Um raio de luz adentrou a sala, iluminando o local e me tirando dos meus devaneios matutinos. Uma brisa gelada veio junto me arrepiou por inteiro, acho que justamente por dormir sem camisa. Sonolento, levantei da cama e fechei um pouco para que não fizesse tanto frio e fui ao banheiro. Olhei bem no espelho meu rosto, notando que provavelmente uma vaca lambeu meu cabelo e agora ele fazia um topete escroto no topo da minha cabeça.

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Não ligando pra isso, dirigi ao box e liguei o chuveiro. Senti cada gota repelir na minha pele, sem mexer um só músculo, assimilando toda a semana com um sorriso no rosto.

Depois da coroação, tudo se ajeitou magicamente, e parecia que nada ocorreu naquele fatídico dia. Todos voltaram á sua rotina, e basicamente eu também. Mas não era isso que me deixava com uma cara de bobo enquanto a água do chuveiro ficava cada vez mais quente, queimando minha costas sem que eu ligasse.

Eu tive meu primeiro beijo com Evie, e isso seria inesquecível. Era como se eu nunca tivesse beijado ninguém -e queria que nunca tivesse- e me sentia como uma menininha num conto de fadas, imaginando todos os meus dias com um lindo príncipe, só que ao contrário. Uma linda princesa.

Não foi o que todo mundo pensa depois de um beijo. Tipo "depois que se beijaram, viveram felizes para sempre, tiveram 3 filhos e uma família de cachorros composta por 2 cachorros, pai e mãe, e 5 filhotinhos". Ficamos abraçados por um bom tempo. Eu sentia cada vez mais a essência de Evie e ela afundava mais e mais o abraço, como se eu fosse seu porto seguro.

Mas no fim, a vida nos avacalha.

Victor chegou de repente, dando um susto em mim e Evie, que caimos um por cima do outro. Enquanto ele ria maléficamente por sua primeira travessura, eu tentava me desvencilhar de cima de Evie. O rosto dela estava da cor de um pimentão e gaguejava, muito nervosa. Mas ela estava melhor do que eu. Eu estava tão nervoso, que eu -senti um dejavú- parecia um pincher, aqueles cachorrinhos que vivem se tremendo, além de estar suando, sem falar do meu rosto com um vermelho de tom indecifrável.

Depois de um bom tempo tentando fazer alguma coisa, sai de cima de Evie e levantei ela super preocupado e ainda bem nervoso. Mas o nervosismo passou de vergonha pra raiva quando, logo depois de me despedir de Evie, encarei Victor com meu pior olhar de fúria e sair correndo atrás dele. Victor correu como ninguém, mas eu o alcancei e dei-lhe uma bela lição. Talvez um dia ele saia de cima daquela árvore e encontre suas roupas. Espero que nunca faça isso.

Foi, no final, bem engraçado. Eu e Evie nos encontramos na aula do dia seguinte e rimos muito daquele momento. Era uma lembrança constrangedora, mas bem engraçada. Ficamos conversando a aula toda, sempre tomando cuidado com o professor, sobre várias coisas, até mesmo da própria aula. Tudo na melhor empolgação.

Nos aproximamos muito essa semana. Ela ora ou outra sentava perto de mim nos intervalos, ou eu sentava com ela e os novatos. Havia descoberto bastante coisa não só dela, mas de todos eles. Já me consideravam um bom amigo e eu fiquei super feliz por isso. Irônico ou não, eles pareciam pessoas extremamente boas e de bem com a vida, com uma aura de alegria que eu queria sentir muito daqui pra frente.

Senti a hora passar rápido demais. Banhei logo e desliguei o chuveiro. Enrolei uma toalha na cintura e outra enxuguei meu cabelo, desfazendo o topete de vaca-lambeu. Peguei uma blusa preta da gaveta e uma jaqueta jeans escuro com mangas brancas que Evie havia feito pra mim -e eu guardava com todos carinho, passando ela todos os dias- , fui até outra gaveta e puxei uma calça jeans escuro larga e peguei, pela primeira vez, um boné que meu pai tinha me dado e que eu nunca usei. Vesti tudo e olhei no espelho. Não parecia eu, mas eu me senti bem diferente com aquilo. Me sentia um pouco mais livre, apesar de não ter o costumeiro visual nerd.

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Peguei meu óculos, porque era uma das únicas coisas que eu não podia largar -ou eu iria cair em tudo pela frente- e capturei o celular em cima da mesma cômoda em que eu peguei a calça.

Olhei as horas e ainda era 7:00, me encontraria com ela ás 9:00. Não específicamente com ela... Ainda não estamos saindo e etc. Mas Ben, Mal, Jay, Carlos e Evie me convidaram para ir junto com eles até o lago. Iam fazer um passeio, tipo sentir a natureza, relaxar e essas coisas.

Deitei na cama com um pulo e comecei á fuçar meu próprio celular, á procura de passar o tempo. Fui na busca de contatos e olhei bem para o que estava escrito "Evie Maravilhosa". E não fui eu que coloquei, ela fez questão de anotar o número dela com esse nome. Uma palhaça, mas eu gosto disso.

Olhando para aquilo, lembrei de uma coisa importante. Levantei da cama e fui até a lixeira do quarto. Procurei dentre várias bolinhas de papel sua cor magenta e encontrei lá no fundo. Por sorte, só uso essa lixeira para papel. Peguei e trouxe de volta á superfície.

Voltei pra cama, deitei minha cabeça no travesseiro e limpei a pequena caixa no lençol. Estendi-a no alto e lembrei do porque eu havia feito.

Eu estava correndo, atrasado para a aula de Ed.Física, quando encontrei algo no chão. Era um colar com uma pedra esmeralda fincada num aro dourado que mais parecia uma raiz de planta. Peguei ele, imaginando ser de alguém, coloquei no bolço da calça e corri para a aula de Ed.Física.

Durante a aula, por um breve momento, enquanto eu admirava o colar, tive um desejo estranho de ir até o lago.

Esse desejo me atormentou até o final do dia.

Então, querendo saciar minha curiosidade, guardei meus materiais no meu quarto, peguei o colar e fui até o lago. Fui andando, apenas por instinto.

Quando cheguei lá, já era um pouco tarde, o céu estava numa cor estranha, cor de aurora, uma cor magenta. O lago refletia o céu, mas mantinha uma aparência cristalina e pura como sempre.

Sentei-me á margem e esperei acontecer. Nada.

Respirei fundo e pensei do porque eu estava ali, um sentimento bobo de apenas ver o lago novamente?

Peguei o colar de novo. Olhei bem para ele, vendo o reflexo do meu rosto nele. Agarrei ele com força e o joguei, o mais longe que eu pude, na direção do lago.

Ele quicou e quicou até chegar ao centro. Afundou e eu esperei que ele afundasse por completo.

Então, dei meia-volta pensando que nada aconteceria. Mas escutei uma voz ao longe, sussurrando para que eu ficasse.

Achei estranho de início, então quando eu me virei novamente, vi um tipo de menina, mas eu não via seu rosto, como se eu a visse de longe. Ela me chamava pra perto.

Caminhei lentamente até ela, não cheguei a entrar no lago, mas me vi de novo na margem do lago.

Foi a vez dela chegar caminhar até mim. Á cada vez que ela chegava mais perto, mais ficava definida, e agora eu via seu rosto. Era uma jovem muito bonita.

–Você jogou aqui. -Ela disse. -Deveria dar pra alguém que você goste.

–Que eu gosto? -Disse eu, ainda admirado com ela. -Mas quem?

–Você vai ainda encontrar ela. E você vai saber quem é ela. -Disse e com um sorriso se despediu de mim.

Fiquei olhando a esmeralda confuso. Ela disse pra dar a alguém que gostasse... Que eu ainda fosse conhecer?

Antigamente eu não entendia nada daquilo. Nem mesmo sei se foi mesmo de verdade. Mas eu estava esperando por ela, a pessoa que eu daria. Fiz essa caixinha magenta, da cor do céu naquela noite, e guardei o colar aqui dentro.


Abri a caixinha, entrelaçando o colar entre meus dedos. Era tão bonito quanto eu lembrava. Hoje eu retornaria lá. E eu entregaria para quem eu gostasse.

A menina no lago. Tinha cabelos puramente azuis. Rosto perfeitamente definido.

O corpo eu não via, mas a silhueta era a mesma. Os olhos cor de avelã penetrantes.

Era Evie, quem eu mais gostava. E eu entregaria á ela.