Autoextermínio

13 — Laura


Laura vivia uma relação abusiva constante.

O problema? Pra ela, bradar sua dor era como se estivesse assinando a própria sentença. Calava-se, afugentando quem ousasse perscrutar, cegada pelo medo e pelo vitimismo do marido.

Vivia em casa.

Cozinhava, limpava. Organizava as tralhas do esposo e ainda acudia tempo pra poder se sustentar da confecção de artesanatos. O marido? Às vezes comparecia ao trabalho, mas quando retornava, ai de Laura se não tivesse um cafézinho acatando por ele.

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Por vez, Laura pedia para ir em festas.

"Não." Então, o tirano intimava trancá-la no sótão até a manhã seguinte se continuasse teimando naquela besteira.

Mas quando Laura gritava, só bastavam os pretextos do marido para tranquilizá-la.

"É culpa sua, Laura! Como você acha que eu me sentiria pensando na possibilidade de ter um tarado colado em você nessas festas? Você nem tem mais idade pra isso."

Fatigada, Laura concordava.

Até que ela cedeu ao desalento constante que lhe acometia a cabeça. Era usada, destruída emocionalmente, mas não enxergava inconveniente. Amava o companheiro da maneira mais plena e absoluta.

Quando foi encontrada sangrando no chuveiro, chocou meia vizinhança.

Mas o marido garantiu que não havia um porquê para a mulher cobiçar suicídio.