Capítulo Um: Beco sem saída

O cenário era um borrão negro, paredes, estalactites e estalagmites por todos os lados. Nada se podia ver, era breu, somente um breu em cobalto e piche. As pernas protestavam, o chão tremia e o teto ameaçava desabar sobre suas cabeças.

Corra, corra, continue correndo!

Desviando das protuberâncias pontiagudas no solo, esquivando-se daquelas ao alto para que não lhes atingisse a cabeça. Era uma questão de agilidade, uma questão de reflexos.

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Mais rápido! Mais rápido, ou seremos soterrados!

A garota dava a guia, sua voz mesmo que aos berros se tornando inaudível com os crescentes sons do impacto das pedras contra o solo da caverna. O albino não a podia ver com clareza e agora sequer a ouvia, dispunha de instinto e pensamento somente para orientá-lo.

Desvie das pedras, use qualquer recurso! Temos de sair agora!

Uma armadilha, sim. Aquele tipo de emboscada que se vê quando se é surpreendido por uma carta na manga a qual você pensou que o inimigo não tinha. Foram atraídos, encurralados e, naquele momento, estavam prestes a ser exterminados.

Em sua mente o albino se repreendia, as pragas sendo proferidas pela boca insolente também não seriam ouvidas em meio a tal balbúrdia, mas ainda assim ele não hesitava em dizê-las. Nas veias corria a mais pura adrenalina, os nervos clamando que se afastasse do perigo iminente à todo custo.

Ah, mas se fosse tão fácil...

O vulto da garota ficava cada vez menos inteligível, a carência de luz e os inúmeros pedregulhos em queda ao seu redor sendo os principais fatores da dificuldade. Ele gritaria por ela, porém o som se perderia com facilidade em meio ao enorme alarido. Tentativas vãs de se fazer algum contato.

É fundo demais, não tem como sair! Vamos ser esmagados!

A garganta ardia, as pernas queimavam e os pulmões pareciam prestes a explodir, porém ele não parou. Não podia parar. Não é como se fosse aceitar a morte assim, simplesmente. Lutar pela vida... É o que caras maneiros fazem.

O céu poderia estar desabando e o chão se partindo em pedaços, mas isso não o deteria.

Até porque tinha uma garota correndo pela vida há apenas alguns metros de distância. Tinha uma garota que ele jurou proteger bem diante de si.

Não pararia. O fôlego teria de esperar. Sem desacelerar, sem descansar. Não enquanto ele não tivesse certeza que ela estava segura e bem. Homens de verdade não quebram suas promessas afinal.

Saltava sob as pedras e fendas que se multiplicavam sob seus pés com agilidade, as ansiedade que sentia parecendo se amplificar mais a cada segundo.

Sem luz, sem saída. Onde foi que nós entramos?!

Sem esperança, era isso o que realmente pensava, mesmo tentando forçar sentimentos positivos dentro de si, de algum modo sabia que estava diante de uma causa perdida. Sabia, e ainda assim... Lutava.

Maka. Maka... Preciso alcançá-la antes que...

-Soul! -o chamado, agora nítido, soou perto do rapaz, que subitamente acelerou o passo para alcançá-la.

A garota estava cansada, isso era mais do que óbvio. Mesmo de costas ele podia ver seus ombros se moverem em fôlegos exauridos, os movimentos se tornando cada vez mais curtos e afetados.

Mas está viva. Está ali. Ao alcance de um olhar.

Esperança. A tão ingênua esperança brotava inconsequente no peito do realista. Ela era daquele jeito, a única capaz de semear tal sentimento leviano no peito de alguém que preferia encarar a realidade crua a viver de delírios tão convidativos.

Ela lhe fazia imergir em sonhos que o mesmo nem desconfiava da existência, fazia-lhe mergulhar em anseios mundanos, em utópicas fantasias.

Ilusões.

Ele logo acordaria daquele irrealizável absurdo. Ele sempre o fazia.

O albino naquele dia voltou a realidade quando a garota tropeçou em escombros, indo ao chão com força e rolando para amortecer o impacto.

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Chamou seu nome, gritou-o alto. O teto de despedaçando sobre o corpo trêmulo da parceira, a adrenalina, a cega necessidade de protegê-la.

E ele correu, caindo de joelhos ao lado da menina e a puxando pelo braço.

Levante-se, levante-se! Você tem que levantar!

Uma larga faixa carmesim deslizava por rosto lívido, os olhos esmeraldeados estreitos forçavam-na a se manter consciente.

Ei, levante-se... Não podemos parar aqui...

-Soul... -balbuciou a artesã com o olhar fervoroso- Me desculpe.

Foi quando o rapaz sentiu-se ser arremessado para baixo por um chute nas costelas. Assustado ele caiu em uma fenda no chão, rolando para dentro da depressão irregular sem conseguir se agarrar a nada.

Ao parar ele berrou pela garota, as roupas repletas de rasgos e manchas de sangue.

A última coisa que se lembra antes de perder a consciência foi que tudo desmorou acima de si e aquele mundo escuro foi engolido por um silêncio sepulcral. Foi quando um líquido quente pingou em seu rosto e ele soube, de alguma maneira, que era o sangue de sua artesã.