A escuridão cintilante

A escuridão cintilante


Percorro com os meus olhos amaldiçoados o espaço em que me encontro, que belo e delicado que este salão é. Passo a passo sinto-o com nostalgia e sofrimento através da minha mente decadente e poluída que busca incessantemente salvação. Nunca pensei regressar a este santuário que me viu esperançado e luzidio nascer, nunca pensei. Este misericordioso lugar onde as trevas nunca deviam entrar, onde a maldade não devia reinar, onde o ódio não devia brilhar, onde a ambição não devia florir. Paredes, escadarias, chão, homens e mulheres repletos de luz, esperança, amor e humanismo, homens e mulheres com uma coragem e bondade nunca antes vistas, verdadeiras dádivas do destino.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

A vidraça brilhante do meu espírito arrependido reflete escurecida através da minha juventude. Vislumbro com clara nitidez o meu coração enegrecido e sujo pela ambição e maldade, lançar um perigoso feitiço demoníaco ao puro e divino coração do meu irmão gémeo Saga. Este homem marchava decidido através dos coloridos caminhos da bondade e da justiça, rivalizando com os próprios Deuses, o meu irmão. No entanto o abismo cruel, negro e sujo da minha alma engoliu toda aquela luz dourada. Aticei, pleno e consciente dos meus pensamentos e atitudes, o demónio do mal contra aquele anjo luminoso e justo. Nunca encontrarei perdão por ter libertado a escuridão que estava trancada na prisão de luz do espírito do meu irmão, por mais passagens espinhosas que percorra nunca me irei perdoar, nunca aceitarei qualquer perdão.

Depois desse monstruoso e atroz atentado, fui trancado na antiga prisão situada no Cabo Sunion. Aí, tornei-me prisioneiro do meu próprio coração, da minha revoltada alma, do meu ódio, raiva e sofrimento. Afoguei-me em caos, lágrimas e saudades. Vaguei pelos sombrios e sinuosos caminhos da imperfeita e fraca morte, porém sempre lhe fugi. Não graças as minhas inexistentes forças, é claro, agradeço profundamente à luz quente e amorosa que sempre flutuava até mim, voando comigo nas asas brancas da vida.

Todavia, a aprendizagem dos meus erros de nada me serviu, de nada. Um novo cenário invade dolorosamente a minha mente cansada, ainda mais negro e deprimente. O vasto e profundo oceano acolheu-me nos seus carinhosos braços como se fosse seu filho, mostrando-me as suas entranhas misteriosas e reveladoras. Libertei, desafiei, manipulei o grande Deus dos Mares. Afundei-me no mais puro ódio, na mais impura ambição, queria vingar-me de Saga, queria mostrar-lhe que sozinho reinaria sobre o Mar e sobre a Terra. Contudo, aquela luz quente e amorosa cruzou de novo o meu caminho libertando a luz há muito encerrada nas profundezas obscuras do meu ser.

Retorno ao presente, imerso em surpresas, julgamentos e reencontros, não sei o que o futuro ainda me reserva, porém quero redimir-me com o passado, já é um ponto de partida para quem se encontra perdido num turbilhão de sentimentos, emoções, lembranças e lágrimas.

Tacteio cautelosamente o silêncio, a sua superfície polida, fria e protetora acaricia os meus dedos. Num raio de surpresa um ressoar dourado envolve o ar. Como é que esta lendária armadura responde ao meu chamado? Talvez ela leia que no meu coração apenas três palavras estão gravadas, salvação, reencontro e perdão. Ou talvez a bondade e a justiça irrefutáveis de Saga ainda nela habitem. Obrigado.

Um cosmo divino, poderoso e desesperado, penetra determinado na casa de Gémeos. Nunca pensei ser eu a defender a casa cuja constelação amaldiçoou o nosso destino, meu irmão, todavia protegerei como tu protegerias. Saga! Enfrenta agora a ilusão real que preenche o nosso futuro.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.