Fallen

Resgatando um alce


— Vamos chamar o Cas — anunciou Dean, jogando o revólver sob a mesa e tirando o celular do bolso.

— Tudo bem — assenti.

Dean discou rapidamente o número de Castiel e aparentemente, o anjo atendeu em pouco tempo. Os dois trocaram algumas palavras e em questão de segundos, Cas apareceu na sala um pouco preocupado. Dean havia contado a ele sobre o sumiço de Sam.

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— Temos que achar uma maneira de encontrá-lo. Algum de vocês tem alguma pista? — ele olhou para mim e para Dean.

Eu abaixei um olhar, constrangida por estar omitindo o sonho que tive com Samuel. Na verdade, eu não deveria ter feito isso, já que Castiel e Dean passaram a me encarar de forma desconfiada. Deus, como eu sou burra.

— Beth…

— Eu não sei de nada — gaguejei, denunciando a minha mentira.

— Você sabe — Dean semicerrou os olhos. — Do que você sabe?

Eu temi contar a eles. Eles podiam, sei lá, me expulsar de lá no mesmo instante. Sim, eu queria dizer a verdade a eles, mas do jeito nervosinho que Dean era, ele poderia me lançar em uma fogueira como se eu fosse um pedaço de frango.

— Me desculpa, eu… Deveria ter dito antes — pedi com a voz fraca. — Eu sonhei que um demônio matava o Sam. E era exatamente o demônio que o levou.

— Pois bem, acho que estou no total de direito de perguntar-lhe porque diabos não nos contou antes — Dean cruzou os braços.

Mordi o lábio pensando em uma desculpa plausível.

— Eu achei que fosse só um pesadelo, eu juro! — insisti.

Castiel e Dean se entreolharam por um tempo. Droga, aquilo era algum tipo de tribunal? Porque se fosse, eu já teria sido condenada como a culpada da história, afinal, quem teve o sonho foi eu. Eu deveria ter dito antes.

— Tudo bem então — disse Dean após um suspiro, levando as mãos aos seus cabelos e acariciando-os de leve, como se estivesse pensando em uma alternativa para a situação. — Cas. O que vamos fazer agora?

Castiel também cruzou os braços e passou a olhar para o nada. Eu fiquei encarando os dois para ver se eles encontravam alguma maneira de desfazer a minha burrice e salvar Sam do demônio idiota de uma vez por todas.

— Em que lugar se passava o seu sonho, Elizabeth?

— Aparentemente, em um museu — respondi, roendo as unhas.

— Eu já sei — Cas balançou o indicador. — Dean, pegue o seu aparelho.

Eu encarei Castiel e Dean fez o mesmo.

— Eu não sei o nome daquela coisa — informou seriamente.

Tive que me segurar para não rir. Castiel estava falando de um laptop, provavelmente. Dean também entendeu a referência e pegou o computador de Sam em uma mochila. Ele pôs o eletrônico sobre a mesa e abriu o mesmo. Esperamos que ele ligasse e assim que o fez, Dean entrou na página do Google.

— O que quer que eu pesquise? — perguntou, erguendo as sobrancelhas.

— Pesquisa por tragédias recentes em museus — disse Castiel. Em seguida, o anjo voltou seu olhar para mim. — O demônio quer nos confundir e levou Sam para uma cidade onde já há um caso. Assim, podemos resolver o caso e salvar Sam.

— Faz sentido — sorri, dando de ombros.

Dean pesquisou o que Cas mencionou e não demorou muito para que ele achasse algo semelhante ao que Castiel queria dizer. A notícia era sobre mortes extremamente bizarras dentro de um museu grego.

— Holdrege, Nebraska. Um homem foi encontrado morto no meio do museu pela manhã e o causador da morte foi, aparentemente, o veneno de uma cobra raríssima — anunciou Dean.

— Por acaso há uma escultura da Medusa nesse museu? — indagou Castiel.

Dean entrou no website do museu e lá havia uma lista de atrações do museu. Dentre elas estava a escultura da medusa e não podemos deixar de lado as enormes cobras que envolviam e faziam parte da escultura.

— Então… Essas esculturas tomam vida à noite? — franzi o cenho.

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— Acho que não — impôs Castiel, coçando a nuca. — É melhor nós irmos até lá e investigarmos.

— Nós? — Dean fechou o laptop. — Não vai sumir desta vez? Não vai, sei lá, desaparecer e resolver seus problemas angelicais?

— Não — declarou calmamente o anjo. — Não desta vez.

Dean deu de ombros e anunciou que partiríamos naquele exato momento. Sam não poderia esperar muito, meu sonho se passava à noite e poderia ser na noite seguinte. Eu não gostava da ideia de viajar naquele exato momento, já que eram onze horas da noite, porém, era o pescoço de Sam que estava em risco. A viagem do Kansas até Nebraska, segundo Dean, duraria em média quatro horas, portanto, tratei de tomar um bom banho e arrumar meus pertences para levar na bagagem. Castiel ficou apenas esperando, talvez pelo motivo de ele ser um anjo e não ter necessidades humanas. Dean fez o mesmo que eu e logo já estávamos na estrada em direção à Nebraska.

Como sempre, Dean estava escutando rock, mas como ele permitiu que eu me sentasse no banco da frente, eu decidi interferir.

— Posso escolher uma canção? — toquei o rádio com a ponta dos dedos.

Dean revirou os olhos e bufou.

— Só desta vez.

Naveguei nas estações de rádio disponíveis enquanto escutava o barulho da chuva fina que caía e que parecia mais uma porção de lágrimas do que chuva. Não havia nada de tempestade, apenas uma simples garoa que refrescava o Impala 67 e deixava a atmosfera um tanto quanto nostálgica.

Deixei em uma estação e Dean pareceu reconhecer a música.

Fall Out Boy, My Songs Know What You Did In The Dark. Boa escolha. Já conhecia?

Balancei a cabeça em negação enquanto batucava com os dedos na porta do carro.

— E eu que pensei que você ia acabar colocando Taylor Swift ou algo do tipo…

Eu apenas o ignorei e continuei a escutar a melodia da música. O caçador e o anjo presentes naquele carro junto a mim calaram-se pelo resto da viagem e permanecemos todos em harmonia com as músicas que tocavam no rádio. Quatro horas nunca haviam passado tão rápido.

Chegamos em Nebraska um pouco antes das quatro horas da manhã. Decidimos ficar em um hotel de beira de estrada como de costume e eu acabei por ficar a noite inteira pensando na parcela de culpa que eu tinha naquela situação. Sam havia sido raptado por minha causa e se eu tivesse o avisado, nada disso haveria acontecido.

— O que faz acordada? — perguntou coçando os olhos e em seguida checando seu relógio. — São oito horas da manhã.

— Não consegui dormir — respondi de prontidão. — Quer saber de uma coisa? Eu preciso de um café e é urgente.

— Ok… Vamos para uma cafeteria e lá você pode tomar o seu maldito café, tudo bem?

Para a minha surpresa, Castiel saiu do banheiro já vestido formalmente. Eu mal notei ele indo para lá. O anjo havia livrado-se de seu sobretudo e agora vestia um terno, pronto para investigar. Ele ajustou o paletó e pareceu estar desconfortável naquelas roupas.

— Desculpe, eu não tenho muita experiência com essa… Coisa — disse desajeitadamente, referindo-se à roupa que vestia.

Dean sorriu travesso e em seguida olhou para mim.

— Eu vou trocar de roupa… Primeiro, iremos ao café e depois, direto para o necrotério, tudo bem? Juízo.

Eu suspirei e assenti, levantando da cama. Soltei os cabelos que antes estavam presos e enquanto Dean caminhava até o banheiro, andei até a penteadeira onde minha mochila estava e dentro dela, apanhei uma escova.

Levei a escova aos fios ruivos e penteei os mesmos, olhando meu reflexo no espelho da penteadeira. Notei a presença de olheiras debaixo dos meus olhos. Só depois que percebi que Castiel estava bem atrás de mim e também encarava meu reflexo no espelho. Parei de pentear e sorri ao notar que a gravata dele estava um pouco torta.

Larguei a escova na penteadeira e virei-me para ajudá-lo. Me aproximei cuidadosamente e posicionei as mãos na gravata, alinhando a mesma para que não ficasse torta daquele jeito. Castiel me olhava como se aquilo fosse a coisa mais estranha do mundo.

— É, anjo do senhor… Você definitivamente não sabe usar uma gravata.

Castiel me fitou confuso e eu me afastei quando ouvi o som da porta do banheiro se abrindo. Peguei minhas roupas sociais na mochila e sem dizer mais nenhuma palavra, corri até o banheiro e tomei um banho rápido. Após vestir-me e deixar-me mais apresentável, eu, Dean e Castiel pegamos o Impala e fomos direto ao café.

Chegando lá, entramos no estabelecimento e sentamos em uma mesa qualquer. Eu pedi o café que eu tanto esperava e o mesmo não demorou muito para chegar. Em pouco tempo, lá estava eu, levando a xícara de porcelana aos lábios enquanto Dean pesquisava alguma coisa no laptop. Castiel continuava olhando para o nada.

— Alguma nova informação? — questionei após bebericar um pouco do líquido amargo.

— Mais mortes… Um homem foi encontrado morto e sangrando no museu há cinco anos atrás. Partes de uma flecha foram encontradas em seu baço — Dean ergueu ambas as sobrancelhas e fechou o laptop com cuidado.

— Ártemis — afirmou Castiel, balançando a cabeça.

Bingo. Ele foi encontrado bem em frente a uma estátua dessa moçoila — zombou Dean.

Pus a xícara sobre a mesa e cruzei os braços, encarando Dean e Castiel no aguardo por uma resposta.

— Então, o que acham que é?

— Restos mortais? Objetos pessoais? — sugeriu Dean, fazendo um bico.

— Eu não tenho certeza se eles tem posse de objetos de deuses gregos que existiram em uma época distante — alertou ironicamente, esboçando uma falsa expressão de confusão.

Dean revirou os olhos e então suspirou.

— Vamos para o necrotério. Lá, poderemos saber mais sobre o que aconteceu — anunciou, levantando-se da cadeira.

Dei de ombros e fiz o mesmo. Levantamos, pagamos o café e deixamos o local, indo direto para a delegacia.

****

— Senhores Blackwell, McNamara e… Senhorita Blanchard — disse o recepcionista, ajustando os óculos e forçando a visão para visualizar de maneira mais ampla nossos distintivos falsos. — São do CDC, certo?

— Exatamente. Viemos investigar o caso de Luther Garemond — anunciou Dean.

— O cara que morreu em um museu de esculturas gregas devido ao veneno de uma cobra raríssima? Se querem saber, acho isso muito estranho — riu amargamente, levantando-se da cadeira na recepção e ordenando para que nós o seguíssemos. — Enfim, se souberem de algo uma coisa, ficarei feliz em saber, afinal, tudo isso é muito curioso…

O recepcionista abriu a porta da sala onde os cadáveres ficaram e caminhou até uma gaveta especifica. Ele a puxou e lá estava o corpo do tal de Luther. Tentei manter-me calma e impedir com que minha expressão calma se tornasse uma expressão de horror, afinal, eu deveria parecer uma cientista muito inteligente do CDC.

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— Eu pensei que ligariam de Atlanta para avisar a vossa vinda — estranhou o homem.

— Desculpe por isso — pedi.

O recepcionista deu de ombros e sumiu da sala, deixando-nos sozinhos. Voltei a olhar para o corpo nu e pálido de Luther Garemond, que era coberto apenas por finos lençóis brancos. Os lábios estavam feito pedra e ele parecia mesmo ter sido vítima de um veneno letal de cobra. Seu corpo estava duro e parecia estar petrificado. Isso fazia sentido.

Eu pulei de susto quando eu ouvi o som da porta da sala sendo aberta. Ali estava o recepcionista nerd, pronto para dar-nos uma nova informação.

— Desculpe interromper vocês, mas… Será que permitem que eu esclareça uma coisa?

Assenti de prontidão e ele posicionou os óculos na ponta do nariz mais uma vez.

— Cinco anos atrás algo semelhante aconteceu. Naquele museu, um homem foi achado morto com pedaços de uma flecha antiga e medieval cravados em seu baço. Isso tudo foi porque um bando de adolescentes idiotas inventou uma história dizendo que as esculturas eram assombradas e que matavam pessoas no museu quando a noite caía. Depois que o homem foi morto, todos da cidade decidiram esquecer essa lenda idiota para amenizar a dor da perda. Entretanto, recentemente, alguém repostou a lenda em um site e todos começaram a acreditar novamente nessa história. Foi aí que Luther morreu. Inclusive, o melhor amigo dele disse que Luther, antes de sair para ir ao museu de noite, citou que não acreditava naquilo e que a Medusa poderia pegá-lo se quisesse. Eu acho que não é uma doença, e sim, um acontecimento sobrenatural. Creio eu que as esculturas estão tomando vida e, para falar a verdade… Isso é sensacional! — recitou. No fim, sorriu histericamente e bateu palmas.

Eu, Cas e Dean nos entreolhamos. Que tipo de doença esse garoto tinha?

— Por que diabos está dizendo isso, exatamente? — disfarcei.

— Achei que pareciam confiáveis — o nerd respondeu inocentemente, encolhendo-se na camisa listrada que vestia.

— Ok, Garry — Dean sorriu de maneira falsa, lendo o nome escrito na camiseta do recepcionista. — Volte para os seus quadrinhos.

O recepcionista saiu batendo pé, furioso. Eu me segurei para não rir, mas assim que notei o olhar preocupado de Castiel, decidi conter a minha risada.

— O que há?

— Acho que sei o que está acontecendo. São tulpas.

Dean arregalou os olhos.

— Você quer dizer.. Tulpas de verdade? Eu e Sam já caçamos um, entretanto, só conseguimos acabar com ele queimando a casa que ele assombrava. Como vamos queimar um museu?

— Existem vários tipos de tulpas — informou Cas. — Aqui, estamos lidando com tulpas históricos. Por se tratarem de seres memoráveis como esses deuses e essas criaturas, as pessoas acreditam facilmente em qualquer lenda que ouvirem sobre eles. Tudo está ligado ao museu, afinal, quem possibilita a lenda inventada é ele, porém, não é o museu que personifica a história, e sim, a escultura. O que devemos fazer é deformar o rosto das esculturas, para que assim, tornem-se apenas esculturas indiferentes e que não retratem os seres da lenda na qual as pessoas desta cidade estão acreditando.

Surpreendi-me com o rápido raciocínio de Castiel e não pude evitar sorrir.

— Consegue ser melhor em desvendar casos do que em arrumar gravatas, anjo?

Castiel também sorriu de canto. Dean interrompeu.

— Não acham isso fácil demais? Só quebrar a cara dessas estátuas?

— Nem um pouco, Dean. Por tratarem-se de tulpas, há a possibilidade de seres semelhantes a fantasmas aparecerem e usarem os poderes específicos que o Deus tem — esclareceu Cas.

— Isso quer dizer que um falso Zeus pode aparecer de repente e fritar meus órgãos enquanto eu ainda estou vivo? — questionou Dean, engolindo em seco.

Castiel balançou a cabeça em afirmação. Dean arqueou as sobrancelhas e ajustou as mangas de seu paletó.

— E eu achando que Zeus era bonzinho.

***

O relógio da cidade deu sua décima segunda badalada e a meia-noite por fim havia chegado. Dean me entregou um de seus machados e eu o peguei, apertando meus dedos ao redor dele com força e parando em frente ao museu. Apenas a luz do luar iluminava a grande e vazia avenida daquela pequena cidade e um silêncio quase que mortal se instalava por todos os cantos daquela cidade fantasma. Era surpreendente um museu daquele porte estar situado em uma cidade tão pouco populosa.

Subi o primeiro degrau do museu e fui seguida por Dean e Castiel, que também seguravam suas armas. Olhei para todos os lados e quando confirmei de que não havia ninguém ali, permiti que Dean passasse. Ele inseriu um clipe na porta e sem nenhum esforço ela se abriu, denunciando a falta de segurança do local. Quando as portas luxuosas se abriram silenciosamente, eu soube. Eu soube que aquele era o local do meu sonho.

No hall de entrada, havia um tridente gigantesco feito aparentemente de ouro. Dean fechou as portas atrás de si com facilidade e eu me aproximei do primeiro monumento, com a intenção de ler a placa de informações. Aquele tridente, segundo a placa, era o símbolo do deus dos mares e dos oceanos, Poseidon.

Eu e Dean nos entreolhamos e fizemos um sinal para que prosseguíssemos. Ao chegarmos na segunda parte do museu, lá estavam as estátuas tão faladas. A estátua da Medusa possuía uma fita amarela da polícia ao redor de si, já que haviam resquícios de sangue de Luther Garamond espalhados pela base da estátua. Provavelmente, Luther caiu ali e acabou por cuspir um pouco de seu próprio sangue devido ao veneno que lhe consumia.

— O que vamos fazer agora? — sussurrei, fitando Dean.

Dean fez um sinal de que não sabia e eu dei de ombros, me aproximando de uma estátua. Na placa, dizia o nome “Ares”. Prestei atenção em cada detalhe perfeccionista da escultura e senti uma mão tocar meu ombro. Virei-me esperando ver Castiel ou Dean, entretanto, um homem completamente idêntico ao deus representado na estátua estava bem ali, parado na minha frente. Olhei por trás de seu ombro e Dean brigava com uma moça muito ágil. Já Castiel, estava jogado em um canto do corredor e um dos tulpas ia em sua direção. Aquele que estava em minha frente era, sem dúvidas, Ares, o deus da guerra, ou pelo menos um tulpa o imitando.

Sem pensar duas vezes, o tulpa levantou a mão e eu voei para longe. Minhas costas chocaram-se com a parede e eu caí imóvel no chão, sentindo as minhas costelas latejando. Levantei a cabeça esperando vê-lo, porém, em questão de segundos, o falso Ares levou as duas mãos ao meu pescoço e me ergueu no ar, apertando-as ao redor de minha garganta.

Senti o ar deixando meus pulmões, porém, eu não poderia desistir. Sacudi mais as pernas e chutei o tulpa com toda a minha força, jogando-o para não muito longe. Apesar de ser um deus, o tulpa ainda era apenas uma ideia e poderia ser facilmente machucado por qualquer coisa, apesar de que ele não morreria. Avistei meu machado perto da estátua de Ares e corri até lá, porém, o falso deus segurou meu pé e eu fui arrastada para trás. Para o seu azar, eu já havia atingido a arma e com ela, acertei a canela do tulpa com força. Ele urrou e segurou o local onde eu havia batido. Esquecendo-me da dor, corri outra vez até a estátua e subi até onde consegui nela, esticando-me e batendo com o machado no rosto da escultura.

No mesmo segundo, um pedaço do rosto da estátua foi ao chão e quando eu me virei para ver se o tulpa estava mesmo ali, ele havia desaparecido. Ainda desnorteada, verifiquei como Dean estava. Ele guerreava com uma mulher e pelo o que li na gigantesca placa de informações na frente da estátua, aquela era Atena, a deusa da sabedoria. Talvez fosse por isso que ela estava vencendo Dean.

Segurei meu machado com força e disparei na direção da estátua, porém, Atena estalou os dedos e eu fui mandada para longe mais uma vez, sentindo minhas costas se chocarem contra a parede novamente. Gemi pela pancada, entretanto, não desisti e com a força que me restava, juntei tudo o que eu tinha e mexi meus dedos. Conforme eu mexia meu indicador para a direita, Atena se afastava de Dean contra a sua vontade. Eu estava controlando-a. Dean aproveitou a oportunidade e saltou sobre a estátua de Atena, batendo com o martelo na mesma.

Levantei do chão com rapidez e vi o tulpa erguendo Castiel no ar e tentando aproximar sua mão e o braço agora desnudo de Castiel, já que, aparentemente, o falso deus havia rasgado uma manga de seu sobretudo. Uma chama avermelhada e turbulenta nascia da mão do tulpa e Dean gritou que aquele era Hades.

Eu olhei para Dean e fiz um sinal para que ele golpeasse o falso tulpa com o machado assim que eu o avisasse. Observei a cena do tulpa aproximando sua mão de Castiel cada vez mais e puxei o ar dos meus pulmões para gritar.

— Já! — bradei.

Dei um salto e, no ar, lancei meu machado na direção da estátua de Hades. No mesmo segundo, Dean se aproximou do tulpa e o golpeou. O tulpa desmanchou-se em meio a gritos e logo todos haviam desaparecido. Eles eram os últimos deuses gregos presentes ali e, só por precaução, bati com o machado no rosto da Medusa e no rosto de Ártemis.

— Bom trabalho — elogiou Cas, arfando e levantando-se do chão.

Eu sorri, entretanto, lembrei-me do que eu realmente deveria fazer.

— Sam! — gritei.

Corri para a próxima ala do museu e lá avistei a cena de meu sonho. Não, isso não era real… Eu tinha que impedir. O demônio ia mesmo fazer aquilo, eu sabia que ele não hesitaria. Eu tinha que usar os meus poderes.

— Não ouse me chamar assim — ameaçou Sam, quase sem ar.

Me aproximei mais e gritei.

— Ei! Você!

Antes que o demônio pudesse fazer alguma coisa além de olhar para mim, eu apertei minha mão direita com força e ergui a criatura no ar.

— Quem é você?

O demônio riu.

— Eu não direi.

Apertei mais minha mão e o demônio começou a engasgar.

— Lacey, Lacey! Meu nome é Lacey!

Deixei uma risada amarga escapar de meus lábios e com ela, tentei disfarçar o meu desespero.

— Isso é nome de menina! O que você queria fazer com Sam? — berrei autoritária.

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O demônio se recusou novamente e eu apertei minha mão mais ainda. O demônio pareceu convencer-se.

— Eu ia matá-lo para pegar a sua alma e transformá-la em um demônio — respondeu arfando e gaguejando, já que estava impossibilitado de respirar direito.

— Pois não vai conseguir!

Mexi o braço com força e o demônio caiu no chão. Eu não sei como eu o fiz, mas ergui a mão mais uma vez e uma fumaça negra saiu da boca do humano que Lacey possuía. Fechei os olhos e apertei a mão. Um estrondo soou pelo museu e mesmo de olhos fechados, pude notar um clarão tomando o local. Quando eu os abri novamente, a fumaça havia sido substituída por um tipo de névoa cristalina. Sem pensar duas vezes, devolvi a névoa para o corpo do humano.

O que eu havia feito?

O humano levantou com dificuldade e olhou para suas próprias mãos. Algo me dizia que o demônio ainda estava ali, porém, ele estava diferente. Ele urrou de insatisfação e me encarou. Pude notar a fúria em seus olhos.

— Você me transformou em humano, sua maldita! Como diabos fez isso? — guinchou, tentando inutilmente usar seus poderes demoníacos para me lançar para longe, mas apesar de não ter sucesso, Lacey sorriu ironicamente. — É uma pena que essa casca já estava morta. Você não ia conseguir salvar o pobre coitado, afinal.

Eu me aproximei mais de Lacey e ergui meu machado.

— É. Mas há uma vantagem… Posso matar você facilmente.

Sem pensar duas vezes, decepei a cabeça de Lacey e o corpo caiu no chão. A cabeça saiu rolando e eu arfei, olhando para todos os lados e sentindo-me desnorteada. A tontura me atingiu, entretanto, eu segurei toda a força que tinha e corri até Sam. Desamarrei suas mãos do pilar e assim que ele levantou com dificuldade, larguei o machado no chão e o puxei para um abraço de alívio. Sam também ofegava e eu notei que eu havia conseguido. Apertei mais meus braços ao redor de Sam e senti a satisfação.

Me afastei de Samuel e dei espaço para que Dean desse um abraço no irmão. Ele o fez e Castiel me olhou com ar de aprovação. Eu ofeguei e sorri desajeitadamente.

— Beth… — chamou Sam, se aproximando de mim e depositando um beijo em meu rosto. — Obrigada.

Sorri mais uma vez, sentindo minhas bochechas esquentarem.

— Não há de quê — falei após um suspiro.

Deixamos o museu limpo e intacto do jeito como estava e corremos da polícia que ali chegava para verificar o que havia acontecido. Sam prometeu que quando chegássemos a Lebanon, ele hackearia e desativaria o site onde a lenda havia sido postada. Assim, nós partimos sem nos despedir daquela cidade maldita que era Holdrege.