Contos Adolescentes

XXIII — Precioso Homizio


Era um porão pequeno e empoeirado, as teias de aranha estendiam-se por todos os cantos, e haviam tantas caixas espalhadas pelo chão que eu precisava ter um cuidado extra para não tropeçar nelas. As cortinas velhas que cobriam janelas, fechadas por pedaços de madeira, estavam aos farrapos e vez ou outra eu puxava mais um pouco delas, para auxiliar em meus cobertores improvisados.

Os raros feixes de luz que adentrava o ambiente me davam esperança, mesmo que ao mesmo tempo me deixassem triste, soterrada pelas memorias de dias felizes ao lado de todos que amava, ao lado de minha Abryl. Isso me fazia continuar aguentando, continuar sofrendo com toda a pressão imposta por meus pais. Aquele lugar, de certo modo, era meu precioso homizio, onde eles não poderiam me encontrar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Foi numa fria noite de dezembro, porém, que tal terrível vida teve um abrupto fim. Lembro de escutar passos, e logo em seguida uma das poucas janelas que não havia sido lacrada sendo aberta. Eu lembro de vê-la, com seu reluzente sorriso e com uma mão estendida. Lembro-me de suas palavras.

— Vamos, Ailisa, vamos sair daqui. Juntas.

E lembro-me de minha felicidade. Que sinto até hoje estando ao lado dela.