Volume de controle

Estamos almoçando juntos no RU. Há algumas semanas isso se repete.

Gustavo que simplesmente não tem filtro, jogou uma de suas cantadas ridículas para cima da Lorena.

Estamos ouvindo um discurso infindável sobre feminismo e a sofrência do homem cis hétero.

Gustavo se encolhe um pouco na cadeira.

– Que porra é cis hétero? – ouço Gustavo murmurar e me controlo para não começar a rir.

– Uma coisa terrível, cê precisa se curar.

Você está em silêncio, alheio a tudo. Como conclui tempos atrás, minha competência de perscrutar a vida alheia se resume à análise do volume de controle Samuel. O que não te envolve facilmente é descartado.

Então eu coloco minha mão sobre a sua, tirando-o de seu devaneio, e mantenho os olhos fixos em seu rosto. Penso que você irá fugir do assunto, como sempre, mas me engano ao ver que seus olhos se avermelharam de repente.

Então eu pisco e você está sorrindo.

Não há indícios de que começaria a chover.

Sigo para minha aula, você para sua reunião do diretório. Ou melhor, seguiríamos cada um para seus compromissos, se eu não resolvesse dar meia volta e te seguir.

Encurralo você no corredor do segundo andar.

– Nós precisamos conversar.