Dias Chuvosos

Divina proporção


Escolhi como tema da minha pesquisa de Aritmancia o homem vitruviano. Com a autorização da professora, consegui adentrar a área restrita da biblioteca e finalmente estudar as anotações do sábio pintor e matemático que o mundo tanto admira; esta é a versão original, empoeirada pela falta de uso.

Estou há horas admirando seu trabalho, observando o homem desenhado no pergaminho e sua expressão levemente desdenhosa; o donaire dos traços de seu autor irradia por seu corpo rígido tangente à perfeição.

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Algo roça entre minhas canelas, acordando-me de meu transe. Ouço o miado reprovador de Madame Nor-r-ra. Logo, seu dono aparece segurando um trêmulo lampião.

– O toque de recolher já tocou faz tempo... – ele tosse, formando uma enorme careta, que desfigura suas feições. – A senhorita não deveria estar na cama? – sua gata boceja e aperta os olhos amarelos em minha direção.

– Eu posso ficar aqui, sou monitora! – apenas com o olhar dele, sinto-me compelida a sair dali.

Sua face é justamente oposta à do homem vitruviano. Todos ângulos de seu rosto realçam certa deformidade. No entanto, se eu fosse comparar todas as pessoas com o desenho estudado seria tolice pensar na perfeição ideal. Talvez, estávamos todos olhando para o ângulo errado.