Proesiando

Resiliência


Tinha um trajeto rápido. Saía de casa para o ponto de ônibus, apenas uma quadra e meia a pé. Todo dia, passava na frente da padaria de Seu João e ele sempre a saudava com um sorriso doce, às vezes lhe dava até um pão recém-saído do forno. Uma gentileza que era recompensada na propaganda que fazia a qualquer um do bairro. Com direito a slogan: você quer um pão? Só lá em Seu João.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Seu João então contratou José e, cada vez que ela passava na frente da padaria, ao invés de pão recebia uma frase. Mas nada de poesia, nem do riso do velho João. Sempre vinha precedido de assovio, com palavras diferentes.

“Onde tá indo, moça bonita?”

Não respondia, fosse pelo assovio ou pelo sorriso torto, ela não ia com a cara de José.

“Um pão por um beijo!”

Resiliente, não mudou o percurso. Batia os pés, passava rápido, ou até mesmo mudava de calçada. O assobio continuava, irritante. Quando Seu João não pode mais com a padaria, José ficou mais solto, sua vizinha até afirmou ter mudado o rumo por conta dele.

Descobriu que não era só com ela.

Descobriu que resiliência também rimava com resistência.