RéSistance

Do filtro gotejava café concentrado. A cadência daquele respingar no interior da jarra embalava Enjolras num devaneio melancólico. Na pele de mármore, tingiam-se purpúreos anéis sob os olhos.

Penitenciava-se pelo beijo. Ora, se aceitara sinceramente o pedido sóbrio de seu atual namorado, por que apenas agora se apresentava resiliente?

Talvez, nem devesse ter aceitado em primeiro lugar. Convencia-se cada vez mais de que não passara de um impulso momentâneo, fruto de uma comoção precipitada.

Ou nem tão precipitada assim, afinal, o seu grande dilema para com Grantaire até então era o álcool.

Com a vida a dois, começou a reparar em certas atitudes as quais desconhecia sobre o boêmio. Nas poucas vezes nas quais se encontrava sóbrio, apesar de ainda manter sua personalidade irreverente, Grantaire parecia o evitar ao máximo.

Enjolras, portanto, considerou que a confissão tenha valido muito esforço e nervos.

Apesar de todas estas reflexões, confessava que nem um quarto delas tenha passado pela sua cabeça no momento.

Permitiu-se envolver por braços atarracados. O odor de álcool, ainda que brando, insistia em lhe irritar o nariz. Pela respiração entrecortada em seu pescoço, deduziu a situação.

– Desculpe. – desfez-se do enlace. – Não posso.

Grantaire, desta vez, tinha algo a dizer.