Get Back

Mr. Pluto and the Magnificent Need of Explosions


Os dias escapavam pelos dedos entrelaçados das mãos de ambos.

A ideia de fugir flutuava a anos-luz de distância. Talvez fosse alguma coisa no magnetismo de Saturn. O jeito como ela sempre fazia ruídos adoráveis quando triturava o gelo da limonada com os caninos pontudos. O tom róseo que tingia suas bochechas quando passava a ponta dos dedos sobre as páginas de papel pardo rabiscadas por ele, cuja a única inspiração era ela própria. Talvez fosse seu gosto musical impecável ou o quanto ela parecia destrutiva.

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Foi na quinta-feira antes das coisas começarem a acontecer quando o primeiro “eu te amo” ricocheteou pelas vísceras de Jojo.

Tão piegas quanto tinha que ser, tão previsível quanto tinha que ser.

E Saturn não arregalou seus olhos de caleidoscópio simplesmente porque sabia.

E Saturn não disse se o amava de volta simplesmente porque não sabia.

Mas estava tudo bem. Porque eu te amos são explosões em palavras e não precisam de recíproca.

Não quando se trata de garotos magrelos e poemas que respiram.

Não quando se trata de mariposas idiotas e libélulas majestosas.

Não quando se trata de Jojo Harris e Saturn Wroblewski, saturno e plutão, por assim dizer.

...

Quinta-feira

(antes das coisas começarem a acontecer)

O alvorecer tingia o céu de lilás como a cor das veias nas pálpebras da própria Saturn.

De cima do telhado, ela fitava uma roseira amarela no jardim vizinho e ele, tragando seu último Marlboro, contornava a silhueta de Saturn no ar com o dedo indicador, pensando que talvez fosse uma imagem bonita de se desenhar mais tarde.

“Você pode pintar sobre mim e eu ainda estarei aqui”— ela disse sem desviar os olhos da roseira – Sabe o que isso significa?

Jojo, apartado de seus devaneios:

— Não, acho que não parei pra pensar sobre o significado. É meio óbvio, não é?

Alguns segundos de silêncio perpetuaram no telhado.

— Deixa quieto - ela deu de ombros.

Saturn se estirou sobre as telhas verde-escuras da casa de Jojo e lhe pediu um trago de seu cigarro. Ele engatinhou cautelosa e desajeitadamente pelo telhado até onde ela estava e pousou sua mão sobre a dela. Lhe estendeu o cigarro:

Eu te amo— ele disse e se sentiu subitamente exausto.

E os olhos dela não se arregalaram.

Mas estava tudo bem porque os dele também não quando ela ficou em silêncio.

E mesmo que ele sempre orbitasse a atmosfera de Saturn, Jojo pôde sentir pela primeira vez que um vácuo tão imenso quanto Júpiter tinha se instalado entre eles.

Ela pegou o cigarro dos dedos finos de Jojo e tragou três longas vezes, sentindo o gosto amargo de nicotina.

— Acho que você devia ir.

...

Ele abriu os olhos e sua cabeça latejava.

As mariposas mortas dispostas no carpete com cheiro de naftalina do quarto de Jojo lhe causavam náuseas (e uma inveja meio medíocre também).

Uma pressão em seu peito o fez acreditar que o vazio talvez tivesse criado forma.

Ele fechou os olhos novamente.

Ouviu o barulho de chaves no andar de baixo.

Não se preocupou em tentar esconder as garrafas vazias e as revistas meladas.

— Joffrey? Joffrey, você está aí em cima?