Nunca imaginei que veria o dia em que alguém voaria como um pássaro, principalmente quando eu estivesse junto, mas foi justamente o que aconteceu. Depois de afastar (prefiro pensar assim) aquelas pessoas de mim Ryan simplesmente pegou minha mão e de repente eu vi asas saindo de suas costas e ele começando a voar comigo em seus braços. Fiquei em choque durante todo o tempo e só fui capaz de recuperar meus sentidos quando ele me deixou na frente da minha porta.

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– O que é você? – foi a primeira frase que saiu da minha boca.

– Acho que seria melhor se eu entrasse com você, já tomei muitos riscos voando com você, mesmo estando de noite – ele disse como se nada tivesse acontecido.

Abri a porta de casa, ansiosa para saber o que ele me falaria e logo fui para a cozinha tomar um copo d’água antes de me sentar ao lado de Ryan no sofá.

– Eu não pretendia que isso ocorresse, eu fiz todo o possível para que você se esquecesse de mim, não esperava que Philip viesse atrás de você – ele disse evitando olhar para mim.

– O que aconteceu? – perguntei confusa.

– Eu vou começar do princípio – ele disse – eu sou um anjo do Senhor. Eu fui designado por Ele a cuidar do problema com os anjos caídos que se aliaram a Lúcifer.

Fiquei chocada ao ouvir o que ele disse e ele logo se levantou e esticou suas asas.

– Talvez você não tenha percebido direito, mas este sou eu – ele se virou – da última vez em que nos vimos minhas asas estavam escondidas, pois sempre que um anjo se fere elas ficam recolhidas, para o caso de algum humano nos ver – ele voltou a sentar ao meu lado.

– O Senhor não pode se intrometer diretamente nos conflitos com os Caídos, pois é incapaz de ferir algo que Ele mesmo criou e para isso eu fui escolhido, eu sou o responsável por impedir que os Caídos dominem o céu – continuou.

– Dominar o céu? Mas os Caídos não deveriam estar no inferno junto a Lúcifer? – ele me olhou confuso – eu gosto de literatura sobrenatural – expliquei.

– Teoricamente sim, mas Lúcifer se tornou ganancioso e agora quer ter o controle do céu também. Essa luta existe há aproximadamente vinte anos e não tem previsão de acabar tão cedo, e eu temo que no fim não sobrem anjos suficientes em nenhum dos dois lados para existir o equilíbrio.

– Vinte anos? – perguntei confusa; Ryan somente confirmou – Esta é a minha idade!

Ele se levantou novamente e seu olhar se deteve em meus quadros.

– De onde você tirou a inspiração pra esses quadros? A resposta verdadeira desta vez, por favor – ele disse.

– Em sonhos – suspirei – desde onde posso me lembrar eu tenho sonhos com essas pessoas.

– Você sonha com essas imagens? – ele se virou de olhos arregalados.

– Sim.

– Estas imagens são reais, esses conflitos aconteceram de verdade.

Congelei onde estava, não era possível que todas as mortes que vi em todos esses anos fossem verdadeiras.

– Mas o que eu não entendo é: como você pôde ver todos esses combates e ninguém nunca a viu?

– Eu as observo de uma maneira distante, nunca antes tinha interferido em um sonho diretamente, até que... – me interrompi no meio da frase.

– Até que o quê? – ele perguntou voltando a se sentar.

– Até que eu sonhei com o conflito em que você machucou o braço (olhei o braço dele, que não tinha nenhuma marca do que tinha ocorrido) foi como se eu estivesse vendo através dos seus olhos – eu disse encarando-o – e na mesma hora em que você caiu eu acordei gritando em meu quarto.

– Vo-você me viu cair? – ele perguntou chocado.

– Sim Ryan, eu vi – fui até meu quarto e peguei novamente meu esboço e mostrei a ele, que ficou mais surpreso ainda – por isso quis tanto lhe ajudar, eu queria saber o quanto do que estava vendo era real.

– Isso não é possível – ele disse – nunca se ouviu falar de um humano que consiga ter sua alma levada ao céu antes de sua morte, mesmo que em sonho – começou a andar em círculos – e você diz que viu através dos meus olhos, como isso é possível? Como eu não percebi? Isto não faz sentido algum.

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– Você é um anjo e eu que não faço sentido algum? – ri amargurada.

– Isso é completamente diferente! Eu tenho que ir – dito isto ele saiu disparado porta afora.

Recebi uma ligação de Cindy me perguntando porque eu ainda não estava lá e eu fingi que estava doente, o que pelo jeito foi bem convincente, e dormi com a mesma roupa que estava. Sonhei com aquele tal de Philip que não parava de me observar e acordei tão cansada que não queria nem sair da cama. Levantei, troquei de roupa e nem dois minutos depois a campainha tocou. Fui atender e uma Cindy irritada entrou por ela:

– Como foi que você pôde ter me abandonado? Eu achei que eu fosse sua melhor amiga – ela olhou pro meu rosto – o que aconteceu com você?

Esta é Cindy, a bipolar, senhoras e senhores.

– Eu... – pensei no que poderia dizer – quase fui assaltada no caminho da festa.

– Não acredito – ela me abraçou – não te machucaram, né?

– Não, logo outras pessoas passaram por perto e ele teve que me deixar ir – nem acreditava que estava mentindo tão bem.

– Você podia ter me contado!

– Não queria estragar sua noite – desconversei – mas agora me conte, como foi?

E então durante metade do dia Cindy me contou cada detalhe do que aconteceu na festa e depois ficamos vendo séries e comendo o resto das guloseimas que haviam sobrado da outra noite. Quando Cindy finalmente foi embora eu estava tão cansada que só o que fiz foi cair na cama novamente, reparando brevemente que havia algo pendurado na minha janela que eu não lembrava de ter deixado lá, mas estava cansada demais para ver o que era.