Sentidos

Fumaça


Roubei as chaves do meu quarto-cela e, antes que Marta percebesse, fugi. Aproveitaria esse raro momento longe de “casa” para visitar o melhor amigo do meu pai, talvez o único. Vladmir Ayala morava num apartamento no centro de Buenos Aires, eu sempre ia lá com meu pai e eles conversavam por horas sobre política e artes.

Não era minha intenção retornar antes que Marta desse conta do meu sumiço. Soube que naquela tarde ela reuniria suas amigas socialites mais fúteis. Preparei para elas uma surpresa que fará essa festinha de dondocas uma ocasião inesquecível. Tirarei a máscara de boa madrasta dela na frente das pessoas mais influentes.

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Certamente Marta não vai me admoestar... mas ambas teremos tempo para preparar nossas vinganças.

Vladmir Ayala não compareceu nem ao “enterro” nem à festa. Era um homem altíssimo e tímido que morava num apartamento pequeno.

“Vladmir Ayala não mora mais aqui, menina” – eu soube quando cheguei lá. “Se mudou às pressas... já faz mais de um mês”.

“Pouco depois da morte daquele político?” – indaguei.

“Sim. Foi bem depois. Ele parecia estar com muita pressa”.

Ayala não deixou nenhuma informação, simplesmente desapareceu. Como o meu pai. E isso é exatamente o que farei.