Acordei muito tonta com uma claridade insuportável vindo da janela. Tapei meus olhos com minhas mãos e tentei me virar para dormir novamente até ouvir uma voz do meu lado:

— Não é mais hora de dormir, dorminhoca – disse no meu ouvido.

— Mais cinco minutos – resmunguei e virei para o outro lado.

— A culpa não é minha se você bebeu demais ontem – murmurou.

Desisti de dormir, vendo que Ryan não desistiria, e tentei abrir os olhos.

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— Fecha as janelas – pedi com uma voz meio grogue.

O anjo bufou e fechou as cortinas, retornando para o meu lado em seguida.

— Melhorou? – perguntou cínico – agora tome esse remédio aqui.

— Remédio? Para quê? – reclamei – você não pode simplesmente fazer a dor desaparecer?

— Eu poderia, mas desse modo não veria você de ressaca – riu de mim – depois que você engolir venha para a cozinha, eu preparei o café da manhã.

Ryan me deixou sozinha no quarto e afundei minha cabeça na cama antes de levantar e tomar uma ducha, vestindo um shorts de um tecido qualquer e uma regata antes de ir para a cozinha.

— Aqui está a sua comida – disse o anjo se controlando para não rir.

Provei a bebida na minha frente e quase cuspi ao sentir um gosto amargo na minha boca:

— O que é isso? – perguntei.

— Café preto sem açúcar – sorriu – li em algum lugar que é bom para pessoas com ressaca.

Bufei e resolvi deixar Ryan se divertir um pouco, pois ele iria me pagar caro por isso depois. Terminei de comer e deixei a mesa, indo em direção ao sofá e colocando em um canal qualquer na televisão.

— Quando você pintou esse quadro? – perguntou Ryan alguns minutos depois de eu ter ligado a televisão.

— Ontem, quis pintar algo diferente – dei de ombros – será que você pode fazer essa dor de cabeça idiota passar?

Depois de considerar pelo que pareceu uma eternidade Ryan finalmente se aproximou e tocou minha testa. Suspirei de felicidade ao sentir minha cabeça voltar ao normal.

— Melhorou agora, minha pequena bebum – riu o anjo.

Não resisti e comecei a estapear ele, mesmo sabendo que não adiantaria de nada. Menos de um minuto depois minhas mãos foram imobilizadas.

— Será que agora nós podemos ter uma trégua?

Bufei e concordei com um meneio de cabeça.

— Pelo menos eu posso saber o motivo de você ter bebido tanto? – perguntou visivelmente preocupado.

— Eu, aparentemente, sou um “espírito criado para reestabelecer o equilíbrio”. Não existem muitas informações, mas pelo menos agora eu sei para que eu sirvo – suspirei.

— E o que isso significa exatamente?

— Você não sabia disso? – o anjo negou com a cabeça – significa que até a hora chegar eu não sei o que fazer.

— Faith descobriu isso? – surpreendeu-se ele.

— Sim, pelo jeito ela ficou receosa que tivéssemos... – fiquei sem palavras – tido um momento mais íntimo.

Fiquei vermelha imediatamente, o que fez Ryan apertar minhas bochechas e falar com voz de criança:

— Ela ficou vermelhinha, que coisa fofa.

— Para com isso – ri e me esquivei de suas mãos.

— Eu paro com uma condição – encarou meus olhos – você vai passar o dia inteiro deitada nesse sofá vendo filmes comigo.

— Parece um bom plano – sorri e dei um selinho nele – eu aceito.

Nos deitamos no sofá e escolhemos um filme qualquer que distraísse nossas mentes de todos os problemas que nos circundavam, porém mal o filme tinha começado e eu já tinha caído no sofá.

Acordei assustada com um barulho de mensagem no meu celular, mas antes que pudesse pensar em pegar o aparelho Ryan já estava lendo a mensagem:

— “Você ainda não me deu uma resposta. Você sente algo por mim?” – o anjo leu lentamente, me encarando com uma expressão interrogativa.

Levantei-me rapidamente e peguei o celular de suas mãos, teclando uma rápida mensagem (“sinto: nojo”) para meu correspondente.

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— Isso é uma estratégia da Cindy para deixar você com ciúmes – inventei a primeira mentira que me passou pela cabeça – já mandei-a parar.

— E você não tem o número dela em seu celular? – desconfiou.

Ri nervosamente antes de responder:

— E você acha que ela faria algo assim com o próprio celular?

Isso pareceu acalmar Ryan por um momento, mas eu ainda precisava distraí-lo. Me aproximei do seu corpo e beijei-o lentamente, tentando dissipar qualquer dúvida que ele ainda tivesse.

— O que acha de irmos a algum lugar? – sugeri interrompendo o beijo.

— Hum… eu acho uma boa… - o anjo foi interrompido por um barulho súbito na sala.

— Ryan, eu preciso que você venha comigo agora. É urgente – disse Miguel rapidamente.

— Como você…? – comecei a perguntar.

— Cindy me disse a localização da sua casa – me respondeu o arcanjo sem se abalar.

— O que houve? – questionou Ryan em um tom de voz muito sério.

— Philip e um pequeno exército de Caídos invadiram o Céu novamente. Muitos anjos estão feridos – explicou Miguel.

Isso pareceu atingir o lado líder de Ryan, que começou a fazer várias perguntas a Miguel e a dar ordens. Poucos minutos depois os dois se foram e minha casa ficou silenciosa novamente.

Bufei e me joguei no sofá. Por que isso tinha que acontecer agora? Olhei para o meu celular e uma raiva imensa de Philip me atingiu: o que aquele idiota pensava que estava fazendo me enviando uma mensagem?

Quando dei por mim meu celular estava atirado no outro lado da sala, completamente destruído. Eu tenho que aprender a controlar meus sentimentos. Peguei os destroços do celular do chão e resolvi ir até a casa de Anne para pedir que ela fosse comigo comprar outro, afinal eu não poderia ficar incomunicável.

— Anne, você está ocupada? – perguntei logo que minha amiga abriu a porta.

— Na verdade não – disse – o que você quer fazer?

Mostrei os destroços do aparelho na minha mão e disse:

— Aconteceu um pequeno acidente – sorri sem graça – daí pensei em irmos ao shopping.

— Eu topo, só me deixe pegar minha bolsa.

Esperei poucos minutos e logo Anne saiu da casa - ela era bem prática em relação a roupas. Caminhamos sem pressa até o shopping mais próximo e, depois de uma parada na loja de celulares, ficamos admirando e provando roupas, sapatos e acessórios. Nos divertimos muito e acabamos gastando muito também. Enquanto Anne saiu do shopping carregando três sacolas, eu saí com cinco.

Voltamos muitas horas depois para casa e eu me sentia mais leve depois do tempo com Anne. Eram esses momentos que me impediam de enlouquecer com todo esse drama de anjos, Caídos e guerra. Suspirei e entrei em casa.