Zugzwang

Capitulo 35


Spencer acordou por volta das onze horas. Há um bom tempo não acordava tarde. Há um bom tempo não dormia bem assim. A primeira coisa que viu quando acordou foram os cabelos de Charlie caídos sobre seu ombro. Ela estava de costas para ele, mas estavam próximos e mantinham os pés entrelaçados. Charlie segurava a mão de Spencer, que estava por cima de sua cintura. Ele tinha o rosto afundado no pescoço dela, gostando do ar quente que inspirava. Reid tirou o cabelo de seu pescoço e depositou alguns beijos suaves, não querendo acordá-la e a segurou mais perto. Não soube dizer quando tempo ficou assim - meia hora, aproximadamente -, até a sentir beijando a palma de sua mão.

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— Bom dia. - ele disse baixinho.

— Oi. - Charlie se virou para ver seu rosto. - Dormiu bem?

— Ótimo. - Spencer olhava para o pequeno sorriso nos lábios dela. - Você?

— Também. Sabe, para quem ficou recoso quando me abraçou no elevador do shopping, Spence, ontem você...

— Charlie. - ele a interrompeu rindo. Ela deu de ombros, como dizendo "é a verdade", o que fez Spencer sorrir e beijar de novo. Quando se afastaram, ela tinha as mãos em seu cabelo. Spencer gostava quando Charlie fazia isso e ficou feliz quando percebeu que era um costume dela.

Charlie se virou para levantar, mas sentiu os dedos de Spencer em sua mão, fazendo-a voltar a se deitar.

— O que? - ela sorriu. Reid a puxou para perto, deixando o rosto dela próximo ao seu, que estava um pouco mais alto.

— Vamos só ficar aqui por um tempo. - ele respondeu, e não pôde deixar de se sentir mal quando seus dedos passaram por algumas cicatrizes nas costas dela.

— Eu iria fazer o café. - ela disse sorrindo, seus narizes quase se tocando. Ele semicerrou os olhos.

— Você cozinhando?

— Spencer! Eu sei cozinhar. Eu fiz panquecas aquela vez que você passou um tempo lá em casa, depois que eu passei em Yale. Estavam ótimas! - ela se defendeu quando viu a feição dele, que desviou o olhar, não querendo concordar, brincando. Spencer beijou a ponta do nariz dela e os dois voltaram a se abraçar. Charlie poderia ficar ali o dia inteiro, sentindo o toque macio de Spencer, os dois longe do frio que estava lá fora, a neve típica dessa época do ano ameaçando a cair. Ficaram por quase meia hora, conversando em uma voz suave.

— Ok, também estou com fome. - ele beijou a testa dela depois que falou.

— Sabia. - ela riu e procurou seu pijama, o colocando em seguida. Spencer fez o mesmo. O apartamento estava frio fora do quarto dele, fazendo-o voltar para o cômodo, procurando sua blusa do pijama. Quando chegou à cozinha, Charlie havia colocado duas canecas lado a lado no balcão da cozinha, assim como dois pratos. A cafeteira já estava trabalhando.

- E o que teremos hoje? - ele perguntou se sentando em uma das banquetas.

- Waffles. - ela sorriu. - Congeladas, porque eu não faço milagres.

Ele sorriu mais e, quando tudo estava pronto, se sentaram lado a lado, conversando sobre coisas sem importância e rindo distraidamente. O cheiro do café que Charlie havia feito enchia o olfato de Spencer. Ele passava a mão carinhosamente pela perna dela, enquanto Charlie brincava com os cachos de Spence que estavam mais bagunçados que nunca.

O cabelo solto de Charlie estava mais armado e enrolado do que o normal, todo jogado para o lado oposto de Spencer, deixando que ele visse seu rosto com clareza. A janela atrás deles estava aberta, deixando uma brisa leve e fria entrar no apartamento. Ela não se importava de que a cortina estava aberta, na verdade até se sentia aliviada ao ver luz natural.

— No que está pensando? - Spencer tomou o resto do café que tinha em sua caneca e olhou para o lado, vendo Charlie morder o interior do lábio inferior sem perceber.

— Romeu e Julieta. - admitiu olhando para ele, a ponta de um sorriso envergonhado crescendo em seus lábios.

— O que sobre eles?

— Romeu sorriu quando percebeu que Julieta estava viva, mesmo que ele estivesse morrendo. - Spencer sorriu quando ela começou a falar. - E histórias assim são tão... Como em Titanic. Perder quem você ama é uma das piores coisas que alguém pode passar, se não a pior. E nós dois passamos por isso, diversas vezes. - ela continuava olhando para a caneca em suas mãos, envergonhada por perceber aonde chegaria. - Meu ponto é: é loucura agradecer toda manhã por você ainda estar ao meu lado?

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— Seria loucura eu não estar. - ele sorriu para a imagem dela corando e colocando mais café em sua caneca, e passou o braço pelos seus ombros, a puxando para perto. Ele maneou a cabeça quando ela ofereceu mais café. - Então, eu tenho uma semana fora, porque Hotch achou que você precisaria de alguém nesse tempo, e é verdade.

— Tenho duas.

— Só duas?

— Não quero ficar muito tempo longe, sabe? Manter a cabeça ocupada. - ele concordou e se levantou, pegando a mão dela. - Vai onde?

— Temos planos. - ele disse como se fosse óbvio. Charlie sorriu surpresa e se levantou.

— E quais são, Dr. Reid?

— Bom, nada específico, mas... - ele sorriu tímido, o que fez Charlie rir. - Mas tem milhares de lugares que eu quero te mostrar.

Spencer ouviu seu celular tocar no quarto e Charlie conseguiu ouvi-lo falar "Oi, Rossi". Ela tirava a louça quando Spencer apareceu na sala dizendo tchau e desligou o celular.

— Rossi nos convidou para almoçar na casa dele, daqui meia hora. - Reid contou. - Não precisamos ir, se você não quiser. Falei pra ele que o avisaria.

— Por que "não precisamos", Spence? - Charlie sorriu. - Você poderia ir sem mim.

— Não consigo imaginar ficar longe de você agora. - ele deu um sorriso tímido, mas ela identificou uma ponta de tristeza. Se tivesse passado pelo que ele passou, faria a mesma coisa.

— Vamos, sem problemas. - ela ficou na ponta dos pés e lhe deu um selinho. - Eu... Eu vou tomar um banho antes da gente ir, pode ser?

— Tá bom. - ele escondeu o receio por ela. Sabia que alguma coisa tinha acontecido naquele tempo com Blauman e que ela não havia contado.

Charlie sorriu e andou até o quarto, onde sua pequena mala estava. Tirou algumas roupas e pegou Spencer a observando, mordendo o interior dos lábios.

— O que? - ela perguntou.

— Estou preocupado com você. - admitiu.

— É um banho. - Charlie deu de ombros. - Ontem foi... Eu me desequilibrei, Spence, só... Se está tão preocupado, vem comigo. - ela se interrompeu.

— O que...? - ela levantou as sobrancelhas quando viu a confusão dele, mas não precisou perguntar novamente. - É, ok. - respondeu algum tempo depois.

~*~

Não haviam muitas pessoas na rua, então Charlie, depois de olhar para os lados, pulava em montes de neve, querendo ver suas pegadas. Ela e Frances faziam isso o tempo todo. Spencer e Charlie haviam optado por não usar o carro. Ele usou suas estatísticas e porcentagens para mostrar quantos carros ficam presos na neve e Charlie apenas concordou, queria mesmo andar na neve, fazia um bom tempo que não fazia isso.

Eles andavam de mãos dadas, conversando e rindo de coisas aleatórias. Spencer percebia que o sorriso de Charlie se fechava toda vez que um homem passava e olhava para ela por mais de um segundo.

— Ignore-os. - sussurrou para ela. - Você está linda, por isso estão olhando. Sei que não é argumento, mas eu estou me segurando para não ficar parado olhando pra você por horas.

Ela sorriu envergonhada e abaixou o olhar para sua bota, que afundou um pouco na neve.

— Spence? - ela tentou chamá-lo casualmente algum tempo depois, quando desviou os olhos de uma vitrine de roupas.

— Sim?

— Lá no hospital, quando Garcia brincou sobre a gente se casar. Você ficou nervoso e... Eu só estava me perguntando se... Um dia, você se vê casado?

Ele a olhou com um sorriso no rosto. Os dedos da outra mão de Charlie batiam levemente em sua calça jeans.

— Sim. - ele respondeu. - Eu quero me casar e ter filhos.

Ela se voltou para Spencer e assentiu, segurando um sorriso. Estavam quase na casa de Rossi. Não era muito longe, mas demorava um pouco para chegar andando.

— Estava pensando sobre o que você disse no café. - ele admitiu uns dez minutos depois, quando ela terminara de falar sobre o livro que começou a ler, um dos que Spencer havia lhe dado. - Sobre você agradecer que estou do seu lado.

— Foi idiota, não foi? - ela riu envergonhada.

— Não. Foi idiota eu não dizer o quanto eu agradeço por não ter te perdido.

Charlie não respondeu, só parou de andar e ficou na ponta dos pés, puxando o rosto dele para perto.

— Bom, eu estou aqui. - ela sussurrou e juntou seus lábios enquanto os dois ainda estavam sorrindo. - Vamos, estou morrendo de fome.

Ele riu, pensando que eles mal havia acabado de tomar café. Quando chegaram à casa de Rossi, Henry foi o primeiro a correr para fora quando os viu. Esticou os bracinhos para que Spencer o pegasse no colo e em seguida quis que fosse Charlie que o segurasse. Ele não queria sair de perto deles e só fez isso quando Jack o mostrou um novo boneco do Batman que havia ganhado do pai.

— Elizabeth e Darcy! - Penelope se levantou do sofá quando os viu entrando. Charlie levantou as sobrancelhas surpresa ao ver o interior da casa e eles riram.

— Oi. - Spencer levantou a mão para eles. JJ estava ao lado de Will e sorriu para a imagem de Reid tão feliz. Garcia tinha puxado Charlie para seu lado, no sofá branco gigante, e elas começaram a conversar alegremente, enquanto Spencer ficou ao lado dela, falando com Hotch, Beth e Blake. Rossi apareceu na sala e desviou dos brinquedos de Jack e Henry. Ele cumprimentou Spencer e abraçou Charlie, o que fez Reid franzir as sobrancelhas.

— Tenho uma foto que gostaria de mostrar. - Dave chamou a atenção de todos quando disse isso e pegou um porta-retratos, com a primeira foto da equipe junta, desde que ele havia se juntado a UAC, e entregou para Charlie, que sorriu surpresa quando viu. Garcia riu, também.

— JJ, seu cabelo estava um amor! - Penelope disse e a outra loira olhou para os lados, envergonhada ao se lembrar da franja. - Ah, eu sinto falta de Emily. Você ia se dar bem com ela, Charlie, ela também falava francês e sei lá mais quantas mil línguas.

Eles riram e concordaram.

— Spencer, por que eu nunca te vi assim? - a boca de Charlie estava em um "o", que se abriu para um sorriso depois quando o viu na foto, com um sorriso tímido. - Você parecia assistente de professor! Sabe? Aqueles de quando a gente tinha oito anos.

— Obrigado, Rossi. - Spencer murmurou e todos riram.

— Você era muito fofo, deveria voltar para os óculos. - Charlie entregou o porta-retratos para JJ, que pediu e continuou falando com Reid.

— Pretty Girl, certeza? - ouviram a voz de Morgan. - O amor é cego, mesmo.

Spencer abaixou a cabeça, um pouco tímido, mas Morgan colocou a mão em seu ombro, batendo levemente.

— Estou brincando, Reid! - ele riu e se virou para Garcia, piscando para ela. Charlie sorriu, adorava a amizade deles. Morgan a chamou algum tempo depois. - Bem-vinda à família, Dra. Reid.