I've Got You Under My Skin
Cala a boca, Charles!
Quando eu era mais nova, adorava os filmes da Disney. Mais do que isso, era apaixonada por aquele mundo de magia. E sempre gostei muito da Cinderella, com seu sapatinho de cristal, seu vestido encantador e o baile.
Naquela noite, eu me sentia uma princesa.
O salão estava perfeitamente decorado. Música boa, gente bonita e bandejas voadoras. Me distraí, tentando identificar o cantor (Frank Sinatra ou Tony Bennett?), e não vi quando uma pessoa me agarrou do nada.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Ei, o que é isso?!
— Emm! Sou eu, Bella! – reconheci aqueles olhos azuis e retribuí o abraço.
— Senti tanto a sua falta! – dei um sorriso largo. – Como vai?
— Ah, tá tudo bem. O chalé ficou um pouco monótono sem você, mas...
— É claro que ficou, eu era a luz e a beleza daquele lugar!
— Sempre tão modesta... – ela riu. – E então, onde está aquele garoto? Qual é o nome dele mesmo?
— Charles. – era uma boa pergunta. – Não faço a menor ideia.
— Hm... – pegou uma taça de champanhe e bebeu. – Não olhe agora, mas aquele gostoso ali tá olhando pra você.
— Jura? Onde?
— Atrás daquela pilastra. – discretamente, dei um olhada. – Ah, eu já conheço.
— É mesmo? Uou, Emma! Você conhece todos os caras bonitos.
— É Hermes. – será que meu rosto ficou muito vermelho? – Vou lá falar com ele.
Fui andando em sua direção, e desastrada como sou, acabei me desequilibrando (culpa de Afrodite!) e quase caí no chão. Por sorte, um par de mãos conseguiu me segurar. Comecei a preparar minhas palavras de agradecimento, mas parei ao encarar aqueles olhos.
Ah não, que azar...
— Charles? – pigarreei, tentando tirar o choque de minha voz. – Não esperava te ver aqui.
— Eu já tinha desistido de vir, mas alguém me fez mudar de ideia. – será que a Deusa do amor o seduziu?
— Ah, sei. – de repente, me lembrei das coisas que ele havia me dito. Se eu sou rancorosa? Só um pouquinho... – Tá, muito obrigada pela ajuda. Agora, se me der licença...
— Na verdade... – abaixou o rosto, e vi suas bochechas ficarem rosadas. – Eu queria perguntar se você... Ahn... Hm...
— Desembucha! – isso não foi nem um pouco delicado de minha parte...
— Quer dançar comigo? – ele praticamente cuspiu as palavras. Deve ser uma coisa de filhos de Hefesto, tão tímido...
— Tem certeza? Na frente de todo mundo? – não que isso fosse um problema pra mim, é claro, mas ele não era do tipo exibicionista. – Se me lembro bem, você estava dando seus primeiros passos há algumas semanas atrás...
— Eu andei treinando. – só se for com a vassoura.
— Tudo bem. Eu danço com você.
No mesmo momento, uma outra música começou. Ah, eu adorava essa! Fomos juntos para o centro do salão. Imaginei que Charles iria ficar distante de mim, como da última vez. Porém, colocou as mãos na minha cintura e me puxou para perto. Conseguia sentir cada centímetro do seu corpo contra o meu. Entrelacei meus dedos aos seus.
E com habilidade e leveza, rodopiamos pelo mármore. Todos pararam para nos admirar. Nós estávamos perfeitamente sincronizados, e não erramos um passo sequer. Depois de alguns segundos, resolvi puxar assunto.
— Strangers In The Night é uma música legal, né? – comentei.
— Uma música de Natal clássica. Sempre toca Sinatra nessa época do ano.
— Sim, é verdade. – ele tinha dito a mesma coisa algumas semanas atrás, enquanto decorávamos nossa árvore. – Sabe, você está melhorando. Já consegue andar sem tropeçar nos próprios pés.
— Rá rá, engraçadinha. – fez uma careta. – Eu tive uma boa professora.
Diante daquele elogio, me calei completamente. Num lapso, lembrei das palavras de Afrodite. Charles gostava de mim. Será que tentaria alguma coisa esta noite? E, o mais importante, será que eu cederia?
Quando a melodia cessou, imaginei que ele iria me soltar. Mas não se moveu, e ficamos completamente parados. Como sempre, fui hipnotizada pelos seus olhos. Percebi vagamente que as pessoas ao nosso redor nos aplaudiam.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Vamos, quero te mostrar uma coisa. – apertou minha mão e me levou em direção à porta.
Dava para um jardim, cheio de luzes e fontes. Andamos um pouco, eu podia jurar que meu coração ia sair pela boca. Controle-se Emma! Onde está sua dignidade? Você prometeu para si mesma que nunca mais iria se apaixonar!
Minhas promessas eram iguais a resoluções de ano-novo; nunca se cumpriam...
— Ei, por que não tira esses sapatos? – deu um sorriso. – E seria bom pra você ficar um pouco mais baixa que eu. Isso já está me incomodando.
— Engraçadinho. – mas fiz o que sugeriu. Ah, era tão bom ficar de pés descalços! – Para onde estamos indo?
— Não sei. Mas eu sempre quis conhecer o Olimpo, então vamos dar uma volta.
Alguns minutos depois, parou de repente. Estranhei a atitude, mas preferi deixá-lo falar. Ele claramente tinha um problema sério com as palavras, e seria melhor não interrompê-lo.
— Eu queria te pedir desculpas. – abaixou o rosto de novo.
— Desculpas? Mas pelo quê?
— Eu não queria ter te chamado de oferecida. – sua voz foi abaixando até se tornar um murmúrio. – É que eu estava um pouco zangado.
— Zangado?
— É, acho que ciúmes descreveria melhor. – suspirou. – É que você é tão linda.
— Hm... Obrigada. – eu já sabia disso, mas gostei de ouvir mesmo assim.
— Eu tenho uma coisa pra te dar. – mexeu nos bolsos do paletó, e tirou uma corrente. – Acho que isso é seu.
— O colar de minha mãe. – será que a emoção estava implícita na minha voz? – Você consertou.
— Era o mínimo que eu podia fazer. Quer ajuda? – se ofereceu para colocar, e aceitei.
Fiquei de costas, e levantei meu cabelo. Dei um sorriso ao ver o pingente em forma de sol. Mas quando me virei novamente, tinha um brilho diferente nos seus olhos. Era como se tivesse tomado uma decisão repentina e decisiva.
— Obrigada pelo colar. Significa muito para mim. – ele apenas assentiu.
— Acho que vou me arrepender disso mais tarde.
Antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, Charles colou seus lábios aos meus. Não há palavras que possam descrever o tamanho da minha surpresa. Nunca imaginei que ele, com toda a sua timidez, seria capaz de um gesto tão... Instintivo. Mas, alguns segundos depois, se distanciou.
— Eu... Me desculpe... Foi sem querer... Eu não queria... – tropeçou nas palavras.
— Cala a boca, Charles!
E o beijei de volta, com o desejo correndo pelas veias.
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