Mascarade
Capítulo 16 - Valsa em quatro tempos
Renée chegara na ópera carregada de sacolas. Havia algumas semanas desde que aparecera na última vez, mas ela parecia mais animada que nunca. Chamou Blanche, Colette e Camille para se juntarem a ela no camarim, depois dos ensaios e entregou uma sacola a cada uma delas. Com seu rosto efusivo, esperou a reação. Cada uma abriu sua sacola e retirou a fantasia que havia dentro. Blanche se deparou com uma colorida divertida fantasia de borboleta. Haviam “asas” atadas ao vestido e às luvas, que abriam quando levantava os braços e uma tiara de arame que imitava antenas. Camille, por sua vez, recebeu um vestido com saia de pétalas, apesar de um pouco mais curto, e uma toca de flor na cabeça. Colette tinha uma cauda de sereia e um arranjo dourado na cabeça, algo que Renée chamou de peixinho dourado.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— E então? - perguntou ansiosa.
— Ficou divino! Como você conseguiu? - perguntou Camille.
— Eu disse que era talentosa. Mas ainda não estão prontas. Preciso que experimentem para que eu faça alguns ajustes, principalmente na cintura, no peito e no quadril.
— As moças colocaram as fantasias, enquanto Renée fazia alguns ajustes com alfinetes que trouxera.
— E então, temos alguma novidade por aqui? - perguntou.
— Parecem que já decidiram o próximo espetáculo depois do baile. Pelo que ouvi Mme Giry falar, será Fausto - disse Colette.
— Fausto? Esperava algo maior - disse Renée, um alfinete entre os dentes.
— Como o que? - perguntou Blanche e a outra deu de ombros - Teremos também novas medidas de segurança. Nossas fantasias serão lavadas em químicos, para evitar que peguem fogo.
— Não acredito! Isso ficará medonho! - replicou Renée.
— Eu sei, mas minha mãe está me obrigando a usá-las - disse Camille.
— Pois eu não usarei! Prefiro morrer queimada a aparecer desalinhada sobre o palco. E quanto à perfeição? - disse Renée.
— Mas é o jeito. Teremos que usar e ponto final - disse Blanche.
— Hey, cuidado! - disse Camille, sentindo uma pequena alfinetada.
— Desculpe, querida, mas já estou acabando.
Depois que as três foram devidamente medidas, Renée recolheu novamente as fantasias e se pôs a caminho de casa. Disse, animadíssima, que trabalharia sobre elas durante a semana. Camille também se foi, disse que a mãe estava esperando. Colette também saiu. Ela já havia esquecido Jared e começava a frequentar a casa de um artista, ao lado do teatro.
Blanche havia ficado com a tiara de borboleta. Ela colocou na cabeça e ficou se admirando. Ela gostava de se imaginar como uma borboleta em Le Papillon e começou a dançar como em um dos números do ballet.
— O que está fazendo? - era Erik, se aproximando.
— Você me assustou - ela disse, parando de dançar - Eu estava aproveitando um pouco a minha fantasia para o baile.
— Ah sim, o baile… - ele disse.
— Você vai? - ela perguntou, se aproximando.
— Aquele baile celebrado pela minha ausência na ópera? O mesmo baile que estará repleto de pessoas? - seu tom era de ironia.
— Oras, qual o problema? Você nunca sai lá de baixo e essa é uma ótima oportunidade para interagir com outras pessoas. É um baile de máscaras, ninguém vai te reconhecer, nem te julgar, mesmo se for sem a máscara.
— Eu não tenho interesse - ele disse.
— Vamos lá! Você não pode ser assim. Todos da ópera estarão lá - ela disse.
— Christine estará? - ele perguntou.
— Creio que sim…
— Então eu vou.
Blanche se sentiu magoada. Ele só iria por causa de Christine.
— Isso é bom. Você poderá comer no banquete e dançar um pouco também.
— Eu não danço - ele disse.
— Nem com Christine?
— Ele engoliu em seco. Erik adoraria dançar com a cantora.
— Não me diga que não sabe dançar? - ela perguntou, brincando. Logo percebeu que era verdade - Não sabe dançar?
Erik não respondeu.
— Venha, eu lhe ensino. É fácil.
Blanche colocou a mão dele em sua cintura e apoiou a sua em seus ombros. A outra mão agarrou a mão enluvada do Fantasma e olhou fundo em seus olhos. Erik demorou para esboçar alguma reação, assustado pelo contato com a bailarina, mas quando tentou se soltar, ela o segurou. Ele olhou para ela e ela mantinha seu olhar nele. Ele tentou desviar o olhar, mas ela não deixou.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Nunca olhe para baixo ou para os lados. Olhe apenas para mim. Um… dois… três… quatro… Isso…
Ela começou a guiá-lo devagar. Às vezes ele tentava olhar para baixo, distraidamente, mas ela era tirânica como Mme Giry quando ensinava. Ela começou guiando-o, para marcar o compasso, mas o Fantasma era mais travado do que ela imaginava. Não demorou para que ele pisasse em seu pé. Uma fisgada de dor atravessou seu corpo.
— Desculpe - ele disse baixinho.
— Está tudo bem. Continue - mentiu.
Entre um, dois três, quatro, o Fantasma começou a se soltar e pegar o jeito. Porém, como ainda principiante, ele ia um pouco fora do compasso. Sem que ele percebesse, Blanche passou a condução para Érik, que acabou se atrapalhando. Em um desencontro dos dois eles acabaram se aproximando mais que o normal. As bocas próximas uma da outra, os dois conseguiam sentir a respiração do outro.
— Com licença, Srta Blanche - era o Persa, que entrava no camarim. Erik se separou rápido de Blanche e se escondeu nas sombras.
— Persa? - ela perguntou, ainda em posição de dança.
— Erik, o que faz aqui? - perguntou Nadir de modo repreensivo, vendo o Fantasma mal escondido entre as araras. Tinha medo que Erik insistisse em perseguir Blanche.
— Estava o ensinando a dançar. Consegui convencê-lo a ir ao baile! - Blanche disse, animada.
— Você o que? - perguntou o Persa, gargalhando.
— Não há graça nisso, Daroga - respondeu Erik, constrangido.
— Não, claro que não… - o outro concordou, mas ainda continuava a rir.
— Sabe dançar? - perguntou Blanche, tentando minimizar o desconforto de Erik.
— Um pouco - o outro respondeu, com orgulho. Erik apenas revirou os olhos.
— Venha - Blanche puxou seu braço e posicionou-se com o Persa. Ele estava corado, mas não reclamou.
O Persa puxou uma valsa sem som que ele conseguia conduzir muito bem. Blanche estava impressionada. Erik ficou no canto, apenas observando. Ele começou a se sentir incomodado ao vê-los dançando juntos e perceber que se divertiam.
— Não estou aprendendo nada - resmungou Erik, do canto do camarim.
— Está bem - ela disse - Vamos tentar algo diferente - Ela posicionou o Persa e o Fantasma frente a frente, sugerindo que os dois dançassem juntos.
— Estou farto destas banalidades! - disse o Fantasma e desapareceu em uma sombra.
— Blanche riu e o Persa, que ainda estava confuso, riu também.
— Espero que não tenha se irritado - ela disse.
— Acho que não. Devo lhe parabenizar, senhorita. Nunca havia visto Erik dançar e já o conheço há pelo menos 20 anos.
— Sempre há uma primeira vez - ela riu - Mas porque me procurava?
— Estava procurando Erik. Quando desaparece sempre temo pelo pior. Vejo que desta vez foi a pior de todas - ele riu.
— Mas porque veio procura-lo aqui? - ela respondeu.
— Ultimamente eu só o vejo compondo. E quando não está compondo, está vigiando a senhorita. Espero que não veja isso como algo ruim. Creio que ele esteja preocupado depois do episódio com o bailarino.
Ela assentiu.
— Se for assim, fico feliz.
— Creio que deva deixar-lhe sozinha, então. Obrigado pela dança - ele reverenciou e saiu.
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