Janota

Minha pele estava extremamente quente, apesar de estar sendo banhada pela chuva. Eu provavelmente tinha perdido minha audição, pois não estava escutando barulho algum — talvez fosse apenas o choque causado pelo acidente.

Senti meu coração se apertar quando visualizei a figura de Itachi logo ao meu lado. Eu só conseguia vê-lo do peitoral pra cima. Havia uma parte de um carro janota capotado por sobre sua barriga e pernas.

Não consegui engolir o choro e o soluço. Me arrastei até ele, pois mesmo que eu estivesse em um bom estado, sabia que não teria forças nas pernas para me levantar. Quando enfim cheguei até ele, coloquei sua cabeça por sobre minhas pernas, vendo-o tossir sangue, provavelmente ao tentar falar alguma coisa.

Eu nunca havia me sentido tão inútil como naquele momento. Não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer naquele momento. Nada.

Senti ele passar os dedos no meu rosto, como se estivesse limpando minhas lágrimas. Segurei fortemente sua mão com as minhas.

— Não me deixe — pedi, com a voz falhando.

Como resposta, ele apenas sorriu de maneira discreta, como sempre fazia. Eu senti sua mão perder a força e observei, com dor no coração, seus olhos se fecharem lentamente.