito tem no mínimo 30 anos e tortura as vítimas. Tenta aperfeiçoar um delírio e já falhou três vezes. Como em casos de fantasias, a realidade não é perfeita como o suspeito imagina. A fantasia envolve tortura e afogamento de vitimas. – Hotch anunciou para os policias locais.

— Antes de matar ele arranca os cabelos e substitui por perucas, por isso achamos, junto com o modo de como expõe os corpos, que o suspeito está transformando as vítimas em manequins. – completou Reid.

— Como alguém do passado do suspeito, ele acha que as vítimas fizeram mal a ele e quer que as vítimas se arrependam ou aceitem determinadas crenças. – JJ continuou. – Mas alguma coisa não está dando certo para ele.

— O modo como os corpos são descartados sugere fascínio por esses bonecos. – Morgan disse depois de estranhar o fato de Spencer encarar o chão por um bom tempo

— Afogar é sadismo e assistir é tortura máxima. Achamos que as mortes continuarão enquanto o suspeito tenta chegar à perfeição. – Blake finalizou. – Obrigada.

~*~

Spencer fazia o perfil geográfico em uma das salas. Não conseguia se concentrar lá fora, com todo mundo falando. Ele levantou o olhar do mapa da cidade na hora em que Blake entrou na sala e ele sabia que ela queria falar sobre como estava distraído. Ele deu um sorriso pra ela e se levantou, saindo da sala e indo até outra onde Hotch e Rossi estavam. Não queria falar sobre o que o distraída, já que nem ele mesmo conseguia entender o porque de Charlie não sair de sua cabeça.

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— A legista ligou. – Rossi andou até o outro agente. – O maxilar da terceira vitima foi deslocado.

— Por que afogar alguém, arrancar os cabelos e agora começar a deslocar ossos? – Hotch perguntou.

Spencer perdeu o olhar mais uma vez, fitando uma das persianas da sala.

— Talvez deslocou os ossos para manipular as vítimas. – ele pensou alto.

— Para que propósito? – Blake perguntou.

— Sabemos que está transformando as vítimas em manequins, talvez por se sentir controlado durante a juventude ou algum tipo de trauma...

— Um adolescente foi sequestrado em um estacionamento. – o detetive entrou na sala, cortando Reid, que abrira a boca para falar algo.

— Rossi e Blake vão verificar. – Hotch mandou e pegou o celular, discando o número de Garcia. – Vamos verificar fábricas que produzem esses tipos de bonecos e lojas mais famosas por aqui.

— Cinco empresas fabricam na região. – a loira informou. – Vou conectar Morgan e JJ.

— Algum incidente envolvendo adolescentes? – Reid perguntou.

— Não. – Garcia suspirou. – Nada.

— Há 20 ou 30 anos? – sugeriu Blake.

— Sim, em uma dessas fábricas foi reportado um caso de abuso sexual... O dono na fábrica, Adam Youth, foi acusado de ter se aproveitado de Phil Cameron. Apesar da denúncias de funcionários e da família de Cameron, Youth saiu ileso das acusações

— Endereço de Cameron? – pediu Hotch.

— Mandei o endereço certinho para os celulares de vocês. Tá... A história dele é meio tensa: ficou algum tempo fazendo tratamento psicológico, mas nunca se curou totalmente. Tentou voltar a trabalhar, mas teve um surto de bipolaridade e ficou afastado. Ele agora se vê como uma criança.

Rossi e Hotch já estavam no carro e ouviam Garcia pelo viva-voz.

— Ele se vê como criança. Como Complexo de Peter Pan. É um psicopata que acha que é criança.

Eles desceram do carro e correram até a antiga casa abandonada. Não conseguiram disfarçar as expressões que eram uma mistura de surpresa e dó do que viram. Cameron obrigava Taylor Fitzgerald a se despir, enquanto outra vítima masculina, já com a boca costurada, olhava para a cena com uma arma na cabeça, segurada por Phil.

— Phil Cameron! – Hotch disse com a voz firme. – FBI. Preciso ver suas mãos.

O homem pareceu perdido por um momento.

— O que estão fazendo? – perguntou desesperado e pressionou a arma contra o crânio do homem a sua frente. – Chamem os seguranças!

— Phil, largue a arma. – Rossi destravou a sua.

— Estamos no meio de uma encenação! – ele argumentou. – Eles precisam saber o que eu vivi!

— Precisamos levar essas pessoas ao hospital. – Hotch deu um passo a frente.

— Não faça com essas pessoas o que o Youth fez você. – Rossi pediu. – Você pode salvá-los.

Os agentes aproveitaram a confusão momentânea de Cameron para andar até ele rapidamente. Tiraram a arma da mão dele e o algemaram. Paramédicos e membros da polícia local os seguiram, libertando as vítimas e entregando as roupas para Taylor.

~*~

Charlie acordou com seu celular vibrando no criado mudo, ao lado de um exemplar de Assassinato no Expresso do Oriente. Ela tateou a mesinha, ainda sem entender muita coisa, e acabou derrubando um dos cadernos em que ela passara quase a noite inteira escrevendo. Finalmente achou o celular e desconectou do carregador. Era Spencer.

— Oi. - ela se sentou na cama, preocupada, e acendeu o abajur, fechando um pouco os olhos devido ao desconforto da luz. O cômodo ficou com um tom amarelado por conta da lâmpada. - Tá tudo bem?

— Me desculpe por te acordar... - ele resmungou, observando se todos estavam dormindo. Se ajeitou na poltrona em que dormira.

— Não tem problema, o que aconteceu? - ela perguntou sincera.

— Está tudo bem, Charlie, volta a dormir.

— Agora eu já estou bem acordada, Spence. Você não me ligaria no meio da noite porque está com saudades. O que aconteceu?

— Eu só queria ver se você está bem... - ele falou após um tempo, encarando o couro bege de outro assento.

— Spence, por que eu não estaria? - Charlie esfregou os olhos.

— Eu tive um sonho, só isso. - ele percebeu que amassara o copo de plástico que estava na mesa a sua frente.

— Sobre o que? Quanto mais se fala de algo, mais normal fica.

— É, eu sei... Você tinha sido sequestrada e o suspeito me mostrava o que estava fazendo com você e... Sobre o caso de hoje. - ele via Charlie sendo controlada por Phil, mandando ela tirar a roupa e simulando os abusos que sofreu quando mais novo.

— Eu estou bem, Spence. - ela o tranquilizou e tentou não sorrir quando percebeu o quão preocupado ele ficara. - Estou em casa, tudo bem.

— Que bom. Você ainda vem, não é?

— Certeza que não irei só incomodar? Deve estar morto de cansaço.

— Charlie. Eu te convidei, certo? - ele sorriu.

— Certo... – ela concordou e sorriu da mesma maneira que ele.

— Me desculpe por te acordar, eu só queria ouvir sua voz.

— Também queria ouvir a sua. Terminei Assassinato no Expresso do Oriente de novo. - ela falou rápido, antes que o silêncio reinasse.

— Sério? - ele se levantou, tentando não fazer baralho e passou por JJ e Morgan, que dormiam em um dos assentos, lado a lado. - Bom, Poirot é um bom detetive, mas Holmes...

— Poirot pode resolver um crime sentado apenas em sua poltrona. - Charlie o cortou, deitando-se na cama e desligou o abajur.

— E sobre os raciocínios de Holmes? - Spencer andou até a cafeteira no fundo do jatinho e encheu um copo, voltando seu lugar.

— Habilidade de dedução de Poirot. - Charlie respondeu. - O cérebro de Poirot...

— Está dizendo que Holmes não tem um? - ele gostava de argumentar com ela e perceber como ela pensava em respostas rapidamente.

— Não, Spence. Estou dizendo que talvez eu prefira os livros de Agatha Christie.

— Já leu um de Conan Doyle?

— Já. Peguei escondido da biblioteca da escola porque a bibliotecária não me deixava emprestar.

— Por que?

— Ela dizia que eu era muito nova.

— Quantos anos você tinha?

— Oito. Mas a questão é que eu li e achei confuso na época... Não sei por que nunca tentei ler de novo.

— Qual você pegou?

— O Signo Dos Quatro, mas minha mãe me viu lendo e tirou de mim. Ela era um pouco superprotetora, até com os livros de Doyle. - os dois soltaram uma risada fraca. Reid ouviu Morgan resmungando algo como "cala a boca", sem saber exatamente para quem, e voltou a dormir. – Mas não gosta de Agatha Christie?

— Nada contra, só sou um grande fã de Holmes. Você deveria voltar a dormir.

— Não acho que conseguiria voltar a dormir.

- Por que? Você está bem?

- Uhum. - mentiu.

- Oh, Charlie... - Spencer se sentou no último banco próximo ao café, podendo ver se alguém acordaria. - Fale comigo. Eu sei que é tarde, mas também sei que não vai conseguir dormir até se sentir bem.

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- Eu estou bem, Spence.

- Vou ter que fazer aquilo de novo? - ele sorriu minimamente e Charlie sabia o que era "aquilo". Sempre que Spencer percebia que algo a incomodava e sabia que precisava conversar, ele começava a falar sobre as últimas coisas que sentia, afim de fazê-la se sentir confortável. - Achei que já confiasse em mim o suficiente.

Spencer disse em tom de brincadeira, mas Charlie entendeu que ele falava a verdade.

- Confio, é claro. - ela sorriu e respirou fundo, cruzando as pernas enquanto encarava o edredom embolado a sua frente.

- Então fale comigo. - Spencer pediu.

- É possível sentir que há uma espaço vazio em você, mas que pesa de forma inexplicável? Ignorando totalmente todas as leis de física, matemática ou sei lá? Como algo que não existe pode pesar? O vazio dói tanto.

Spencer sentiu sua garganta fechar, só querendo a abraçar. A deixou falar, sua experiência como profiler lhe ensinou isso.

- Eu só... Eu sinto falta da minha família, eu quero elas de volta. Não quero estar em Yale sem minha irmã. Eu não quero que tudo o que aconteceu seja verdade... Que nós nos conhecemos em uma situação totalmente diferente.

Ela falava devagar, como se para controlar as lágrimas.

- Spence, eu quero você aqui. - murmurou por fim. Reid não soube o que fazer por um momento. Não esperava isso vindo, mas como queria estar lá. - O que você faria? Se estivesse aqui comigo.

O coração dele parecia subir pela garganta.

- Eu iria te abraçar. Iria te abraçar tanto e sorriria ao sentir seus dedos pelo meu cabelo, porque você faz isso mesmo sem perceber, iria analisar cada detalhe do seu rosto, com medo de um dia esquecer e, Charlie, eu diria o quando senti sua falta.

- Você sente? - ela só conseguiu falar isso.

- Você sabe o quanto. Eu... - Spencer murmurou. - Eu olharia para seus olhos por muito tempo e tentaria entender a cor. Sabia que as melhores coisas são as que não conseguimos explicar? - ele falou rápido. - Charlie, é como se só ouvir sua voz já não fosse o suficiente.

- Sabe, nunca foi pra mim...