Autoextermínio

14 — Vitor


Vitor tinha disfunções sérias em relação à raiva e descontroles constantes de agressividade.

Os colegas diziam que era um favelado sem educação. Outros, que era digno de uma boa surra para colocá-lo nos eixos. Como Vitor retrucava?

Bem, já chegou perto de quebrar um braço alheio pelos comentários desfavoráveis.

Sempre fora o janota das quatro turmas que frequentara, mas quando cedia ao desequilíbrio, tampouco ligava à tão aspirada elegância. Rasgava o casaco escolar e repudiava qualquer meio de tentar pará-lo.

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Enraivecia-se por sabe-se lá que questão. Talvez fosse por se conformar com o repleto vazio que carregava?

A mãe o jogou numa consulta psicológica sem pensar duas vezes.

"Desenhe sua mente para mim, Vitor."

Vitor tempestuava a tamanha calmaria da psicóloga. Até chegou a querer socá-la bem no meio da palidez do rosto.

Ademais, assentiu. Arrancou o lápis enquanto sacudia as pernas progressivamente. Não a deixou ver nem os movimentos que fazia com as mãos sobre o papel. Simulados, fingidos.

Entregou.

Deixou com que a psicóloga encarasse um círculo quase minúsculo no canto inferior do papel níveo. E perguntou-lhe, enfim:

"O que você vê no seu desenho?"

"Eu sou o círculo. O resto é o que me descontrola."

O vazio.