A Guerra das Sombras

O poder do amor e uma luta injusta


Me levanto com um cheirinho de lasanha que só minha mãe sabe fazer. Rebecca já está á mesa, junto com mamãe e papai.

Levanto ainda sonolenta e sento sem jeito na cadeira.

– A princesa levantou – diz Rebecca com a boca cheia.

– Becca! – repreende nossa mãe – Olha os modos, não criei um ogro.

– Desculpe. – minha irmã engole outro pedaço.

– Não vai comer nada, docinho? – meu pai me dá um prato.

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– Não, estou sem fome. Obrigada.

Observo eles comerem em nossa nova mesa. Em nossa nova casa. Em nossa nova vida.

Já é 13:30 da tarde. Nossos pais nos levam de novo ao campo de treinamento dos caçadores. Hoje poucos usam preto, fazendo parecer um lugar mais... Normal, por assim dizer.

Paramos de frente para uma fila de jovens com no máximo 17 anos. Todos param com os alongamentos e nos olham. Acho que sei o que vai acontecer.

– Essas são Giulietta - ele segura minha cabeça – e Rebecca – e logo a de minha irmã.

Uma menina que se alongava me parecia familiar e arregalou os olhos castanhos para nós.

– Vocês?

– Amanda? – dizemos em uníssono.

– Bem, parece que já são amigas – diz nossa mãe. – Eu vou para o estudo teórico dar aula e o pai de vocês vai para a luta. Qualquer coisa nos procure.

E nós vamos correndo até Amanda. Alguém diz que o professor vai demorar então todos se sentam no chão em grupos.

– Eu não esperava ver vocês aqui. Ou sim, já que o pai de vocês... bem, vocês sabem.

– Caçadores e tal. Sim, nós descobrimos recentemente. – digo.

Amanda parece saber um pouco mais do que a gente.

– Pode contar – diz Rebecca. Amanda alivia os músculos da face e cruza as pernas.

– Bem, os pais de vocês são, em parte... Vampiros completos.

Um grande como assim? ficou estampado na minha cara.

– Mas eles não são sombras. Como assim vampiros? – Rebecca ia dizer a mesma coisa, aparentemente, pois fechou a boca e olhou para Amanda.

– Tipo, eles foram transformados quando eram jovens, mas algo... Impediu que eles desintegrassem. Algo mais forte. O amor verdadeiro que eles têm um pelo outro superou o medo, que é o inimigo mortal de um Caçador. Eles são a prova viva de que o amor realmente existe no nosso mundo louco. – chegou mais perto e sussurrou: - vocês, sim, nasceram frutos de um grande amor. – ela volta para o lugar – Diferente de muitos de nós. É difícil achar o amor verdadeiro entre os Caçadores. Tipo, não é impossível namorar ou fazer verdadeiras amizades, mas como o de seus pais... – ouvimos com cuidado tudo que nossa amiga diz – Enfim, é isso.

– Uou – diz Rebecca.

– Uou mesmo – digo.

Um garoto surge ao lado de Amanda, que se assusta. Ele fala algo em seu ouvido, e Amanda sussurra algo no seu também. Ele me observa. Olhos pequenos e puxados, com uma íris tão escura quanto uma obsidiana. O cabelo longo bate nos ombros em um castanho um pouco claro. Ele é um moreno quase indiano; bronze.

O garoto passa a olhar Rebecca. Amanda continua a falar, com a mão tapando a boca para ninguém ver o que está dizendo. Ele sorri para Rebecca, que, por sua vez, parece simpática ao ponto de retribuir o gesto. Ele sai correndo para o outro lado - não antes de piscar para nós -, e ficamos ali, olhando para Amanda.

– Ah, desculpe- ela ri – Aquele é Jade, meu amigo. Estava contando de vocês.

– Espero que tenham sido coisas boas. – diz Rebecca, sorrindo.

– Claro que foram. Que pergunta. - diz a garota, sorrindo.

E ficamos sentadas ali, na grama, até o nosso professor chegar. E quando ele chega, eu já me sinto cansada.

***

Em pleno final de tarde e eu não sentia mais minhas pernas e braços. O que fazemos – e pelo o que Amanda me contou – é assim todos os dias: vamos treinar e lutar, aprender á usar todas as armas que poderão estar á nosso favor. Sou fraca, magra e sem jeito. Apanhei de uma garota na “luta”. Eu achei covardia, porque eu nem sei como se lutar. O instrutor disse:

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– Você é uma Caçadora, sabe o que fazer.

Eu quase chorei de raiva. Sabia que ia apanhar feio. Sou despreparada, e tenho medo de pegar em uma simples arma. “Você é uma Caçadora, sabe o que fazer", disse ele. “Não! Eu não sei!". O grito ficou preso no meio do caminho. Tinha vontade de fugir, novamente acordar na minha cama e ter a vida chata que eu tinha antes. Nunca pedi nada; só queria voltar no tempo.

A garota com que lutei era mais alta, porém com mais corpo. Cabelos curtos em estilo Chanel e loiros estavam molhados devido ao suor. Estava de top preto e uma legging de mesma cor, descalça. Imitei sua pose, tentando demonstrar uma coragem falsa que nunca me pertenceu. Não sou corajosa.

Quando ouço o apito, a garota parte para cima sem dó. Sinto meu maxilar com uma dor imensa, que logo passa, já que não consigo mais sentir. Tento socá- la em vão, já que ela chuta minha barriga e caio no chão, sentido um impacto nas minhas costas três vezes. Isso não é luta.

O treinador apita, e a garota - que antes havia me batido - me ajuda a levantar e diz:

– Desculpe. Achei que fosse se defender.

E ela parecia sincera. Olho para o treinador e ele apenas diz:

– Pode ir para o vestiário. Logo você será tão boa quanto os Caçadores de níveis superiores.

Minha raiva por ele passou. Não parecia mentir. E queria que isso realmente acontecesse.

E foi nesse momento em que eu me dei conta: Ou eu me esforço o máximo para ser uma ótima Caçadora, dar orgulho aos meus pais; ou eu simplesmente abria mão de tudo. É tudo ou nada. E eu não vou me contentar com o nada.

Segui pelo caminho por trás da pequena arena em que estávamos. Entro no vestiário e me deparo com um local feito de madeira escura, com piso de cerâmica branco apenas na parte dos chuveiros. Cada box fechado e escuro tinha uma toalha seca e um banco para as mochilas. Aquele lugar cheirava á suor, porém algum aroma de flor havia restado naquele ambiente.

Entro e tomo um breve banho; mal consigo me lavar na água gelada. Saio enrolada na toalha e me deparo com Amanda e Rebecca, que estavam sentadas nos banquinhos, conversando. Elas se levantam ao me ver, com preocupação nos olhos, principalmente Rebecca.

– Oi – digo, com o som quase abafado.

– Você está péssima – diz Rebecca.

– Eu me sinto péssima.

–Imagino. – diz ela - Pedi para ver você, e Amanda veio também. Não gostei de você lutar, aliás, achei injusto. Mas ele mesmo disse que você se tornará uma ótima Caçadora. E eu coloco fé nisso.

Abraço Rebecca, mesmo que sinta dor nas costas. Mas que se dane. Amanda nos abraça também e as deixo molhadas.

– Se eu fugir, vocês serão as primeiras á saber. – digo. - E eu acho difícil isso acontecer, mas vocês serão as primeiras.

– Você não vai. – diz Amanda, se afastando – A gente não vai deixar. E outra, eu também pensei em fugir. Abandonar minha mãe e meu irmão desse mundo louco; mas eu não fui. Vou me tornar uma grande Caçadora.

– Com certeza - digo.

– Espera - diz Rebecca - Que irmão?

– Marco. Talvez eu o apresente um dia para vocês, quando ele aparecer.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.