Diário Virtual

A inquisição da minha mãe


Sabe, quando a minha querida e odiada irmã aparece dizendo que está com um namorado novo, ninguém se surpreende. Na verdade, nem fazem questão de conhecer o cara. Porque sabem que é um caso passageiro, como tantos outros.

Agora, quando é comigo, pelo que parece... Todo mundo nessa porcaria de família entra em comoção.

E pela primeira vez, eu tive que ter aquela conversa com meus pais. Calma, não aquela de aquela conversa, mas ter que falar de relacionamentos.

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Primeiro, a minha mãe gritou meu nome e pediu pra que eu fosse até lá. Cheguei na cozinha, com aquela minha cara de cachorro novo, só querendo sumir da face da terra ou despertar a compaixão de alguém.

– Eu não sei o que ela disse, mãe, mas é mentira !- eu disse, começando na defensiva.

Ao que a minha mãe disse:

– Senta aí.

Me sentei em uma das cadeiras da mesa, e tive que ver aquela idiota dedo duro sorrindo pra mim.

– Você vai me explicar direitinho que história é essa, mocinha, senão... - ela me ameaçou.

Achei tudo muito injusto, mas okay, fiquei em silêncio.

– Agora começa a falar desse namoradinho. - ela pediu.

E eu tentei explicar, falando que era o David, aquele garoto que tinha me chamado pra tomar sorvete e tudo mais, que ele era da minha escola. O que amenizou aquela cara dela de brava, porque poxa, ela conhecia o David. Indiretamente, mas conhecia.

– Viu, mãe? Não é nada demais, essa cagueta aqui que fala muito. - eu concluí, irritada.

– Olha ela, mãe, olha o jeito que ela fala de mim. - o demônio retrucou.

– Deixa a sua irmã fora disso, Cassidy. Eu queria conversar com você sobre isso faz uns dias. Uns vizinhos andaran comentando que um garoto veio aqui em casa e não era o Bryan. Não falei nada, mas isso vinha me incomodando faz uns dias.

Ah, o dia em que o David veio ver uns filmes em casa, e o dia em que ele me deu um selinho. Mamãe começou a dar aqueles discursos moralistas que me dão dor de barriga, e mais uma vez vi a injustiça no quadro todo.

Bryan podia entrar quando e como quissesse em casa, e ela nunca pegou no meu pé por isso.

E quando eu pensei que finalmente estava livre pra voltar pro meu quarto, porque bem, digamos que eu tinha assuntos pendentes por lá, um verdadeiro interrogatório começou.

Interrogatório

Qual é o nome completo dele?

David... Da Silva, eu acho... Hum... Ullrich? Como eu vou saber o nome completo dele, mãe? Quero dizer, eu não sou uma stalker.

Qual é a data de nascimento dele?

Essa eu sei, ele faz aniversário em 22 de janeiro.

O que eu quis perguntar é, quantos anos ele tem?

16, mãe, ele faz 17 daqui a uns meses.

Não acha que ele é muito velho pra você?

An? O Bryan tem 19 e você nunca implicou com ele por causa de idade.

Acontece que você namora esse tal de David, não o Bryan.

Ta bom, mãe.

Como conheceu esse garoto?

Ele... É... Eu já tinha visto ele pela escola. E aí, um dia... Na educação física, sabe, a gente conversou e...

Ela ta demorando muito pra arrumar e ta gaguejando. Acho que ela ta inventando coisa, mãe.

Mãe, pode por favor tirar ela daqui?

(Nesse momento mágico, minha mãe expulsa a coisa da cozinha)

O que ele faz da vida?

Ele joga no time da escola. E... Faz curso de línguas.

Quais são os planos dele para o futuro?

Mãe... Por favor, chega.

Ta bom, mas quando vamos conhecê-lo?

Eu vou conversar com ele, okay?

Fim da Interrogação

Depois de algumas perguntas, fui dispensada com a ficha limpa, e voltei para o meu quarto saltitante.

Antes de ter sido chamada, eu estava em uma conversa un tanto quanto interessante com o David ♥ .

Primeiro ele mandou uma mensagem perguntando se eu estava bem, e o que estava acontecendo.

Eu : Posso ter contado una mentirinha pra minha irmã.

David : Falou pra ela que a odeia?

Eu : Haha. Pior.

David : O que você disse?

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Eu : É constrangedor demais.

David : É mais constrangedor do que aquela vez em que você viu seu professor coçando o... ?

Eu : Às vezes, você é bem inconveniente.

David : Você tem que admitir, é engraçado.

Eu : Haha.

David : Tem haver com a sua irmã, não é?

Eu : Eu disse pra ela que tinha namorado.

David : E você, por acaso, não tem um?

– CASSIDY VEM AQUI AGOOORAA!

Deu pra entender o motivo para eu estar tão ansiosa pra voltar pro quarto e pegar meu celular? Como assim, já tenho namorado? Ele quis dizer que era meu namorado? Ou me perguntou se eu tinha um namorado? O que aquilo quis dizer?

Abri a porta do meu quarto e pulei para a minha cama, pegando no celular. Três mensagens novas.

David : Ta aí?

David : Ei, foi brincadeida. Ah não ser que você queira que seja sério.

David : Ta tudo bem? Olha, eu vou passar aí na sua casa, okay?

Fiquei digitando várias respostas, como "Não precisa vir aqui, eu estou bem" e "O que você quis dizer com aquela pergunta? Sobre eu ter namorado?". Nenhuma mensagem de volta.

E eu fico sem saber se ele vai vim na minha casa ou sei lá.

♥ ♥ ♥

É, a campanhia de casa tocou. E eu desci correndo as escadas, pra abrir a porta e dar de cara com... O Bryan.

Nem deu pra esconder minha cara de frustração e decepção.

– Ah, é você. - eu disse, contrariada.

– É, sou eu. - ele respondeu.

A gente ficou se encarando por uns segundos, até eu sair da frente dele.

– Quer entrar? - perguntei, sem jeito.

– Sim, claro.

Ele entrou, se sentou no sofá da sala e não demorou muito pra minha mãe aparecer, pra puxar o saco dele.

– Oh, querido, quanto tempo! Como vai? Como tem passado? Estava com saudades. E aquele acampamento de ciências, ainda ta de pé? Quer uns biscoitinhos?

E então apareceu o demônio, pra completar a cena.

– Ah, Bryan, quanto tempo! Recebeu minhas mensagens? Quanto tempo, hein.

E as duas ficaram ali, em cima dele, enquanto eu fiquei sentada no canto, bocejando e olhando pra tela do meu celular.

– Mas eu queria mesmo era falar com a Cassidy. - Bryan disse, e foi uma das poucas palavras que eu prestei atenção.

As duas saíram, pedindo licença, e meu celular tocou, anunciando uma chamada do David.

Que merda, hein.