Zugzwang

Capítulo 20


Os três voltaram correndo até o quarto. O homem se debatia na cama, seus olhos abertos, mas só se conseguia ver a esclera. Enfermeiros seguravam seus braços enquanto os agentes estavam para fora do quarto.

Robert começou a vasculhar as gavetas e achou a seringa com o medicamento que queria. Charlie controlava os fios que estavam presos em sua mão, retirando alguns e mexeu nas gavetas próximas a maca. Tirou de lá um pote de analgésicos e mostrou para Makin, que respirou fundo depois que Everett se acalmou.

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— Quem deu pra ele? – Charlie perguntou calma para uma dar enfermeiras.

— Não sei, acho que...

— Se ele tomou isso é porque está sentindo dor, e isso não deveria acontecer. – ela olhou para Rob preocupada.

— Você sabe que uma a cada três pessoas sentem quando misturam essas drogas.

— Exatamente, uma a cada três.

— Eu não ficaria surpreso com mais nada vindo desse cara. – Charlie assentiu e voltou a revistar a gavetas, achando mais dois potinhos laranja.

— Não importa o quanto ele grite, não podemos dar analgésicos para ele. – ele falou para Rob, escrevendo na ficha que estava em uma mesa próxima à porta e olhou para a enfermeira com quem havia falado antes. – Ele pode morrer se tomar.

Ela assentiu e Charlie e Rob saíram da sala. JJ, que estava ao lado de Spencer e Hotch andou até eles.

— O que aconteceu? – perguntou.

— Ele teve uma reação aos componentes químicos presentes nos analgésicos que entraram em contato com o Disulfiram e álcool. – Reid falou antes que Charlie pudesse, ela só assentiu, confirmando e eles perceberam que suas olheiras estavam ficando profundas. Ela mexia em algum pote de remédios em seu bolso quando um homem grisalho de cinquenta e poucos colocou a mão em seu ombro, interrompendo algo que ela começaria a falar para Spencer.

- Dra, precisamos conversar.

- Alguma coisa erra...? – perguntou.

- Não, mas precisa ser agora, estou com um pouco de pressa. - ela assentiu, franzindo as sobrancelhas, confusa. – Dois hospitais ofereceram propostas e... - foi a última coisa que os agentes ouviram quando eles saíram de perto. Robert pediu licença para eles e entrou no quarto de Everett de novo, analisando os exames. Spencer, mais que os outros agentes, ficou olhando para os dois conversando, mas Charlie não demonstrava reação, o que era estranho.

JJ a chamou quando o homem saiu de perto dela. Seu rosto cansado não deixava outra emoção tomar conta.

— O que era? – perguntou.

- Dois hospitais me ofereceram propostas e... Talvez eu tenha que me mudar de novo. – ela parecia embaraçada ao contar isso, como se, para ela, fosse algo para se sentir vergonha.

- Pra onde? - Spencer perguntou.

- Nova York ou Quan... - Charlie mal terminou de falar quando uma enfermeira parou ao seu lado, junto com o mesmo homem de grisalho.

- Dra. West, o paciente do 406 está precisando de novos exames até o fim de semana.

- Sim, já cuidei dessa parte. – ela respondeu.

- O do 507 - o doutor começou e se virou para Charlie, que respirou fundo. -, está com...

- Eu preciso ver um paciente na clínica, ele precisa de um transplante, preciso resolver agora e... – ela começou, mas foi interrompida novamente.

- 507 precisa que você...

- Com licença. – ela pediu para os agentes e andou se afastando deles um pouco. – Eu vou para a clínica daqui a pouco, como eu disse, preciso resolver o transplante de rim da Sra. Gray. Vamos discutir o caso do paciente do 303 mais tarde, depois da cirurgia do 420, que vai acontecer daqui alguns...

- Encaixe o 507. – ele deu de ombros, não percebendo que a agenda da equipe dela estava cheia. – Temos outra paciente, Lily Andrews, que a mãe solicitou você para atendê-la e...

- Desculpe, mas chame o Dr. Makin... - ela passou pelo meio dos dois, entregando para o doutor mais velho os papéis que segurava.

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- Mas o 406 está... - a enfermeira começou, mas Charlie a interrompeu.

- Chame Robert! Desculpe, não estou me sentindo muito bem, só chame qualquer outra pessoa. - ela falou andando pelo corredor, ignorando os olhares das enfermeiras.

Spencer olhou para Hotch, como se pedisse permissão para ir até ela. O mais velho assentiu e Spencer passou pelo meio da enfermaria e do outro doutor, que segurou Reid pelo ombro.

- Se conseguir fazê-la voltar, precisamos de...

- Ela pode ser um gênio, mas não pode lidar com cinco pacientes ao mesmo tempo. - Spencer o interrompeu e seguiu o mesmo caminho que Charlie. Ela estava parada no final de um corredor vazio, encarando o nada.

- Ei... o que está acontecendo...? - ela negou com a cabeça segurando o choro. - Você precisa falar.

Ela negou de novo e Spencer andou até ela, a abraçando. Ela aninhou o rosto em seu ombro e sentiu ele passando os dedos em seu cabelo.

- Ontem um homem disse que eu deveria estar no jardim de infância, não tentando salvar a filha dele. - ela falou sem olhar para ele e se sentiu uma criança. - Ele pediu para os diretores minhas fichas e quando leu na minha frente, disse que me deram uma bolsa e eu consegui pular anos em Yale porque tiveram pena de mim. - sua voz ficou um pouco embargada quando percebeu o que iria falar. Ela se afastou de Spencer, que não queria que ela tivesse feito aquilo. - E as mensagens estão piorando. Ontem recebi uma falando que iria te matar caso eu saísse de casa e eu não sabia o que fazer. Eu tive um ataque de pânico, causado pelo acúmulo de estresse por conta do hospital e dos estudos e do que esta acontecendo, e comecei a tomar aqueles remédios. Eu acordei na sala, com você me ligando, sem saber o que tinha acontecido, porque quando o nível do pânico é muito grande pode causar lapsos na memória. – ela falava rápido e mesmo contra sua vontade, Spencer abraçou-a novamente. Charlie não aguentou mais segurar as lágrimas. - Eu estou com medo, Spence, das mensagens e o fato de eu ter certeza que o homem está certo. Eu acho que é demais, eu não sei o que estou fazendo. Eu me enganei achando que conseguiria, é muita coisa... Eu não estou conseguindo lidar com todos os pacientes que eles me passam e...

— Você sabe que o homem está mentindo. E eles te dão milhares pacientes com casos complicados. – ele falou não aguentando a ver daquele jeito. – O homem está completamente enganado, todo mundo sabe. E você não precisa se preocupar com as mensagens, Charlie. – ela negou com a cabeça e ele se sentiu horrível quando percebeu que nem ele tinha certeza sobre isso. – Eu vou te proteger. Você precisa ir pra casa. Precisa dormir. - ele disse enquanto a abraçava, ela soluçava querendo disfarçar o choro e aquilo fazia o coração de Spencer se apertar.

- Eu não quero ir pra casa. Vou receber mais mensagens e...

- Ei, eu vou proteger você. Nada vai acontecer, ok?

- Eu não estou preocupada comigo. Eu me importo com você, Spence.

- O que? Você não precisa...

- Estão dizendo que vão tirar você de mim e... - ela soluçou mais uma vez e Spencer segurou seu rosto carinhosamente, fazendo-a olhar nos seus olhos.

- Charlie, eu estou aqui. Nada vai acontecer, ok?

Ela assentiu e mais lágrimas caíram em seu rosto. Spencer limpou-as, a abraçou novamente, e beijou o topo de sua cabeça.

- Vou te levar pra casa.

- Eu não quero ficar sozinha. - sua voz saiu como um fio e a dele falha.

- Você não vai.

Ela se soltou do abraço e limpou o rosto.

— Desculpe. – falou e ele maneou a cabeça, pegando sua mão.

— Não se desculpe.

— Por ter brigado com você e por ter chorado igual um bebê agora.

— Charlie, por favor. – mas ela se sentia horrível. Sentia-se como um fardo que ele carregava por obrigação. – Alguém consegue cobrir seu turno, não?

Ela assentiu e passou um de seus braços pelo corpo dele e começaram a andar na direção na saída do hospital, passando pelo quarto de Everett e os agentes. Spencer olhou para JJ e falou, sem emitir som, que levaria Charlie para casa, a agente assentiu, feliz por eles estarem melhor.

—--x---

Charlie estava em um corredor escuro e Spencer estava do lado aposto, sem conseguir se mexer. Ela correu e tinha a impressão que quanto mais se movimentava, mais distante ficava. Um homem sem rosto se aproximou de Spencer, e encarou Charlie com um sorriso malicioso no rosto, antes de apertar o gatilho da arma que segurava apontada para a cabeça dele. Ela finalmente conseguiu correr e segurou o corpo desacordado dele, antes de ouvir o som de uma arma próxima de sua cabeça.

— Spencer! – ela acordou, suando frio, um pouco perdida, mas com desespero tomando conta de seu corpo. - Spencer, por favor! - Tentou chamar seu nome novamente, mas nenhum som saia. Não conseguia respirar, não importava o quanto abrisse a boca ou o quanto tentasse puxar o ar, sentia que estava sendo esfaqueada mil vezes no estômago, a dor era muito forte. Estava tendo um ataque de pânico.

- Charlie?! - ele respondeu no momento em que a ouviu gritando, colocando o copo de água que tomava na pia, só querendo que ela soubesse que ele estava lá. Correu até o quarto e a encontrou sentada na cama, suando e frio e tentando puxar a respiração. Ele segurou o rosto dela, fazendo-a olhar em seus olhos. - Tá tudo bem, respira...! Charlie, sou eu, tá tudo bem.

- Spencer. - ela disse como se seu nome a fizesse melhor, e as lágrimas praticamente encharcavam seu rosto.

- Sou eu, Charlie. - ele disse calmamente, limpando suas lágrimas. Spencer sentou ao seu lado na cama e a envolveu em seus braços. Charlie apoiou o rosto em seu peito, ainda tentando controlar a respiração.

- Ele te matou na minha frente. - ela falou com a voz fraca, sentindo a dor indo embora. - E eu não conseguia te alcançar, mas eu tentei, eu juro que eu tentei...

- Estou aqui, Charlie. - ele passou a mão pelo tecido de seu pijama carinhosamente. - Eu estou com você.

- Mas você estava morto e eu acordei e você não estava aqui. - Spencer a abraçou mais forte, se sentindo mal por vê-la daquele jeito. - Por que você me...?

- Não, Charlie... - ele beijou o lado de sua cabeça. Só a ideia de deixá-la, fazia Spencer se sentir horrível. - Eu acordei para ir tomar água e quando eu te ouvi... Ei, tá tudo bem. Não vou deixar ninguém fazer mal pra você, por favor só saiba disso. Você vai ir pra Quântico, não vai? – ele a lembrou e Charlie assentiu, pensando na informação que não teve tempo de digerir. – Vamos estar mais próximos, ninguém vai fazer mal a nenhum de nós, ok? - ela soluçou de nervosismo, as imagens claras de Spencer jogado no chão voltando a sua mente e não conseguiu evitar mais lágrimas caírem.

— Eu não quero perder você. – sussurrou.

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Ele se afastou gentilmente e segurou seu rosto, fazendo-a olhar em seus olhos por um tempo, antes de juntar seus lábios em um beijo calmo.

- Você não vai. - ele sussurrou em resposta.