Lua

Who We Are - Imagine Dragons

Não era hora de descansar, enquanto o Segundo dia na Arena tinha início. Lunara correu por toda a extensão leste da Arena, alcançando desde a Conurcópia até a floresta que se estendia por infindáveis árvores altas. A neblina da manhã ainda flutuava sobre suas copas, e os trilhos da montanha-russa seguiam cada vez mais distantes do centro da Arena. Logo alcançaria o limite da Arena. Não era esse seu objetivo, era apenas encontrar uma fonte de alimento. A floresta deveria ter seus animais, principalmente por ter permanecido intocada durante séculos. Parou para respirar fundo. Sua lista de posses era pequena, apenas as roupas do corpo e algumas pedras que atirava nos galhos mais obscuros, com esperança de assustar algum animal e ter notícias de vida naquela região, entretanto até o momento não vira esquilos, corças ou mesmo pássaros cantando. Apenas o silêncio das árvores e o som dos galhos se quebrando debaixo de seus pés.

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As folhas possuíam uma coloração mais escura e poucos feixes de luz conseguiam ultrapassar o oceano verde e alcançar o solo. Estava muito escuro ali, mesmo ela sabendo que já amanhecia. Continuou caminhando, sozinha, até começar a ouvir um leve ruído. Levou minutos para que compreendesse que tipo de ruídos eram aqueles e começasse a correr em direção ao som. A nascente borbulhava água, a qual era tão transparente que Lunara conseguiu ver todas as pedras em seu fundo e todos os pequenos peixes nadando calmamente. Ajoelhou-se diante das águas e bebeu-a com as mãos em concha. Estava gelada e aquilo renovou suas forças, aproveitando para lavar os pés e os cabelos. Lunara sentou-se e começou a vasculhas os gravetos, em busca de algum que fosse suficientemente grosso e pontiagudo para pescar algum dos peixes. Eram todos muito pequenos e provavelmente não teriam muita carne, mas era melhor que nada.

Encontrou o que tanto procurava. Adentrou o pequeno lago e esperou. As barras da calça estavam dobradas até os joelhos e ela respirava quase sem erguer ruídos. As águas aos poucos foram parando, dando espaço a apenas o silêncio das árvores. O vento passava rápido acima de sua cabeça, e a neblina ia se assentando, permitindo que o céu azul fosse visto. A chuva de mais cedo havia revelado a bela primavera. Um peixe um pouco maior se arriscou a nadar próximo a ela, e foi o momento em que Lunara se preparou, porém ele sentiu as vibrações na água e se afastou. Ela teria de ser mais cuidadosa. Esperou. Pescar levava tempo, muito tempo. Talvez minutos, talvez horas. Tudo dependia dos peixes e do pescador, caso um fosse mais esperto que o outro. Por isso pescar sempre foi uma atividade que a fascinou. Após duas horas curvada, agora já com os raios solares queimando suas costas, Lunara enfim fincou um peixe no fundo da nascente, ele era grande o suficiente para ser devorado, porém bravio. Lutou com todas as forças, mesmo com um buraco em seu corpo, ele não desistiria. Até que o sangue se esvaísse completamente e Lunara conseguisse pegá-lo com total liberdade. O colocou sobre uma pedra e observou as escamas. Não tinham coloração chamativa, e ele não parecia possuir armadilhas em seu corpo, o que lhe dizia que era um peixe bom para comer. Com uma pedra um pouco menor, amassou a cabeça do animal e arrancou-a aos poucos. Depois lavou e começou a tirar-lhe a pele, usando as unhas. Era muito mais complicado sem uma faca.

Levou mais meia hora apenas para retirar a pele de uma pequena parte e então retirar também os órgãos, deixando apenas a carne. Ela não era branca como pensou que seria, mas tinha de dar um desconto. Mergulhou os pedaços na água e enfiou-os goela abaixo, ignorando o gosto. Tudo o que conseguia aproveitar, comeu. E os restos, deixou em um montinho, todos esmagados, uma oferta para o próximo animal que passasse por ali.

Decidiu permanecer com o graveto, que mais parecia uma lança, embora curvilínea. Poderia fazer uma ponta nele, caso encontrasse uma pedra afiada o suficiente. Entretanto todas as pedras pareciam arredondas demais ali, por isso apenas se levantou, limpou as roupas e recomeçou sua caminhada, ignorando o fato de que estava voltando para a região central. Não havia muito por aqueles lados, ela havia concluído, mas descobrira água e uma pequena fonte de alimentos. Isso significava muito para a Arena, deveria manter o domínio sobre esses recursos. Logo, também deveria conhecer seu terreno.

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Lunara já havia planejado o que faria: deixaria que os Carreiristas acabassem com os tributos, enquanto ela engordava em seu canto na floresta. Quando restassem poucos tributos, poderia colocar em dia suas habilidades adquiridas na Capital: manusear uma lança era fácil, desde que tivesse uma decente. Os Carreiristas já estariam fracos e cansados de correr atrás dos demais tributos. Bastava saber aproveitar suas oportunidades.

Lunara começou a marcar as árvores pelo caminho, formando uma espécie de trilha. Sabia que os animais marcavam o território quebrando galhos em um formato específico ou urinando no local. Ela iria contornar as árvores com pedras. Todas do lado direito, formando um colar para a floresta. Quem não olhasse para baixo, jamais imaginaria. Cobriu as pedras com folhas e terra, enterrando-as para que apenas a parte de cima fosse vista. A diferença era mínima entre as árvores suas e as demais árvores, por isso se sentiu orgulhosa do trabalho e continuou, até alcançar cem metros. Depois limitou mais cem metros e em seguida mais cem, aprisionando sua nascente em uma espécie de caixa. O Sol já estava muito alto quando terminou.

Deveria retornar para seu abrigo e pescar mais um peixe, antes que a noite caísse. Enquanto retornava, Lunara começou a memorizar a quantidade de árvores até a nascente, contanto. No total, foram noventa e cinco para a esquerda, cento e vinte para a direita, sem contas as que ela não marcou por estarem muito afastadas. Dividiu seu quadrado de árvores entre Norte, Sul, Leste e Oeste. A parte Norte deveria ter cinquenta e duas árvores, a parte Leste setenta e a Oeste setenta e cinco. O Sul possuía o dobro de árvores, cento e quarenta, e quando mais e mais ao Sul, mais as árvores iam se aglomerando, o que a fez imaginar que a floresta seria muito mais antiga e muito mais povoada para aquela região. Mas não se aventuraria.

Encontrou, entretanto, sua nascente invadida por estranhos. Os dois bebiam a água e mergulhavam suas mãos, conversando baixinho entre si, enquanto apenas o ruído do leito era ouvido. Lunara observou-os bem. O rapaz parecia ter a mesma altura que ela, embora a menina fosse menor. Ela segurava um saquinho plástico e enfiava a mão dentro dele para logo em seguida levar a boca. Lunara queria aquele saquinho. O menino se levantou e chutou algumas pedras, falando algo, enquanto se distanciava. Ele adentrou a floresta e caminhou mais um pouco, parando em frente a uma árvore, arriando a calça e começando a urinar. Lunara segurou fortemente sua lança improvisada.

Não mataria por prazer, mas mataria quem invadisse seu território.

Aproximou-se por trás e bateu violentamente o galho contra a nuca do menino. Ele cambaleou para o lado, subindo as calças e em seguida olhando em volta, desorientado. Golpeou-lhe novamente, no rosto, e ele gritou. Isso deve ter avisado sua aliada, pois Lunara a ouviu gritar seu nome. “Alain”. Empurrou-o contra a árvore acertando a boca de seu estômago e em seguida segurou a lança com ambas as mãos e avançou com ela erguida, prendendo a garganta do rapaz. Alain se debatia, tentando agarrar-lhe os braços ou o rosto, mas Lunara apenas mordeu seus dedos e arrancou-lhe sangue. Ele sangrava não apenas nas mãos, mas também no rosto, com a boca aberta em um grande ferimento. Suas bochechas começaram a ganhar diversas linhas finas e avermelhadas, suas veias. Os olhos saltados, a língua querendo saltar da boca. Ele se debatia, e era forte, claro que era forte. Por um breve momento quase conseguiu se livrar, porém Lunara bateu na lateral de sua cabeça e ele apagou imediatamente, começando a tremer no chão. Seus braços se esticaram e seus olhos se vidraram, enquanto sangue jorrava de sua boca. Ele havia mordido a língua, e estava em um ataque epilético.

Lunara terminaria o serviço sujo, caso a exclamação não tivesse saído da boca daquela garota. Ela havia encontrado-os e estava parada, estancada e apavorada. Seu rosto se contorcia em uma expressão de nojo e horror. Quando notou que Lunara a olhava, deu alguns passos para trás e começou a correr, o mais rápido que conseguia. Lunara não teve dúvidas, correu atrás dela. E não foi difícil de encontrar. Uma menina pequena e fraca como ela quebraria o tornozelo ao correr por uma floresta, completamente desesperada. A garota guinchava, soluçava, chorava e implorava por sua vida.

– Por favor... Por favor...

Mas Lunara estava lhe fazendo um favor, ela jamais conseguiria sobreviver com um tornozelo quebrado, ainda mais quando o osso estava saltando para fora da pele e sangue jorrava do ferimento. Por fim, deu-lhe um golpe de misericórdia, apagando-a. Desmaiada, a menina morreria em paz. Lunara se ajoelhou e pressionou as narinas da garota, até que seu canhão soasse e ela morresse, em quase um ou dois minutos. Lunara retornou a nascente e encontrou o rapaz agonizando em seus últimos minutos. Ele cuspira muito mais sangue que o tornozelo da menina, e a cena era péssima. Seu corpo inteiro tremia, embora não em um ataque, mas sim de frio e dor. Seus olhos reviravam nas órbitas e ele vomitava seu interior. Por fim, o canhão dele também rugiu aos céus, após cinco minutos. Lunara viu tudo e acompanhou a passagem da vida dele para a morte.

Olhou a lança, que havia resistido tão bem a tudo. Era uma boa arma, de verdade. Nem precisaria afiá-la. Retornou a nascente, sentou-se em seu leito e começou a lavar o sangue de seus pés.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.