Epifania

Capítulo 09 — Perigo bêbado da calça escrava.


Ainda em 30 de Março.

— Acho melhor parar, Miles, está ficando perigoso.

Ele ergueu um dedo e o mexeu no ar antes de balbuciar.

— Sh, sh, eu conheço todas as toxinas químicas do-do do troço lá! Posso garantir que esses bolos estão seguros! — começou a rir — Bladly, outro, outro!

— O nome dele é Brad, Peter. — puxei o prato da frente dele. — E esse é seu sexto pedaço de bolo e seu quarto copo de margarita, isso não é suco, ok? Você é fraco pro álcool e está bêbado. Venha, vou te levar para casa.

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Quando eu insinuei me levantar para puxá-lo e o levar para o carro, Ally pulou em mim e me abraçou.

— Alex, você preocisa, prencisa? — Pensou um instante. — Precisa! Você precisa viver!

— Precisa viver! — Miles repetiu, mastigando o último pedaço da sexta fatia de bolo de rum e bebendo um grande gole de margarita. — E essa tal de margarita é azul! Uma bebida azul! Como negar apesar do gosto incrivelmente ruim?

Suspirei, cansado. Esfreguei o rosto, dei um empurrão em Ally e me sentei de novo, emburrado. Eram quase onze horas e eu preferia estar em casa, vendo A Hora de Aventura com um Miles sóbrio.

Continuei bebendo minha garrafa de cerveja sem a mínima vontade por um tempo, enquanto Peter devorava o que deveria ser a última fatia do bolo. Ou seja, Miles acabara de comer um bolo inteiro. Um bolo inteiro!

— Bem, vou indo. — Nick se levantou com a carteira na mão, indo pagar a conta. — Foi uma noite boa, mas acho melhor parar Ally antes que ela engula a cabeça daquele cara. — olhei para onde ele apontava e vi Allison no colo de um cara loiro o beijando. Revirei os olhos, lembrando que sempre era assim. — Bem, até amanhã, Alex.

Sorriu e beijou minha bochecha antes de sair, cumprimentando Peter com um acenar de cabeça.

Fiquei olhando ele sair e terminei a garrafa, virando para Miles, que me fitava com a boca cheia de bolo. Ele parecia sério, mesmo bêbado, e se inclinou na minha direção, deixando o bolo de lado por um instante.

— O que foi isso?

— Isso o quê?

Cutucou minha bochecha com os dedos pesados da embriaguez.

— Esse beijo nada hétero. — arrastou a cadeira para perto, ainda cutucando minha bochecha. — Não sabia que você tinha relacionamentos com amiguinhos.

Respirei fundo, olhando com cara de poucos amigos para o rosto corado dele.

— Não sabia que você era mais idiota quando bêbado. — bati na mão que cutucava minha bochecha e peguei o casaco. — Da próxima vez que quiser bebida azul, me diga que eu compro corante alimentício e ponho na sua água. Você é fraco demais para beber.

...

— Você consegue andar, pare de ser mole!

Peter não parecia gordo, mas tinha toda a gordura concentrada no peso nada humano. Estávamos subindo as escadas quando ele decidiu que queria ser carregado e se jogou contra o meu corpo, enroscando meu pescoço em busca de apoio.

Carregá-lo por três lances havia sido um dos maiores desafios de minha vida, além de que o gesso duro e gelado estava machucando minha nuca. O outro desafio seria conseguir meter a chave na fechadura e apoiar o bêbado ao mesmo tempo.

— Conseguir acho que consigo, mas ser carregado é tão bom!

Finalmente a porta se abriu e eu a lancei para longe com o pé, arrastando o gordo pelos braços para dentro do apartamento. Fechei a porta e continuei meu trajeto, arrastando-o pelo corredor como alguém arrasta um corpo abatido, pelos pés. Ele parecia feliz com isso, como que brincando em um parque.

Peter sorria debilmente quando eu abri a porta do seu quarto e o lancei na cama. Ele gargalhou ao balançar com o impacto das molas e apoiou-se nos cotovelos para me ver, enquanto eu desamarrava seus sapatos.

— Deveríamos fazer isso mais vezes. — riu torto.

— Eu deveria jogá-lo no armário de vassouras para aprender uma lição.

Continuei o processo de desamarrar os sapatos e os lancei para trás quando consegui tirá-los. Depois disso fui caçar alguma calça moletom para ele, mas era realmente difícil achar roupas em meio ao mar de tecido que envolvia o chão como um tapete. Pelos sete infernos! Eu havia arrumado aquilo no dia anterior!

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— Por que você tem que sempre espalhar as roupas pelo chão, idiota?

— O chão é frio demais pela manhã. — sentou-se na cama e coçou a cabeça. — Se está procurando minha calça de dormir, ela está atrás do transmissor ESV.

Transmissor ESV é uma máquina caindo aos pedaços que ele achou na rua e trouxe para casa. É inútil, e a sigla ESV foi dada por ele mesmo, que significa Eu Sou Velho. Transmissor Eu Sou Velho.

Miles é muito criativo, não?

Peguei a calça e joguei na cabeça dele, vendo-o cair na cama deitado de novo.

— Ei, não, vista em mim!

— Ah, você só pode estar brincando! — Passei a mão no rosto. — Nem está tão bêbado assim!

— Pare de reclamar, você é meu companheiro de apartamento!

Lembrei-me do diálogo que tive com ele no dia em que o conheci. Ele achava que companheiro de apartamento era o mesmo que ser empregado. Achava um absurdo ele ainda pensar assim, mas Peter bêbado era irritante e tudo o que eu desejava era cair na cama e dormir sem pensar nas consequências que seria um Peter de ressaca.

Minha vida era tão complicada.

— Me dá logo isso! — resmunguei, puxando a calça de suas mãos e tratando de desabotoar o jeans que ele vestia. — Você só me dá prejuízo, Peter. Sabia que eu tive que pagar a maldita conta dos seus malditos pedaços de bolo e dos seus malditos copos de margarita? — ele sorriu e apoiou-se nos cotovelos de novo para me observar. — Você me deixou exposto à uma bactéria contagiosa, me fez ir até um restaurante mexicano, mentir para a gerente e trazer para casa malditos peixes — por falar neles, será que ainda estão vivos? — e ainda me fez pagar a conta!?

Lancei a calça longe, junto às outras roupas que forravam o chão e continuei a resmungar enquanto vestia a calça moletom azul nele.

— Alex.

— O que é!?

— Por que você é loiro?

— De novo isso? — Suspirei, sentando na cama ao lado dele — Genética, Miles, genética!

— Você parece irritado — comentou.

— Você parece normal.

— Eu sou normal.

— Você é normal bêbado, e isso me assusta. Normalidade e você não combinam. — ele sorriu de lado, sentando-se ao meu lado. — Quero que volte logo à sua anormalidade sóbria.

Ele respirou fundo e se jogou pro lado, caindo com o rosto no meu ombro e se apoiando ali. Acho que seus olhos se fecharam, mas não dormia, já que no instante seguinte ele apertava minha mão e a acariciava com o polegar.

— Vamos dormir, Alex, você está muito bêbado. — murmurou, passando um braço no meu pescoço

— Haha, você...

E antes de terminar a frase, Miles já havia me puxado para a cama e enroscado sua perna na minha. Ele me prendeu em um tipo de abraço e apoiou o queixo na minha cabeça, enquanto o braço engessado estava no travesseiro acima de mim, e a mão desse braço meio que acariciava meus cabelos. Me senti um bichinho de pelúcia.

— O que- O que você está fazendo?

Meu coração começou a titubear no peito com uma velocidade que eu não achei ser humanamente possível. Acho que meus pelos se arrepiaram porque a ação foi muito repentina e... inesperada. Sim, inesperada é uma boa palavra.

— Sh.

— Peter, você...

— Apenas cale a boca e durma, é tão difícil?

Era. No entanto me calei, fechei os olhos. E não dormi.