Proesiando

(A)Mar


Os olhos grandes, a voz embargada, aquele sotaque ondulado, lascivo, que ele sempre tentava perscrutar. Todos os dias, enquanto a observava passar pelo café onde comia algo pela manhã, a via passar, o cabelo solto, os ombros queimados de sol.

Ele de terno, nunca entendia o que alguém fazia ao sair tão cedo de casa, ainda mais com aquela roupa largada e o biquíni por amarrar. Observava de longe, como quem vê uma pintura, viva, a se repetir.

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Certo dia, teve coragem de se aproximar, perguntou-lhe sobre a vida, lançou todas as suas perguntas a ela. Ela respondeu com paciência e o vai e vem das respostas o embriagava.

Porém, de maneira tão enigmática quanto tinham se aproximado, afastaram-se. Para ela, ele parecia mais um entre os tantos ternos cinzas, uma barra a mais na gaiola chamada mundo. Ele não entendeu, mas a deixou ir. Presava pela liberdade das coisas, invejava aquela força de vontade.

Mas ele era jogador nato da vida. Sabia lidar com negócios, papéis, divórcios.

Ela, surfista do mundo, nadando contra a corrente. Fugia do colégio para nadar.

Ele tinha seus tantos defeitos, um vício pelo fumo, um apartamento bagunçado.

Ela não ligava, seu vício era mar.