Coletânea de lembranças

Esta é a sala dos mistérios. Todos os que estão nela foram sugados pela densa confusão de feitiços, atingidos de alguma forma. Todos nós quase morremos. Quase perdemos nossas vidas pelo suposto bem maior.

Meu caro companheiro grifinório, líder do time de quadribol e constante combatente do Lorde das Trevas, não está lidando bem, no entanto, com a recente morte de seu padrinho. A tristeza e o luto que o cercam me contagiam cegamente. É como se não tivéssemos vencido afinal. Torno à sala dos mistérios todas as noites durante o sono, e não há como escapar. O terror e a aflição estão em cada canto dos meus pesadelos – pela primeira vez, eu não consigo ter bons pensamentos.

A única âncora que me sustém ao sano é a esperança de voltar para casa – significa um recomeço; um novo sorriso no rosto, quem sabe? E continuamos a nos esforçar, para que no final desse trecho da vida apenas restem memórias difusas: o vívido adormece no coração.

Somada a essa esperança, também seguro-me em uma pessoa. Um rapaz. Aqueles olhos que seguem o movimento das páginas, uma ruga de sorriso nas bochechas.

Chega, então, a hora de justapor meus lábios aos dele.