Sentir

Semanas se passaram e, finalmente, dezoito anos. Sei que idade é somente um número, mas queria sentir-me diferente do que eu era, ou sou... definir isso, quando os jornais me chamam apenas de “a filha de Nicolás Ruiz”, tornou-se minha prioridade. A maioria dos adolescentes se desassocia dos pais sem precisar mata-los duas vezes. Quem você (pensa) que é, Sabrina?

Quando voltei para casa, entrei pela porta da frente. Marta estava... tão mansa. Destruir a imagem que as pessoas tinham dela significou mesmo destruí-la. Estava muito mais magra, depressiva, alcoólatra.

Aluguei um espaço meu, em vez de mudar-me para uma das propriedades do meu pai. Afastar-me de tudo, justapor os acontecimentos... mas isso não funcionou. Meus pensamentos entravam em loop – começavam e acabavam em Victor. Ele não me procurou, não atendia minhas ligações. Pergunto-me se já cumpri meu propósito, se agora, que tenho a idade de uma mulher, não o interesso mais.

Todos os dias, ao entardecer, caminhava sem rumo definido. Mas não me sentia perdida. Não sentia nada.

“Desculpe, senhorita” um senhor de chapéu, estranhamente familiar, esbarrou em mim.

Sorri, fascinada por aqueles olhos castanhos, tão idênticos aos meus. Ele caminhou entre a multidão e eu, instintivamente, o sigo.