O hospital psiquiátrico de Saint-Paul era um lugar encantador. Além disso, era-me permitido sair da propriedade para pintar. E como nada tinha eu para fazer lá, passei a dedicar-me com afinco a meus quadros: pincelava os lírios e ciprestes da propriedade, as paisagens, as pessoas, tudo o que via e admirava.

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Minhas manhãs e tardes eram, em suma, dedicadas à pintura, meu homizio da realidade.

E quando não, aproveitava para dar um passeio ao derredor do impetuoso edifício, muito evitado pelas pessoas sãs que lá iam visitar seus amigos doentes.

Durante esses passeios, notava, é claro, os olhares antipáticos que lançavam à mim. E julgo saber o motivo: minha aparência.

“Sujo, desagradável, malvestido.”

Admito que eu não me importava com minha aparência exterior, embora não fosse de todo alheio a minha aparência interior.

Afinal, se muitos se esforçam para adornar seu supérfluo visual porque não o âmago, que é muito mais proveitoso?

Tudo que eu precisava fazer era pintar meus órgãos como fazia com meus quadros.

Aliás, não seria extraordinário se meus pulmões fossem girassóis, ou se meus rins fossem lírios?

Ou se minhas veias fossem amendoeiras e meus ossos oliveiras?

Poderia facilmente transformar meu corpo num jardim de toxina.