Dias Chuvosos

Le Gavroche


As ruas estão repletas de paralelepípedos e há sempre vários ciclistas transitando por entre as vielas e os restaurantes. Eu sinto cheiro de pão e flores. As pessoas conversam como se entretidas ou mesmo entediadas com um sotaque rápido e cantarolado, cuspindo saliva de quando em quando.

– É incrível! – eu digo enquanto vemos a cidade do alto da torre. Um garoto que está sentado ao meu lado fita-me com um olhar confuso. Ele segura uma bolsa de pano entupida de jornais e percebo que sua boina amarela está encardida. Quando reparamos nas pessoas, podemos notar os mais óbvios detalhes que, há pouco, não estavam lá aos nossos olhos. Digo-lhe uma frase em francês, tentando mostrar-me amigável ao petiz jornaleiro.

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– Je suis un gavroche! – ele grita em resposta. Estendendo a boina para que eu coloque alguns trocados, contemplo seus pequenos olhinhos azuis.

Quando voltamos para o hotel, ao fim do dia, ainda tenho aquele garotinho preso no pensamento. Embora eu tenha tantas lembranças de minha viagem à Paris, tantos lugares que frequentei e palavras que aprendi, a memória do menino ousa deixar sua marca. Foi um diálogo coberto de um profundo sentimento de perda. Eu gostaria de saber a sua história.