Chuva de Lágrimas

Capítulo 12


Deram-lhe um chocolate quente e pouco de um ensopado grosso de carne no refeitório do abrigo onde tinha conseguido o cobertor. Ele agradeceu várias vezes a jovem e pediu um copo. Quando foi para o frio da rua, Jake estava deitado com a cabeça entre as patas ao lado da porta. Ao vê-lo, abanou o rabo.

— Vem garoto, temos um pouco de comida quente hoje.

O cachorro o seguiu de volta até o parque. Ele dividiu a sopa, colocando um pouco no copo e o deixando no chão perto de Jake.

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Tinha acabado de jogar o lixo fora quando alguém puxou com força o cobertor que mantinha sobre os ombros. Não foi o suficiente para que o derrubasse e muito menos para que perdesse a única fonte de calor que tinha, mas o deixou alerta. Ele se virou, procurando quem tinha feito aquilo e deu de cara com outro morador de rua em um estado pior que o dele.

Ele não conseguiu determinar a idade do sujeito, mas com medo de ser um senhor idoso, não reagiu com brutalidade.

— Passa o lençol — a voz era rouca e cheia de urgência, desconfiada. O homem manteve o olhar fixado nele, com medo. — Anda logo!

— Desculpa, mas eu não vou te dar. Você pode conseguir um lá no centro de doações.

— Tá de sacanagem com a minha cara? Me dá logo!

— Não!

O urro de dor de Edward ecoou pelo parque e foi levado pelo vento. Ele olhou para baixo, uma mão suja segurava uma faca — ele assumiu que fosse uma faca pelo pedaço prateado que viu. O homem sorria, faltavam dentes em vários lugares, o hálito fedendo a álcool chegando até suas narinas. Afastou-se, revelando de fato que o que estava segurando era uma faca — agora suja de sangue — e começou a rir, puxando o cobertor de seus ombros e saiu correndo.

Jacob tinha parado para tomar um café na lanchonete, estava frio em Forks e seria excelente estar no conforto de uma cama, mas ele tinha que trabalhar. Viera até a cidade para isso. A bebida quente o despertou, o aquecendo por dentro. Estava atravessando a rua até seu carro quando ouviu o grito.

Olhou ao seu redor procurando a origem e a encontrou no meio do parque. Dois homens estavam de pé encarando um ao outro. Então um deles se afastou, levando consigo o que parecia ser um cobertor que estava nos ombros do outro, se virou e saiu correndo. O que havia ficado caiu e mesmo de onde se encontrava, Jacob conseguiu ver quando a cabeça dele atingiu o banco com força.

Correu o mais rápido que pôde até onde o homem visivelmente machucado estava caído. Ouviu um cachorro latindo, mas não deu atenção. Tentou virar o corpo do morador de rua e seu coração bateu mais rápido quando sua mão ficou suja de sangue. Tateou o bolso da jaqueta com a mão esquerda enquanto virava a cabeça do sujeito. Seus olhos se arregalaram. Havia um corte logo acima da sobrancelha de onde saía sangue.

— Droga! Droga!

Com o celular na mão, discou rapidamente o número da emergência e esperou nervoso para que atendessem. Após menos de uns minutos, com uma falta de paciência não característica dele, Jacob guardou o aparelho no bolso e deu um jeito de puxar o homem até seu carro. Sem se importar se o estofado do banco ficaria sujo de sangue ele fechou a porta depois de ter colocado o homem dentro, contornou o Jeep e arrancou.

*

— Senhor Black? — ele levantou a cabeça quando ouviu seu nome. Um rapaz que parecia ser novo demais para ser médico estava parado ao lado da mesa da recepção, com uma prancheta em suas mãos e com um olhar cansado enquanto tentava desvendar quem era a pessoa que estava chamando.

— Aqui.

Jacob se colocou de pé e seguiu o médico — Dr. Newton, como informava o crachá — pelo corredor da emergência. Alguns cubículos separados por cortinas depois e ele se encontrava diante do mendigo que tinha trazido até o hospital e uma enfermeira que terminava de fazer um curativo no corte que há alguns minutos atrás sangrava.

— Bom senhor Black, seu amigo ficará bem, apenas terá que cuidar direito de seus ferimentos para que eles cicatrizem bem e o deixe livre de cicatrizes mais para frente. Não foram necessários pontos na testa ao contrário do corte no abdômen, que foi profundo. Felizmente nenhum órgão foi atingido, mas receio que ele sentirá dor por alguns dias — Jacob escutava com atenção, olhando de relance para o homem sentado na maca. — Estamos apenas esperando o resultado da tomografia para podermos dar alta.

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— Obrigado, doutor.

Quando ele falou o mendigo virou para encará-los. O médico fez um gesto com a cabeça e seguiu para atender seu próximo paciente.

Jacob cruzou os braços. A princípio ele não havia se dado o trabalho de prestar atenção nos traços do rosto do homem cuja vida pensava ter salvo, mas enquanto dirigia pela cidade o mais rápido que podia ele percebeu o quão familiar ele lhe pareceu. Então agora, enquanto esperava que a enfermeira terminasse de fazer seu trabalho para poder conversar com o sujeito, ele se perguntava como não tinha percebido quem era que tinha tirado da rua.

— Prontinho! — a voz feminina o tirou de seus pensamentos. — Tente não fazer nenhum movimento brusco para não romper os pontos, certo? Volto daqui a pouco para dar o analgésico.

— Obrigado — o mendigo respondeu, deixando os ombros relaxarem.

— Se sente melhor agora, Edward? — Jacob perguntou, puxando o banco em que a enfermeira estava e sentando-se nele.

— Porque me chamando assim? Quem é Edward?

— Bateu a cabeça muito forte, foi? Perdeu a memória? Não se lembra de mim? Sou Jacob, seu amigo.

— Sim... Eu acho que perdi. Não me lembro de você. Não te conheço.

Ele riu. Riu como se alguém tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo. Mas o olhar sério que Edward lhe direcionava fez com que a bobeira que sentia se esvanecesse em segundos.